Aparte
Opinião - Da luz da candidatura de Lula ao mundo triste, pobre e cinzento da rica cidade de São Paulo  

Luis Fernando com Luciana Santos, a vice de Pernambuco, e Lia de Itamaracá, patrimônio nacional da ciranda

[*] Luis Fernando Silveira de Almeida

Na sexta-feira, 6 de maio, embarquei para São Paulo nas primeiras horas num daqueles voos que você sobe para depois descer. Não falo aqui do óbvio. Falo de fazer uma conexão em Recife, onde, na convenção do mapa mundi, o Brasil fica por baixo e os Estados Unidos e Europa por cima. Apenas convenção.

Já na sala de embarque, encontro os amigos Claudionor Santos e Eliane Aquino e conheço Breno Silveira, todos do PT. Um bom encontro, que se estendeu a um bom almoço e um bom papo na Casa do Porco, próximo à Praça da República, onde estávamos hospedados.

Claramente, o objetivo comum de todos era o evento da pré-candidatura do Lula. Eu, em particular, fui conhecer pessoalmente a presidente nacional do meu partido, PCdoB, Luciana Santos, vice-governadora de Pernambuco.

Andei chique naquela sexta, almocei com a vice de Sergipe e jantei com a vice de Pernambuco, mulheres empoderadas que, na minha opinião, é necessário que as multipliquemos pelo mundo, “caminho da salvação”.

No sábado, peguei uma carona com a Luciana, agora já tratada como companheira de partido, e até entrei pela porta das autoridades. De cara, Luciana me apresenta à lendária Lia de Itamaracá. Não ganhei uma ciranda, mas recebi um belo sorriso, um abraço e fizemos uma foto. Os três.

Mais adiante, “descendo” da altura considerável da negra e esguia Lia, encontro uma baixinha-gigante, quanta emoção, a Luiza Erundina, paraibana arretada, mulher, nordestina, primeira e grande prefeita de São Paulo!

Contive as lágrimas, diante de alguém por quem sempre nutri admiração profunda. Ganhei um sorriso e um abraço fraterno e caloroso. Prenúncio de um grande dia.

Abracei vários companheiros do MST, do PT de Sergipe e fui sentar-me em frente ao palco, onde Nádia Campeão e Walter Sorrentino, um casal da direção do meu partido, gentilmente me aguardava.

Foi uma manhã memorável, personalidades de vários lugares, artistas, políticos, dirigentes de movimentos sociais e a militância. Afinal, sem a grande militância não haveria espetáculo.

Destaco, cronologicamente, na minha visão, cinco momentos bastante emocionantes: 1. A entrada de Lula, levando a galera ao delírio; 2. O nosso hino, cantado magistralmente por Teresa Cristina, acompanhada do violonista João Camarero. Genial; 3. O discurso de Alckmin, direto, assertivo, politicamente concatenado, onde disse só haver uma via para esse país, e essa via chama-se Lula. Ao fim do discurso, arrancou risos e foi ovacionado de pé ao dizer que o prato mais saboreado do Brasil seria “lula com chuchu”. 4. O presente de Janja para Lula, apresentando uma nova versão de “Sem Medo de Ser Feliz”, cantada por vários artistas e com belíssimas imagens e 5. E o grande final, com todos se abraçando, cantando e gritando palavras de ordem.

Falei das flores. Mas o contraponto dessa manhã tão bonita foi andar pelas ruas de São Paulo. Quanta miséria, quanto abandono, quanto descaso. Opaca e cinzenta, a cidade mais rica do Brasil não dá conta dos seus.

Na próxima sexta, 13 de maio, comemora-se a abolição da escravatura. Pois bem, passei pela praça que leva o nome da princesa que assinou a lei, e ali estava a contraprova da abolição: miseráveis, drogados, zumbis.

Seria leviano dizer que isso começou agora. Não sou pessoa de fakes. Mas a piora, para alguém que frequenta São Paulo há vários anos, é gritante.

O centro de São Paulo é pior que a senzala. Não fosse a ação de anjos anônimos e outros conhecidos, como o Padre Júlio Lancellotti, poderíamos dizer que estávamos diante do inferno na terra. Uma tristeza de cortar o coração.

E a política repressiva de 50 anos, em vez de trazer soluções, só ganha requintes de crueldade. O tráfico de drogas só aumentou o assassinato de jovens negros nas periferias sem envolvimento com o tráfico. É assustador a morte de policiais. O suicídio de policiais.
Colocaram nas mentes desses bravos profissionais que eles são super-heróis. Não somos. Somos de carne e osso. Temos mães, filhos e filhas, esposas, companheiras, companheiros.

Somos gente e não podemos nos prestar a esse jogo como marionetes. Os projéteis não atingem as mãos de quem os controlam, mas atingem os peitos dos policiais. Seus crânios. E os peitos e os crânios de tantos meninos e meninas, ceifando sonhos, dilacerando corações, destruindo famílias.

Não me venham com o discurso de policiais entregando flores. Seria lindo, mas é ironia. Porém, diante da ameaça às suas vidas e às de outrem, há preparo, treinamento, armas e equipamentos para bem se defenderem e proteger a sociedade.

As mentes que os controlam não acreditam que vocês sejam solução para nada. Somente para a proteção deles contra o povo. As balas, que eliminam suas vidas, não são de prata ou criptonita.

Porque você, policial, é herói, mas não é super. Defenda seu povo, defenda seus iguais, aja na favela assim como no bairro rico. Trate o preto e a preta como ao branco e à branca.

Enxergue no desespero de uma mãe, que em pranto acalanta o corpo de um filho que se vai as lágrimas da sua mãe, acalentando o seu. Ou o de sua companheira, pranteando seu filho, ou sua filha. Ajude a mudar essa realidade! Afinal, “não sois máquina! Homem é que sois!”, como nos ensina a fala de Charles Chaplin.

[*] É oficial da reserva da Polícia Militar do Estado de Sergipe, ex-secretário municipal de Defesa Social e da Cidadania de Aracaju e pré-candidato a deputado federal pelo PCdoB.

 

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