Aparte
Opinião - Pesquisa Ibope: fatos e ilusões

[*] David Leite

Alvoroço de um lado e aperreação de outro! A pesquisa Ibope divulgada na quinta-feira, 22, mexeu com os brios dos mais vistosos concorrentes à Prefeitura Aracaju, Edvaldo Nogueira e a delegada Danielle Garcia. Também atiçou outro concorrente, o Rodrigo Valadares.

Mas há motivos para tanto reboliço ou fanfarras comemorativas? Sinceramente, poucos... Observando os números friamente, nada mudou em relação à pesquisa anterior no tocante às intenções de votos dos 11 postulantes. Os porcentuais seguem dentro da margem de erro de 4% para mais ou para menos. Vejamos:

Intenção de voto estimulada

Candidato - Pesquisa de 09/10 | Pesquisa de 22/10

Edvaldo Nogueira – 32% | 34%

Danielle Garcia – 21% | 19%

Rodrigo Valadares – 6% | 10%

Márcio Macêdo – 5% | 6%

Georlize – 3% | 4%

Lúcio Flávio – 3% | 2%

Alexis Pedrão – 2% | 2%

Almeida Lima – 3% | 1%

Paulo Márcio – 1% | 0%

Gilvani – 0% | 0%

Juraci – 0% | 0%

Brancos / nulos – 18% | 15%

Não quiseram ou não souberam responder – 6% | 6%

É natural ver Edvaldo Nogueira à frente. Ele é o prefeito, tem a força da máquina, dispõe de mais partidos e lideranças em seu entorno e, por fim, mas não menos importante, não faz uma gestão desastrosa.

Geralmente, candidatos em busca da reeleição conseguem, apenas com esses ingredientes, porcentuais entre os 25% e os 35%, caso a rejeição não seja um empecilho. Por falar nela, vejamos os números:

Rejeição estimulada

Candidato – Pesquisa de 09/10 | Pesquisa de 22/10

Almeida Lima – 42% | 47%

Rodrigo Valadares – 25% | 31%

Edvaldo Nogueira | 26% | 28%

Danielle Garcia – 13% | 25%

Marcio Macêdo – 16% | 22%

Lício Flávio – 5% | 14%

Desde o início, apontei que esta eleição seria resolvida pela alavancagem da rejeição dos adversários através da qualidade das campanhas políticas, para o bem e para o mal.

O prefeito mantém-se com um nível de confiança elevado. E como a confiança é o pressuposto maior do voto, pode-se dizer que o porcentual dos que hoje recusam Edvaldo Nogueira - 28% - é “saudável”.

O cientista político Ricardo Guedes, diretor do Sensus Pesquisa e Consultoria, adota em suas análises um cânone da interpretação de pesquisas, segundo o qual candidato que tem rejeição superior a 40% não se elege - ou se reelege!

Também cientista político, Antônio Lavareda segue na mesma análise: “Acima de 30%, diria que o candidato vai para o hospital; acima de 40%, é UTI”. A experiência e a análise de vários pleitos indicam que ambos têm razão.

Portanto, costumo dizer aos meus assessorados que, mais importante do que estar à frente nas intenções de voto, é manter-se com baixo nível de rejeição. Tal critério define como será o desempenho eleitoral, posto que a margem para evoluir nem sempre é alta.

A rejeição da postulante Danielle Garcia dobrou - 13% | 25% –, num sinal claro de estratégia de comunicação equivocada. Mas, havendo correção de rumos, nada impede a reversão desse quadro ou mesmo a vitória.

Por mais difícil que seja entender o que leva alguém a votar em outra pessoa, já que é uma decisão complexa e pessoal, estudos sobre os atalhos - ou gatilhos - cognitivos explicam como a tomada de decisão ocorre, geralmente por medo ou raiva.

É preciso levar em conta que a imagem de quem se candidata desperta emoções que podem ter grande impacto na avaliação do eleitorado. 

O oba-oba da pesquisa Ibope pode ser explicado também por outro aspecto: candidato liderando fornece um tipo de “consenso” que pode motivar o eleitor que antes o tinha rejeitado ou simplesmente ignorado, a olhar com mais cuidado – “afinal, se várias pessoas o consideram bom, não deve ser à toa”. O mesmo serve para o quesito rejeição: “não deve ser uma boa peça”.

A campanha em Aracaju, apesar da euforia de uns e outros e das cabeças baixas entre os oposicionistas, segue apontando para um segundo turno. Tudo está em aberto!

Há votos a serem conquistados. Entretanto, é preciso ter frieza, ser pragmático e passar por cima de traumas e mágoas, afinal campanha eleitoral é guerra. E na guerra vence quem melhor usa a informação e a tática.

[*] É consultor em Marketing Político e Eleitoral.

 

 

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