Aparte
Opinião - Como entregar de bandeja uma eleição

[*] Eliano Sérgio Azevedo Lopes

Parece que o PT de Aracaju vive numa realidade paralela, no mundo da lua. É só atentar para a forma como seus dirigentes construíram a estratégia de campanha para prefeito da capital do Estado de Sergipe.

Ao se juntar aos candidatos da direita e da extrema esquerda nas críticas ao atual prefeito e candidato a reeleição, Edvaldo Nogueira, PDT, o PT parece estar se afastando cada vez mais de disputar um eventual segundo turno. Ao contrário, periga entregar de bandeja, no colo da delegada histriônica e arrogante, Danielle Garcia, o lugar que poderia ser dele.

Outro equívoco: tentar nacionalizar a eleição em Aracaju, trazendo para o horário da propaganda eleitoral as figuras de Lula e Bolsonaro. A disputa é local, pela administração da cidade de Aracaju. Decidir, no voto, quem é mais capacitado para cuidar melhor da cidade e das pessoas que nela vivem e que merece ser eleito. É isso que vai fazer o povo de Aracaju no dia 15 de novembro.

Não se questiona a legitimidade de o PT sair com candidatura própria a prefeito depois de mais de uma década como coadjuvante de luxo. Sim, porque a vice-prefeita – e atual vice-governadora – Eliane Aquino faz parte da cúpula do partido e vários de seus militantes ocupam ou ocuparam cargos na administração municipal.

É da própria natureza da democracia a luta pelo poder através do voto, e salutar a alternância desse poder pelos partidos políticos que se dispõem a participar das eleições, em qualquer nível. Agora, escolher como alvo de pancadas, como principal adversário, o atual prefeito, ainda no primeiro turno das eleições, parece ser um contrassenso para quem até pouco tempo fazia parte do governo municipal.

Ou um tiro no pé, porque, ao adotar tal comportamento, confunde os eleitores, que terão dificuldade em entender essa brusca mudança de lado. Como assim? Sempre estiveram do mesmo lado e agora são adversários?

O fato é que nem as pesquisas que mostram o candidato do PT, Márcio Macedo, no quarto lugar nas preferências eleitorais, perdendo até para o bolsonarista e franco-atirador Rodrigo Valadares, parecem ter causado qualquer desconforto nos estrategistas da campanha do PT.

Tampouco, os alertas feitos aqui mesmo no JLPolítica pelos jornalistas Jozailto Lima e Edson Júnior - esse, defensor ferrenho da candidatura de Edvaldo Nogueira, mas nem por isso deixou de ser extremamente lúcido nas observações e nas análises que têm feito sobre a campanha eleitoral em Aracaju.

Como a principal diferença entre o atual prefeito e candidato à reeleição e os outros é que este pode mostrar o que já fez enquanto aqueles só podem acenar com o que pretendem fazer, se eleitos, nada mais lógico, do ponto de vista político do que procurar levar a eleição para o segundo turno, cacifando-se para ser um dos dois postulantes na disputa.

Ora, com a máquina da Prefeitura nas mãos e as pesquisas de opinião já indicando claramente Edvaldo na dianteira com margem expressiva de preferência de votos em relação aos demais candidatos, a estratégia do PT deveria se voltar para a desconstrução implacável da candidatura da delegada Danielle, que ocupa o segundo lugar nas pesquisas.

E deixar o confronto aberto com Edvaldo para o segundo turno, quando procuraria mostrar aos eleitores o alinhamento dele às forças de direita e os prováveis rebatimentos negativos na definição de políticas públicas mais inclusivas, democráticas e populares. Ao mesmo tempo, deixar claro o que Márcio Macedo faria de diferente na condução da Prefeitura de Aracaju. Ou seja, mais e melhor do que o seu opositor.

Ressalte-se, porém, que o PT ainda teria que procurar convencer uma parcela dos eleitores dos outros candidatos derrotados a votar no seu candidato e não a embarcar na candidatura de Edvaldo. O que, convenhamos, não será tão fácil, porém, não impossível.

A questão que se coloca aqui é a seguinte: ainda dá tempo de mudar a estratégia, a poucos dias da eleição? Em havendo, dá para alterar o quadro e levar a eleição para o segundo turno, tendo o candidato do PT como um dos dois mais votados em primeiro turno? É aguardar para ver!

[*] É doutor em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pelo CPDA/UFRRJ, professor aposentado da UFS e avô da Liz e da Bia.

 

 

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