Aparte
Jozailto Lima

É jornalista há 40 anos, poeta e fundador do Portal JLPolítica. Colaboração / Tatianne Melo.

Com a Saúde, Belivaldo Chagas mostra traços de um gestor forte 
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Belivaldo Chagas: “visitarei os órgãos, secretarias e unidades do Estado\"  (Foto: Jorge Henrique/ASN)

Belivaldo Chagas, PSD, iniciou seu Governo nesta segunda-feira, 9, em plena sintonia com o que prometera dois dias antes, no sábado, 7, na solenidade da Assembleia Legislativa em que migrara da condição de vice para a de governador do Estado. Ali, num discurso sóbrio, mas enérgico e direto, Belivaldo foi demasiado claro: “Não terei tolerância com o favorecimento, o descuido, a irresponsabilidade, ou com ilicitudes de qualquer natureza”, disse ele.

E nessa segunda-feira cedo Belivaldo Chagas pegou seu bonezinho e foi atrás da materialização do seu discurso. Foi em busca de descuidos e de irresponsabilidades. Não teve dificuldade, e os encontrou exatamente na Secretaria de Saúde, na qual está Almeida Lima, o primo de Jackson Barreto, e de onde diz-se vir um dos bons exemplos de cuidado com a gestão pública. 

Na verdade, o governador fora movido por um fato real revelado exatamente no dia da sua posse pelo Jornalismo da TV Sergipe: o Centro de Nefrologia do Huse, que fora dado por inaugurado na quinta-feira, 5, com as presenças dele como vice e a do ainda governador Jackson Barreto, com as máquinas de hemodiálise perfiladas e bonitinhas, na sexta-feira, 6, um dia depois, não existia mais. 

Ou não existia ainda. Era um Centro de Nefrologia de araque. No lugar das máquinas, bancadas vazias e os trabalhadores da construção civil com espátulas, martelo, colher em mãos dando retoques e terminando a obra física.

Ali, naquela visita, Belivado disse aos quatro ventos, em pleno horário do jornalismo matinal do rádio sergipano, que aquilo era um absurdo. Era algo inconcebível por ele. Disse que discordava peremptoriamente de tudo e deixou patente que inaugurações de obras inacabadas não cabem no seu estilo. 

“O Centro de Nefrologia foi dado como inaugurado, mas, como constatei hoje in loco, ainda não está funcionando. Houve um equívoco, pois quando fazemos a entrega as pessoas entendem que o serviço será em seguida disponibilizado, o que é normal. Por isso, naquela ocasião, se não estava pronto para funcionar, deveria ser tratado como visita e não inauguração”, disse Belivaldo. 

Ali, ao vivo e a cores, o govenador Belivaldo Chagas disse que o secretário Almeida lhe devia explicações e deu um prazo de até as 17 horas para que lhe apresentasse as justificativas para a estabanada inauguração e que desse as soluções para o real funcionamento. “O que quero agora é uma data efetiva de quando vai começar a funcionar. Quero retornar aqui logo, não para inaugurar, mas para ver as pessoas sendo atendidas”, disse Belivaldo.

Revelando ainda um traço de personalidade próprio e bem forte, Belivaldo Chagas deixou patente que não foi ao Huse apenas movido pela equivocada inauguração do Centro de Nefrologia. Ele fora com a curiosidade do gestor maior do Estado e como aquele sobre quem recaem, enfim, todas as queixas quando os serviços públicos não vão bem.  

E foi com esse olhar que Belivaldo levantou a ponta suja dos lençóis do drama de assistência do Huse. Conversou com pacientes estacionados ali há meses, fotografou datas de chegada deles e deu o diagnóstico duro: o Huse precisa banir definitivamente sua aparência de campo de concentração (a comparação é dele e não desse texto), ter decisões mais proativas, receber as pessoas bem, resolver rapidamente seus problemas, tratá-las e fazer com que voltem para as suas famílias no pleno imediato.

“Fui a diversos leitos e não gostei do que vi. Alguns podem até dizer que eu não tenho conhecimento de causa. Que digam. Um paciente, por exemplo, aguardar três meses para marcar uma cirurgia, isso é desumano. Fiquei chocado e não teria como não ficar, porque tenho coração. Hospital não é hotel, os pacientes não podem passar tanto tempo aqui aguardando atendimento. Fiz questão de estar aqui para ver e sentir de perto. Estou cansado de ouvir que isso será resolvido, e tudo continuar igual”, disse ele. 

“Convocarei uma reunião com o secretário para que ele me explique porque nós ainda estamos nessa situação e saber o que está previsto para acabar com isso que eu vi aqui hoje”, revelou o governador. Não há como negar que o caso do Centro de Nefrologia cai sob medida “no descuido e na irresponsabilidade” de que tratou o discurso de Belivaldo no sábado. Portanto, caracteriza “ilicitudes de alguma natureza”. Mas a visão geral dele sobre o Huse também patenteou o mesmo descuido falado. Em tudo, um pisão no pé do secretário Almeida Lima.

Essa coluna Aparte se recusa a acreditar que Belivaldo Chagas, com estas ações do seu primeiro dia de governador efetivo, esteja fazendo tipo. Querendo chamar a atenção da opinião pública para o seu modo de ser enquanto gestor e esperando retorno eleitoral disso. Isso não é do perfil dele.

“Esse é meu estilo”, defende-se. “Visitarei os órgãos, secretarias e unidades do Estado. Foi assim quando fui secretário da Educação, para verificar o que está acontecendo, buscar soluções e tentar fazer o melhor possível, o máximo possível”, justificou ele.

Essa coluna Aparte tende a acreditar, portanto, que os gestos de Belivaldo nessa segunda-feira apenas revelam e refletem a necessidade de uma reação mais aguerrida frente a determinadas obviedades. Aliás, Belivaldo nada mais fez do que reverberar o sentimento da opinião pública, que de fato se ressente dos serviços ruins que o Estado por vezes ou quase sempre presta.  

Enfim, suas atitudes novamente encontraram sintonia em mais um dos trechos do seu discurso de posse no sábado. “Sou, a partir de agora, por convicção e ofício, o primeiro servidor do povo sergipano. E me farei, sempre em qualquer circunstância, devedor de esclarecimentos”. Começou “esclarecendo” bem. Quem não gostou, que procure fazer melhor.

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