
Poema Jozailto Lima/Ilustração Ronaldson/Michelangelo
já fui moço.
moço desses de cobiçar a lua
com a vara ainda verde.
sonhava pernas de mulheres.
muitas pernas de todas as cores,
e com sotaques diferentes,
como o do alemão padre paulo
que me levou ao sacramento da pia.
mas não desenhava no céu
uma delas de por minha infinitamente,
assim dona da senha dos meus passos,
amor eterno, contrato de cartório
e bolinhos de feijão com torresmos
macerados a mão no chão da sala
e da cumplicidade.
não arquitetei a virtude do casar.
nem idealizei os capões de cristas
tristes e carnes tenras,
até que a onze horas se abriu em pétalas miúdas
e de vermelho carmim no terreiro da avó
que atou meu destino ao de carmélia.
e dos sete meninos rebentados
de nossa horta, fez-se o nó
que nem o dedo sagaz de deus desata.
mas não era plano matrimoniar-me.
não ser um rapaz velho,
com a crista turva dos capões,
devo aos tufos vermelhinhos da onze horas.
os tufos, como nos inebriam e nos infundem
o fuso do reproduzir-se e nos desviam
do destino redondo e eunuco dos capões.
(Poema inédito)