
[*] Isaque Cangussu
Policiais e bombeiros sergipanos foram esquecidos pelo Governo do Estado durante anos a fio. A pseudo justificativa de que o Estado estava “quebrado” bastava para ignorar qualquer clamor da categoria.
Após quase uma década sem sequer a correção inflacionária dos seus subsídios, num país onde a inflação segue galopante, os policiais migraram de classe social. Sim, é verdade.
As moradias não são mais as mesmas, os carros - para quem ainda os tem - são de modelos inferiores, os colégios dos filhos não são mais os que eram; os planos de saúde, para quem ainda consegue ter, são os mais simples e viagens de lazer um “o que é isso”?
Enquanto isso, outras classes de servidores privilegiados viram benefícios se acumularem. Se não pode mais ter aumento, cria-se um auxílio e pronto, resolvido.
Durante um ano e meio, os policiais e bombeiros sergipanos, através de um movimento inédito no país, o Polícia Unida, tentaram dialogar com o governo do Estado. Foram cozinhados lentamente em fogo brando.
Cientes de que em menos de três meses não será mais possível qualquer concessão de melhoria salarial, partiram para luta proletária-raiz. A única língua que o patronato entende.
Ocorre que, com menos de uma semana de luta, o império contra-ataca, se valendo de seus canhões. Primeiro, uma ação judicial visando proibir as paralisações legítimas da categoria. Ao mesmo tempo, várias ações da Corregedoria com o intuito de reprimir e punir os manifestantes. Não prosperará.
Não se trata mais apenas de valorização salarial. Os antigos súditos despertaram e não mais se renderão à vontade do soberano. Foi dado o grito de liberdade.
Cada ação dos senhores feudais gerará uma reação proporcional da classe trabalhadora. Se pensam que a paralisação é o único instrumento de luta, estão redondamente enganados. Verão muito em breve.
[*] É delegado da Polícia Judiciária do Estado de Sergipe e presidente da Adepol - Associação dos Delegados de Polícia do Estado de Sergipe.
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