Aparte
Opinião - Por uma intervenção consciente no Brasil. Mas do eleitor

[*] Adalberto Vasconcelos Andrade

“Que continuemos a nos omitir da política. É tudo o que os malfeitores da vida pública mais querem”. Bertold Brecht

Que país é este? Para entender a origem desta frase, é preciso voltar quatro décadas na história política do Brasil.  Em 1975, três anos antes de Renato Russo escrever a canção, o ex-governador de Minas Gerais, Francelino Pereira - então presidente nacional da Aliança Renovadora Nacional - Arena -, partido ligado aos militares - pronunciou pela primeira vez a famosa pergunta “Que país é este?”.

O questionamento de Francelino foi uma crítica direta aos que punham em dúvida a promessa de então presidente da República, Ernesto Geisel (1974-1979), de promover a abertura política e a transição da ditadura para a democracia. “Que país é este, que o povo não acredita no calendário eleitoral estabelecido pelo próprio presidente?”, disse ele, na época deputado federal.

O fato é que no ano seguinte, Geisel fechou o Congresso, aumentou o mandato dos presidentes para seis anos, e decidiu que um terço dos senadores seria indicado pelo presidente - os conhecidos biônicos. O Brasil só passou a eleger governadores pelo voto direto em 1982.

Nesse período da história, o país contava com apenas quatro partidos políticos de oposição: PMDB, PDT, PTB e PT. Por força desses partidos, no ano seguinte surge o movimento “Diretas já”, cujo objetivo era o da retomada das eleições diretas ao cargo de presidente da República.

Mesmo sendo marcado por forte apelo popular, as eleições diretas só ocorreram em 1989, quanto Fernando Collor de Melo saiu vitorioso. A eleição presidencial de 1985 foi a última ocorrida de forma indireta, por meio de um colégio eleitoral, marcando o fim da ditadura militar iniciada em 1964.

Tancredo Neves é eleito, mas não chega a assumir, morrendo antes da posse. Em seu lugar, governa José Sarney. Em 1987, a banda Legião Urbana lança sua famosa canção. Collor assume o comando do Brasil em em 15 de março de 1990, mas logo seu governo é marcado por uma série de denúncias de corrupção.

Mais uma vez, atos públicos ganham as ruas em um movimento que ficou conhecido como “os caras pintadas” - de verde e amarelo. Collor renúncia em meio a um processo de impeachment e seu vice Itamar Franco assume.

Recentemente, mais um movimento repercutiu pelo Brasil afora: o panelaço. Este não tomou conta das ruas, mas das janelas dos apartamentos. Mas por que não há panelaços contra Temer?

Simples: todo aquele teatro não era exatamente contra corrupção. Era contra o PT e Dilma Rousseff. Qualquer coisa servia de pretexto para aparecer nas janelas dos apês com uma panela e fazer barulho. Uma vez atingido o objetivo - o impedimento de Dilma -, a classe média reacionária se calou.

Só que o tiro saiu pela culatra. Mas aonde eu quero chegar com tudo isso? Alcançar dois objetivos: mostrar a importância dos movimentos populares - mas sem que os eleitores se deixem levar pela emoção. Que não sirvam de massa de manobra de políticos mal intencionados.

Segundo, lembrar que a estrada foi longa e sofrida para consolidar a democracia no Brasil. Mas ela corre perigo. É grande o número de pessoas que, por falta de conhecimento, ou por descrédito na classe política, pede a volta dos militares no comando do país.

Nada justifica uma intervenção militar e nem o deputado Jair Bolsonaro aparecer no cenário político como pré-candidato a presidente da República - pegando carona no caos político e econômico em que o país se encontra -, com um discurso radical, sensacionalista e puramente eleitoreiro. Quer passar a imagem de “salvador da pátria”.

Mas o Brasil não precisa de falsos heróis, e sim de políticos honestos e comprometidos com as causas populares e a com coisa pública. Bolsonaro está confundindo o Palácio do Planalto com um Quartel General. Chega de falácias. Já nos basta a triste lembrança daquele que se dizia “caçador de marajás”.

O que o Brasil precisa é de uma intervenção consciente, mas do eleitor na hora de depositar seu voto na urna eletrônica. Passar a vassoura literalmente no quadro sujo de quem ocupa uma das 513 cadeiras da Câmara Federal e das 81 do Senado.

O mesmo raciocínio vale na hora de eleger o futuro governador de Sergipe, e quem de fato merece ocupar uma das 24 cadeiras da Alese. Como escreveu Rui Barbosa, “o cidadão que não conhece os seus direitos, não tem o direito de lutar por eles”. Essa é a mais pura verdade.

[*] É administrador de empresas por formação, policial rodoviário federal aposentado e escritor.