[*] Danusa Silva
Danusa, you are an Ironman. Com esta frase na cabeça, passei a prova inteira visualizando a minha chegada, correndo por aquele tapete azul e cruzando o pórtico de chegada.
O esporte desperta em mim a minha criança que insiste em ser livre e viver a vida com leveza. Agora que já passou, olho para trás e percebo o quão transformador é a preparação para uma prova onde nadei 3.800 metros, pedalei 180 quilômetros e corri outros 42 quilômetros.
Tornei-me mais forte, resiliente e autoconfiante. Treinar para um Ironman, independentemente do objetivo, é um processo de autoconhecimento e de desenvolvimento pessoal em que o ciclo de treinamento para a prova é composto de renúncia, solidão, cansaço, muito suor e dias acordando de madrugada.
E mais: de dores, frustrações, ausências, alegrias, conquistas pessoais, amizades e a busca constante do equilíbrio em que tudo vale a pena, pois quando estou praticando esse esporte estou em liberdade de viver a minha verdade e a minha essência. O Ironman é o lugar em que me permito ser.
É viver o medo da incerteza e o prazer da descoberta de ser capaz! Me dá forças para superar os desafios e a dificuldade da vida. Desejo real movido por uma vontade que vai além de qualquer desafio.
Nesse destino, não há mapa. Há o acontecer. Não está predeterminado quando chegar, e só se sabe que o destino foi atingido exatamente quando se cruza a linha de chegada.
O que me move é a visão de que correr risco causa ansiedade, mas deixar de arriscar-se é perder a si mesma.
Nos dias que antecederam a prova até a hora da largada foi um turbilhão de pensamentos, emoções, sentimentos e sensações.
Após dada a largada, entrei em um estado de meditação cujo único foco era cruzar o pórtico de chegada, aconteça o que acontecer.
E aconteceram muitas intercorrências: teve perda da garrafinha com o preparado para hidratação, teve chuva durante a prova inteira, teve queda e não funcionou o meu Garmin, aparelho onde vejo meus dados de frequência cardíaca, potência, tempo e velocidade. Travou! Logo eu que não tenho PSE - Percepção Subjetiva de Esforço. Só me restou sentir.
Senti o meu corpo durante os 180 quilômetros de pedal, e isso foi maravilhoso. Fiquei 100% do tempo sentindo o corpo, a temperatura, a paisagem, o percurso. Isto é, presente em mim mesma.
Durante a prova, a competição é comigo mesma. O desafio é comigo mesma. Quando entro no corredor de chegada, somem todos os desconfortos e o meu corpo vibra. Não consigo resistir ao choro!
É fato: no Ironman, me acode a frase de um autor desconhecido: “A vida não é sobre metas, conquistas e linhas de chegada.
É sobre quem você se torna durante o caminho”.
[*] É empresária, engenheira civil, primeira dama de Aracaju e atleta. Nesta texto, ela desenha prova de Ironman, maior evento de Triathlon da América Latina da qual participou esta semana em Santa Catarina.
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