Luciano Hang: acusado de pertencer ao “Gabinete Paralelo” de apoio ao governo e de promover o “tratamento precoce”
Está agendada para a próxima quarta-feira, 29, às 10h, a oitiva do empresário Luciano Hang na CPI da Pandemia. Hang é acusado de pertencer ao chamado “Gabinete Paralelo", grupo de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro e suspeito de aconselhar o presidente em relação à pandemia de Covid-19, promovendo ideias sem comprovação científica, como o “tratamento precoce” com hidroxicloroquina e ivermectina.
A convocação de Hang foi aprovada na última quarta-feira, 22, por requerimento do senador Renan Calheiros, MDB-AL, relator da CPI. No mesmo dia, o nome de Hang foi citado no depoimento de Pedro Benedito Batista Jr., diretor da empresa de planos de saúde Prevent Senior.
Foi em um dos hospitais próprios da Prevent, o Sancta Maggiore, em São Paulo, que a mãe do empresário, Regina Hang, de 82 anos, morreu em fevereiro deste ano.
Em vídeo publicado nas redes sociais, Luciano Hang aparece dizendo que a mãe poderia ter sido salva se tivesse feito “tratamento preventivo”.
Porém, o prontuário de Regina Hang no Sancta Maggiore, obtido pela CPI junto ao hospital, indica que ela tomara, sim, hidroxicloroquina e ivermectina antes da internação.
A Prevent Senior vem sendo acusada por médicos de incentivar a prescrição desses medicamentos, na contramão dos principais estudos científicos realizados desde o início da pandemia.
Já internada, Regina Hang teria sido submetida a ozonioterapia por via retal, tratamento vedado pelo Conselho Federal de Medicina por falta de comprovação de sua eficácia.
CAUSA MORTIS - Além disso, embora o prontuário indique que Regina Hang teve Covid-19, a doença não consta do atestado de óbito, contrariando recomendação expressa do Conselho Federal de Medicina. Hang admite que a mãe teve Covid, mas negou que essa tenha sido a causa mortis, alegando que já estava curada do coronavírus.
Segundo o relator da CPI, Renan Calheiros, Luciano Hang pediu aos médicos que não revelassem que sua mãe fizera o “tratamento precoce”. O objetivo, ainda segundo Renan, seria não desmoralizar publicamente o uso da hidroxicloroquina e da ivermectina.
À CPI, Pedro Batista Jr. negou-se a responder sobre o caso de Regina Hang, invocando o sigilo médico. Porém, falando em tese, o diretor da Prevent Senior admitiu que em alguns casos o hospital Sancta Maggiore retirava a classificação de Covid-19 do prontuário de pacientes que deixavam de apresentar sintomas da doença.
“Todos os pacientes com suspeita ou confirmados de Covvid (...), quando entravam no hospital, precisavam receber o B34.2, que é o CID [Classificação Internacional de Doenças] de Covid, e, após 14 dias - ou 21 dias, para quem estava em UTI -, se esses pacientes já tinham passado dessa data, o CID poderia já ser modificado, porque eles não representavam mais risco para a população do hospital”, alegou Batista, em explicação considerada “inacreditável” pelo relator Renan.
Suspeita-se que o objetivo da Prevent Senior era gerar uma subnotificação de óbitos pela doença, favorecendo teses do “Gabinete Paralelo” de Bolsonaro.
Em outro vídeo obtido pela CPI, Pedro Batista Jr. parece fazer a defesa da “imunidade de rebanho”, outra tese contestada, segundo a qual seria melhor deixar o vírus circular livremente até parar de circular por não encontrar mais pessoas para infectar.
A convocação de Hang dividiu opiniões na CPI. Para Renan Calheiros, “a presença desse senhor nesta Comissão Parlamentar de Inquérito é mais do que recomendável”.
Jorginho Mello, PL-SC, votou contra a convocação e considerou “revoltante” a CPI “desrespeitar a memória da mãe do empresário” e pôr em dúvida “seu amor de filho”.
O senador Marcos Rogério, DEM-RO, considerou “lamentável” a exposição pública das informações do prontuário de Regina Hang, “cobertas pelo sigilo, em proteção à intimidade do paciente”.
Para Jean Paul Prates, PT-RN, por sua vez, Luciano Hang foi “desumano”, pois “não respeitou nem a própria mãe para defender o governo: deixou que a Prevent Senior falsificasse a causa da morte dela, ocultando a Covid-19”, disse. (Da Agência Senado).
Foto: Anderson Riedel
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