Poema Jozailto Lima / Ilustração Ronaldson
senhor, eu queria tanto
ser um homem comum,
desses que jogam dominó
e gamão pelas esquinas das tardes
mortas
que cospem no chão de qualquer chão,
que tangem jumentos encarotados
sem reparar na qualidade da água que
levam
nem no que o mundo tem a dizer com
tantos códigos.
mas esta mania, senhor, de encarar
o céu e o sol, de calçar sapatos
de selecionar os algodões e os linhos
nos quais me guardo o corpo,
ah, senhor, e mais estas notícias
derretendo minhas retinas,
alterando o pulso do meu dna e do meu
sono.
oh senhor, quanta falta fazem
um talo de capim-açu e uma vereda
torta
que ligue o nada a lugar nenhum
e com ele e nela palitar algo mais que o
dente.
senhor, queria tanto
ter dezoito filhos e soprar bolinhas
na festa de 100 anos do caçula.
ah, senhor, e só mais isso:
a paciência e a calma dos jabutis das
ilhas de galápagos.
(Do livro “Ainda os lobos”,
editora Patuá, São Paulo, 2016).