Aparte
Opinião - Por que Geraldo Alckmin vice de Lula?

[*] Emerson de Sousa Silva

A despeito de qualquer juízo de valor, é compreensível a formação de uma chapa composta por Luiz Inácio Lula da Silva, PT, e Geraldo Alckmin, sem partido.

Além do aspecto simbólico de tentar reeditar o pacto político inaugurado pela Constituição Cidadã de 1988 e de procurar deter o avanço das forças ultraconservadoras vitoriosas em 2018, essa aliança também tem um caráter eleitoral.

E esse último aspecto pode ser sintetizado em apenas uma locução: o Estado de São Paulo. Afinal, desde 1989, em tão somente uma oportunidade, o PT venceu uma disputa para a Presidência naquela unidade federativa, e isso ocorreu no longínquo ano de 2002, na primeira eleição do Lula.

São Paulo tem sido, desde a volta das eleições diretas para presidente em 1989, portanto, o principal estuário do voto antipetista no país.

De 1989 a 2018, em cada turno decisivo, uma média de 27,7% dos votos contra o PT no país tem por berço o solo paulista, ao passo em que somente 19,7% do apoio nacional ao petismo encontra guarida naquelas terras.

Portanto, São Paulo tem ficado mais antipetista a cada eleição. Em 2002, no segundo turno, José Serra, PSDB/SP, ficou com 44,6% dos seus votos válidos; em 2006, em igual oportunidade, o próprio Geraldo Alckmin, PSDB/SP, arrebanhou 52,3% desse total.

Já em 2010, em sua segunda tentativa, José Serra, PSDB/SP, captura 64,1% dos sufrágios válidos no segundo turno no Estado. Em 2014, por sua vez, Aécio Neves, PSDB/MG, surfou em 64,3% e, em 2018, Jair Bolsonaro, PSL/RJ, rouba para si 68% desse mesmo montante.

Então, qualquer analista com um pouco de argúcia reconheceria esse novo viés da aliança Lula/Alckmin: o da tentativa de quebrar essa relutância eleitoral em São Paulo.

E isso é muito importante, uma vez que três quartos da diferença de 10 milhões de votos obtida pelo senhor Bolsonaro sobre o professor Fernando Haddad, PT, em 2018, foi construída justamente no território bandeirante.

Sem São Paulo, a vantagem de 10,3% então concedida ao atual mandatário sobre o seu adversário seria de meros 3,2% dos votos válidos, uma proporção pouco legitimadora.

E mais: caso a dupla Lula/Alckmin viesse a capturar um terço do eleitorado do senhor Bolsonaro em São Paulo, em sendo mantida a situação de 2018 no resto do país, o petista venceria o pleito de 2022, ainda que por uma pequeníssima margem.

Desse modo, mostra-se bastante plausível que os estrategistas eleitorais já saibam que, sem uma ampla aliança de perfil centrista, personificada na chapa Lula/Alckmin, é muito difícil que essa hegemonia conservadora em São Paulo seja rompida e que a derrota de Bolsonaro se concretize.

Então, o mais provável é que negociadores de ambos os lados desse confronto estejam se movimentando no sentido de que as decisões que se referem a essa composição se deem no sentido dos seus respectivos interesses.

Afinal, uma aliança entre Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin modificaria toda a dinâmica do voto no importante Estado de São Paulo e repercutiria sensivelmente no Brasil.

[*] É economista, doutor em Administração e mestre em Economia.

 

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