
João Fontes: “Sou um democrata e tenho a alma libertária”
Irmãos de todas as crenças do mundo inteiro, badalai os sinos de vossas igrejas, templos e sinagogas e anunciai que há salvação política para o ex-deputado federal e polemista compulsivo João Fontes, ex-PT e agora no PSB.
Visto ultimamente entre os sergipanos como um bolsonarista roxo e de quatro costados, João Fontes apresentou à Coluna Aparte nesta quinta, 7, uma outra versão dos fatos acerca disso e negou com duras críticas e convicções que nutra qualquer apreço por Jair Bolsonaro, sem partido.
Mais do que isso: ele tem o presidente da República Federativa do Brasil numa péssima conta e defende a necessidade de um coro de sensatos em busca de alguém que barre o projeto de reeleição dele em 2022.
“Por tudo que está acontecendo no Brasil, não cabe uma reeleição de Jair Bolsonaro em 2022. E a gente precisa, no próximo ano, encontrar alguém com um perfil como os Democratas encontraram nos Estados Unidos a Joe Biden. Um perfil de base para pacificar o país”, diz ele.
“A minha definição clássica de Bolsonaro é a de que ele é um presidente que está na contramão da responsabilidade que um presidente precisa ter. Na contramão do equilíbrio, da pacificação. Bolsonaro passa o tempo inteiro querendo incendiar o país e tendo como maior adversário dele ele mesmo. Basta ver o comportamento dele em relação à pandemia do coronavírus e em relação à vacina de combate a esse vírus”, esmiunça João Fontes.
E vai mais fundo na definição depreciativa de Jair Bolsonaro. “Bolsonaro não está à altura da liturgia do cargo de presidente. O presidente da República não pode dar uma declaração de que o país está quebrado e depois querer remendá-la”, diz João.
“Pegue as declarações dele nesta quinta, dia 7, pela manhã, e veja o que ele está dizendo: que no próximo ano, se tiver eleição eletrônica no Brasil vai acontecer a mesma coisa que nos Estados Unidos. Ora, como um presidente pode dizer isso sem provas? Ele está respaldando que Donald Trump perdeu a eleição por que foi fraudada, e isso é o suprassumo do absurdo”, condena João.
Esta visão do ex-petista não sinaliza, no entanto, golpe contra o atual presidente. “Sou um democrata e tenho a alma libertária. Não defendo o fora Bolsonaro. Acho que para barrá-lo, a gente tem que encontrar uma solução pela democracia, pelo Estado Democrático de Direito, porque até agora ele não cometeu crime de responsabilidade. Diria que, dentro da Constituição, não existe ainda esse crime de responsabilidade. A gente tem que fazer essa revolução pelo voto, como acabaram de fazer os americanos do Norte”, afirma.
Portanto, adverte João, nada de impeachment. “Quem salva a pátria é a consciência de um povo, que cria a visão crítica das coisas para perpetuar, em nome dela, a democracia. Sempre defendi que não se tenha ditadura nunca mais. Sempre defendi que, pela sociedade, pelo voto, haja a depuração do Estado Democrático de Direito. Temos que buscar o equilíbrio, buscar a pacificação. A gente tem que procurar um candidato com perfil que respalde a paz e traga o Brasil de volta pro campo da democracia, da harmonia, da lógica, do consenso. O presidente Bolsonaro é um insensato sem consenso”, acusa.
Nisso tudo, é preciso levar em conta que João Fontes não faz um discurso de duas caras. Ele confessa, sim, que votou em Bolsonaro em 2018, mas admite que o fez sob forte justificativa. “Só para explicar, votei no primeiro de 2018 em Geraldo Alckmin e, no segundo, votei numa opção plebiscitária entre Bolsonaro e o PT, e optei por ele por razões lógicas: fui expulso do PT em 2003. Mas nunca fui um bolsonarista clássico, como nunca fui um lulista clássico quando defendia o PT. Nunca defendi a história de mitos, a criação de figuras salvadoras da pátria”, pondera.
“Historicamente, fui responsável pelo encaminhamento da cassação do mandato do deputado federal José Dirceu e pela apuração do mensalão em 2005. Eu fui membro efetivo da Comissão Parlamentar Mista ali e não tinha como votar no PT, tanto pelas razões do mensalão e do petrolão quanto pela história do PT na sua desfiguração política. Então, eu e um grupo grande da sociedade do qual faço parte votamos plebiscitariamente contra o PT em 2018. Já para 2022, penso diferente - estou inclusive gravando uma fala reprovando a tentativa de golpe ontem nos Estados Unidos”, reitera João Fontes.
Ω Quer receber gratuitamente as principais notícias do JLPolítica no seu WhatsApp? Clique aqui.