Aparte
Opinião - A paz no campo construída pela sabedoria e pela transigência de Albano Franco

[*] Luís Fernando Silveira de Almeida

Era 1995. Após uma negociação de conflitos na Usina Santa Clara, na qual realizamos pela primeira vez o cumprimento de um mandado de reintegração de posse sem emprego da tropa da Polícia Militar, fizemos uma visita ao local acompanhando o secretário de Segurança Pública de Sergipe, Wellington Mangueira, sendo recebidos pelos integrantes do MST com bastante cordialidade.

Havia nascido ali uma relação inédita e começava a se estabelecer a confiança e o reconhecimento essenciais ao convívio pacífico. No dia seguinte, sai uma matéria assinada pela jornalista Cristina Almeida, na qual ela registra os parabéns do governador do Estado pelo nosso trabalho. Ele estava no exterior e dizia querer nos cumprimentar quando chegasse a Sergipe. Ponto.

Surge aqui a ideia central deste texto. O que se esperar de um governador nascido na classe alta do Estado, filho de família tradicional, diante de ações que confrontavam os interesses conservadores de sua classe? Acabar com essa história e usar a força coercitiva do Estado para reprimir, como sempre fora feito.

Acontece que esse homem era Albano Franco, que fora presidente da Confederação Nacional da Indústria por 14 anos, ex-senador da República e um camarada com uma visão aguçada dos destinos do país. Do necessário desenvolvimento, da geração de uma massa produtora, geradora de riquezas e, portanto, consumidora a girar a roda da economia.

Não de graça, Albano sofreu ali naquele período pressão das forças conservadoras. Mas deixou que a nova forma de cumprir as decisões, que quase invariavelmente favoreciam os latifundiários, brotasse como uma esperança de não violência, de que o solo que já fora fecundado com o sangue de escravos não mais convivesse com tamanha atrocidade.

A partir daí, um governante empresário bem-sucedido estabelece, como principal autoridade de Sergipe, a paz no campo. Não entendam paz como ausência de luta, pois o MST nunca deixou de lutar. Essa paz foi uma ausência de guerra, de confronto, de violência.

Seria profunda ingenuidade de minha parte acreditar que minha história tomaria o destino que tomou se não houvesse o apoio tácito de Albano Franco. O dele foi o governo mais democrata que conheci nos quase 20 anos de negociação de conflitos agrários de que participei.

Certa vez publicaram um artigo colocando em dúvida meu papel, dizendo “quem sabe esse capitão não está aí para acabar com os acampamentos”. Respondi, no mesmo periódico, que a ideia era exatamente esta, e enumerei os muitos acampamentos que ajudei a acabar e que viraram assentamentos.

O movimento dos sem-terra cresceu em Sergipe, ajudou a colocar alimento saudável em nossas mesas, e num pedaço desse alimento há a coragem, a dignidade e o apoio de Albano Franco. Portanto, faço aqui um agradecimento público a esse homem que ajudou a transformar os meus caminhos. Com qualidades e defeitos, Albano sempre permitiu o diálogo, o contraditório.

Em tempos: onde as falas são cada vez mais altas e, portanto, mais inaudíveis, faço meu agradecimento a esse homem de fala mansa, todavia de visão longa. Um homem de negócios, mas não à custa da violência, da opressão e do derramamento de sangue. Bons tempos. Minha gratidão, governador Albano Franco.

[*] É oficial da reserva da Polícia da Militar do Estado de Sergipe e ex-secretário Municipal da Defesa Social e da Cidadania - Semdec - de Aracaju.

 

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