Poema Jozailto Lima/Ilustração Ronaldson
papagaios cegos e incolores
davam rasantes, no breu,
sobre a floresta sem cores.
muda, a flora, em afasia,
sem ação, semente ou flores,
assistia a tudo. nada lhe aprazia.
[quem desvendará
os sonhos dos peixes,
a alma das bananeiras?]
o homem, gago e ativo,
de pé sobre toros mortos
de pé sobre troncos ocos,
arrotava causa justa e plena
aos ouvidos moucos de uma jia.
os papagaios cegos
viam tudo pelo avesso
da sinfonia gaga
do homem ativo do tronco oco
e plenamente capturável
pelos ouvidos moucos da jia.
mas já era tarde.
e não houve outro dia:
papagaios cegos e incolores
já não sentem mais dores.
Do capítulo “Epístola tardia aos papagaios cegos”, do livro “Viagem na Argila”, edição do autor, gráfica J.Andrade, Aracaju, Sergipe, 2012.