Aparte
Opinião - Mendigando creches 

[*] Bertulino Menezes 

Às vezes nos faltam palavras para expressar o que vemos, especialmente nos bairros mais carentes de Aracaju. Costumo ir a uma igreja num desses bairros e também frequento a casa de muita gente - já disse aqui, no artigo passado, que gosto de andar.  

Os problemas são muitos. Vão desde a falta d’água à de esgotos. A falta de asfalto, emprego, dinheiro para comprar o básico. Mas sem creche, os desafios aumentam ainda mais.

A mãe não tem como sair para trabalhar. Já vi até grupos de mães se revezando para que uma cuide das crianças das outras, enquanto algumas saem para enfrentar a batalha de diarista. 

Ainda é confusa a situação das vagas e, agora com a pandemia, a intranquilidade é grande. Ninguém sabe direito como vai ficar, porque existe uma limitação na rede pública, que já é deficiente. Mas é bom que todos saibam que a educação infantil em creche ou pré-escola é direito garantido pela Constituição.

É bom que você comece a procurar saber sobre isso. Se puder, busque informações pela internet, há canais abertos para isso. Mas, se não conseguir, vá ao Conselho Tutelar, que pode acionar a Secretaria de Educação. E mais: a vaga não pode ser distante da casa, ou do local de trabalho dos responsáveis. 

Uma vaga nos berçários é mais difícil ainda. E esta é uma luta que todos os candidatos eleitos precisam assumir como compromisso dos mais importantes. Ou seja, batalhar por creches públicas eficientes e de qualidade cada vez melhor. 

Há alguns casos dignos de destaque. Por exemplo, o preconceito (absurdo) de algumas empresas, que não contratam mulheres “porque elas podem ficar grávidas e vão faltar muito, com atestados e licenças pós-parto”.

Com adolescentes grávidas, a situação é ainda pior, porque não conseguem emprego e nem concluir os estudos, porque não têm como se manter. E o fechamento de escolas particulares por causa da pandemia vai afetar seriamente a rede pública, com a migração dessas crianças. 

Fora as soluções caseiras, surge uma luz no fim do túnel, mas sem garantia nenhuma. O Plano Nacional de Educação – PNE - diz que vai botar a mão no bolso e ajudar a colocar 50 por cento das crianças de até três anos em creches. São mais de 12 milhões de crianças nessa idade e esses objetivos não foram cumpridos até agora. Talvez nada aconteça antes de 2024.

Vivemos realmente num país cheio de problemas, mas não cabe a nós lamentar e sim buscar remédios. E não podemos nos esquecer da população de rua.

Há um exército de desempregados em desespero, muitos pedindo nos semáforos, outros - os espertinhos e inescrupulosos -  usando crianças e até recém-nascidos para mendigar pelas esquinas.

Essas crianças também precisam de um programa que ajude a levá-las para creches especiais. Há muito o que fazer em Aracaju.

[*] É jornalista, ex-vereador de Aracaju e funcionário do Judiciário sergipano.

 

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