Aparte
Opinião - A certeza na frente, a história na mão

[*] Rômulo Rodrigues

Como bem disse Geraldo Vandré: “A certeza na frente, a história na mão”, na canção inscrita no Festival Internacional da Canção em 1968, que ficou em segundo lugar e mesmo assim virou hino em todas as manifestações das massas populares há 54 anos. Na canção também há outro brado: “acreditam nas flores vencendo o canhão”.

De 1945 a 1960, quem venceu o canhão, foi o voto. Mesmo assim, o canhão nunca desistiu até vencer em 2018, porque o povo deixou de ter certeza e esqueceu a história.

E esquecer a história é voltar a acreditar em contos de fardas como está acontecendo com a farsa armada pelo contra-almirante presidente da Anvisa.

É estranho, um povo que viveu 21 anos seguidos sob uma ditadura militar e aceitou perdoar coronéis e generais assassinos e torturadores, em troca de exilados políticos.

Com o fim da chamada República velha e ascensão de Getúlio Vargas, pela chamada revolução de 1930, chega-se a ele um general chamado Góes Monteiro, alagoano, que de posse de um suspeito Plano Cohen, impôs o golpe de 1937 e fundou a ditadura do Estado Novo que vigorou até 1945.

Na doutrina do general Góes Monteiro: “O exército é uma entidade essencialmente política; e virtualmente todos os aspectos da política nacional o interessam, pois é dela que até certo ponto emana a preparação para a guerra”.

O exército e a marinha são, por conseguinte, os responsáveis máximos pela segurança interna e externa da Nação, precisando para este fim serem evidentemente tão fortes quanto possível, de modo que nenhum outro antagônico à sua finalidade possa ameaçar os fundamentos da Pátria.

Nestas condições, as forças militares têm de ser naturalmente, forças construtoras apoiando governos fortes, capazes de movimentar e dar nova estrutura à existência nacional, porque só a força é capaz de construir, visto que com fraquezas só se constroem lágrimas.

Em plena terceira década do século 21, após sofrer por duas ditaduras, a do estado novo e a militar de 1964 a 1985, ter deixado de ser um país de terceiro mundo, essencialmente agrícola, para ser a 6ª economia do mundo, com assento no G-7+1 e G-20, ter tomado a dianteira em extração de petróleo em águas profundas e estar prestes a construir um submarino nuclear, com tecnologia nacional, com fins pacíficos, ter seu comando entregue a um ex-capitão, expulso do exército, reconhecidamente desqualificado para qualquer função de comando, num governo militarizado e, após mais uma crise, aparentemente fabricada, para que um general comandante do exército o confrontasse no episódio das máscaras e um contra-almirante, no comando da Anvisa, dá lhe um carão público dizendo: retrate-se; é um atestado inequívoco que o Brasil está sob o comando da doutrina do general Góes Monteiro, se sobrepondo à soberania da Constituição Federal de 1988 e dos poderes inerentes à sociedade civil organizada.

A questão é se todos vão baixar as cabeças ao estado calamitoso de coisas, ou se está na hora de sair cantando: “Caminhando e cantando e seguindo a canção, somos todos iguais, braços dados ou não”!

[*] É sindicalista aposentado e militante político.

 

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