Aparte
Opinião - Em Sergipe vai ter geringonça?

[*] Rômulo Rodrigues

Sei que tenho muitos amigos por aqui que sentem pontadas de inveja, ou talvez ciúmes, quando recorro à minha querida cidade de Caicó, no Rio Grande do Norte, toda vez que surge a necessidade de voltar ao passado para melhor explicar o presente.

E o faço porque é de lá que vou buscar a conexão com fatos relevantes das conjunturas, que surgem como novidades e que já existiam por lá - bem antes de Dondon jogar no Andaraí.

Capital da região do Seridó, rica em algodão mocó, abrigo de personagens da maior diversidade que se possa imaginar, entre elas, Juju Balangandã, ser humano de comportamento exótico, alegre e gentil que se vestia com modelitos que muito podem ter influenciado Falcão, irreverente cantor e compositor cearense de grande sucesso.

Juju Balangandã pilotava pelas ruas de Caicó um carro de madeira, com volante e tudo, que todos chamavam de geringonça, carregado de apetrechos e quinquilharias e artigos do toucador de onde tirava o ganha-pão e conquistava com educação, atenção e simpatia a admiração de toda a sociedade caicoense e dos visitantes - tudo isso lá pelas décadas de 1950, 1960 e 1970.

Seria exagero de bairrismo dizer que justo no início da década de 1970 a Rede Globo de Televisão exibisse na grade de sua programação vespertina um seriado estrelado por Paulo José e Flávio Migliaccio, cujo título era Shazan, Xerife & Cia, onde viviam seus desatinos pilotando pelas ruas, uma geringonça apelidada de Camicleta.

A palavra já andava esquecida em algum canto da minha memória, quando uma coalizão de partidos considerados de centro-esquerda e de extrema esquerda, no contexto europeu, comandada por Antônio Costa, cujo Partido Socialista tinha obtido 38,5% dos votos e precisava de uma forte composição para governar Portugal.

Como os partidos que se juntaram ao Partido Socialista, o Partido Comunista Português, o Bloco de esquerda e os Verdes tinham enormes divergências, a mídia corporativa, sempre ela, em vez de analisar o fenômeno pela teoria de Marx e Engels - a lei do desenvolvimento desigual e combinado das sociedades -, apelidou com desdém o relevante fato político de Geringonça. Quebrou a cara e até hoje não fez o que cobra dos partidos e governo de esquerda - uma autocritica.

O fato é que a geringonça portuguesa de 2015 está atravessando fronteiras e chegou a Israel para derrubar o todo poderoso Benjamin Netanyahu e se vai dar certo, ou não, é uma incógnita.

Cá entre nós: no Brasil desponta como a maior obra política da história da República, pelas mãos e cabeça do gênio da arquitetura política, Luiz Inácio Lula da Silva.

Em homenagem ao aniversariante Chico Buarque, “mirem-se nos exemplos”, não daquelas mulheres de Atenas, com todo respeito a Penélope e Helena de Tróia; mas, no que está sendo arquitetado nos Estados do Rio de Janeiro e Paraná, joguem no laboratório da ciência política para ver o que pode acontecer por aqui.

Aqui na terrinha, dois fatos políticos: um grande e outro pequeno, mas que não deixa de ser fato político, que podem não estar dissociados, abrem uma enorme possibilidade de fabricação de uma geringonça capaz de alterar o curso das águas que vão passar por baixo das pontes da política por pelo menos uma década.

Cavalos, que não são presentes de gregos, estão selados, à espera de inteligentes e argutas montadores. Lá de cima do Serrote da Pedra branca, fumando meu cigarrinho de palha e coçando minhas frieiras, só me resta observar.

[*] É sindicalista aposentado e militante político.

 

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