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Jozailto Lima

É jornalista há 40 anos, poeta e fundador do Portal JLPolítica. Colaboração / Tatianne Melo.

Opinião - “Sinfonia da Desesperança” é melodia melancólica, um concerto grandioso e cheio de drama
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Rian Santos: “Para dar feição a seus contos, Cauê não recorreu à imaginação, pura e simplesmente”

[*] Rian Santos

A seu modo, todo mundo reagiu à pandemia do coronavírus, que ainda está em curso. Um encontrou Jesus, voltou a praticar yoga. Outro virou alcoólatra. Homem de letras, obediente à própria natureza, Carlos Cauê deu vazão ao que faz de melhor e desatou a escrever sobre a tal da peste.

Nos clássicos do gênero, desde Camus e Defoe, até Saramago, a escala do relato abarca a dimensão coletiva da tragédia, sempre beirando o épico.

Carlos Cauê, no entanto, preferiu se ater ao horizonte modesto da convivência doméstica. Mas a decisão reverbera em uma série de acertos - no tom e na forma destes contos, que ele está tratando como crônicas. Também pode ser.

Capa de “Sinfonia da Desesperança”, a ser lançado hoje às 18horas

“Sinfonia da Desesperança” é título que sugere um concerto grandioso, cheio de drama. Mas emociona mesmo como uma suíte de Fred Andrade, uma melodia breve, melancólica.

As circunstâncias permeiam cada conto, naturalmente. Por vezes mais, por vezes menos. Mas é na reação dos personagens, na maneira como cada um lida com a força maior do contágio que as histórias estão assentadas.

Um belo dia, por exemplo, um mendigo desperta numa cidade esvaziada, senhor absoluto de ruas e avenidas. Logo o espanto se transforma em loucura. Em outro conto, um menino é surpreendido com os sintomas mais temidos e acaba isolado no quarto. Ele tem quatorze anos. Sem muito a fazer, se acaba na punheta.

Carlos Cauê: prefere classificar de crônica os textos deste livro

Apesar do andamento comedido, sem a reverberação dos tímpanos, sem o crescendo de cordas e metais, a beleza possível se revela em cada página virada dessa Sinfonia...

Isso porque a humanidade, ‘strictu sensu’, está sempre no horizonte destas histórias. Quase todos os personagens, aliás, recebem nome próprio.

Para dar feição a seus contos, Cauê não recorreu à imaginação, pura e simplesmente. A dor de Dona Olga, Fernando, Rafael, Eduardo, acende a memória recente de cada um dos leitores. E queima. Como só a dor mais real é capaz de arder.

O livro de Carlos Cauê terá lançamento a partir das 18h desta quarta-feira, 22 de dezembro, no Centro Cultural de Aracaju, na Praça General Valadão, Centro.


[*] É jornalista profissional e editor de Cultura e editorialista do Jornal do Dia.

 

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Marcos Moura Vieira
Muito oportuno o tema abordado por Carlos Cauê. Certamente tratará a realidade crua com sensibilidade e poesia. Leitura posta lista...