Aparte
Opinião - Esquerda pode fugir do 7x1 na Câmara Federal

[*] André Luis Carvalho

Com as mudanças na legislação eleitoral ficou ainda mais difícil para os partidos elegerem mais de um deputado federal em Sergipe. O fim das coligações e o fortalecimento da direita no estado, fazem com que as expectativas de vitórias para o campo de esquerda fiquem baixas.

Na última eleição o instrumento da coligação ainda estava posto, o que a diferencia fortemente desta eleição. Apesar de não garantir que um voto a um candidato efetivamente elegesse um parlamentar do mesmo campo ideológico, a coligação facilitava o alcance do quociente eleitoral por parte das legendas.

Nosso sistema eleitoral é de lista aberta, ou seja, da lista de candidatos apresentada pelos partidos a prioridade não será dada pelo partido, mas pelo eleitor. O partido deve coletivamente alcançar o tão falado quociente eleitoral, depois disso, as vagas são dadas aos mais votados da lista.

O quociente eleitoral consiste no total de votos válidos dividido pela quantidade de vagas. Na última eleição para a Câmara Federal por Sergipe esse número era de 124 mil votos, número somente alcançado pelo Partido dos Trabalhadores. Nessa eleição, para concorrer às sobras os partidos precisam atingir 80% dessa quantidade, cerca de 100 mil votos na eleição de 2018.

As mudanças na legislação fizeram com que as migrações partidárias fortalecerem justamente os partidos e candidaturas do campo ideológico da direita. União Brasil, Republicanos, PL, PSD, PP e PT são os partidos com maiores condições de alcançar o quociente eleitoral. Da lista, apenas o PT apresenta nomes de esquerda competitivos.

Fora a federação PT/PV/PCdoB, as demais siglas do campo, até o momento, não demonstram fôlego para sequer alcançar os 80% do quociente eleitoral necessário para disputar as sobras eleitorais, cerca de 100 mil votos considerando a eleição de 2018.

PSB e PDT perderam seus nomes mais fortes à Câmara Federal. O do PDT migrou para a União Brasil e o do PSB decidiu concorrer ao senado. Mesmo antes dessas perdas, os partidos já apresentavam pouquíssimas condições de êxito.

O PSOL, partido de esquerda em ampla ascensão no estado, apesar de oferecer nomes de qualidade, dificilmente chegará ao mínimo necessário para disputar as sobras de vaga. Em 2018, sem compor coligação, os dez candidatos do PSOL alcançaram juntos apenas 20 mil votos, número que tende a crescer nesta eleição.

Apesar do potencial do crescimento, os esforços do PSOL dificilmente trarão êxito. Realidade oposta às condições do partido na disputa por cadeiras na Alese, onde o partido não deverá ter dificuldade em conseguir uma vaga, tendo potencial, inclusive, de alcançar uma segunda cadeira.

Na última eleição, o PT conseguiu mais de 135 mil votos, sendo o único partido a atingir o quociente eleitoral. No pleito o partido apresentou apenas três candidatos, devido às limitações impostas pela coligação da qual o partido fazia parte. Nesta eleição, o partido deverá apresentar até nove candidatos para maximizar as condições de eleger dois candidatos.

Eliane Aquino e João Daniel são os principais candidatos da federação do PT. A opção do partido em oferecer dois nomes fortes, com diferentes formas de pensar a esquerda, torna o PT a opção do eleitor desse espectro que não quer arriscar uma bancada sergipana com apenas um nome de esquerda.

Eliane representa um eleitorado de esquerda antenado com as novas demandas de representação identitária, inclusive podendo contar com eleitores tradicionalmente do PSOL. A candidata demonstra potencial para alcançar, na capital, a votação próxima aos 44 mil votos que Adelson Barreto obteve em 2014.

João Daniel, ligado ao MST e à agricultura familiar, representa a tradicional esquerda focada na representação trabalhista de identidade coletiva. João deve ir melhor no interior do que na capital, como aconteceu em 2018.

Para a esquerda, é fundamental que o PT amplie a votação que obteve em 2018. O pleito passado demonstra que há votos suficientes para que o partido eleja dois parlamentares, para isso, é fundamental que os partidos e políticos de esquerda se esforcem no sentido de não “desperdiçar” votos. É isso ou aceitar um “7x1” na bancada federal.

[*] É cientista político pela Universidade de Brasília.

 

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