[*] Antônio Carlos Sobral Sousa
O mundo empresarial sergipano e a família Farias Souto está em festa com dois eventos marcantes no entorno do empresário Raymundo Juliano Souto dos Santos, falecido no dia 21 de agosto de 2020 - ele era de 8 de julho de 1932.
Na próxima segunda-feira, 25 de outubro, às 17 horas, a família estará lançando a biografia “Raymundo Juliano: 80 anos negociando e fazendo amigos”, escrita pela jornalista, geógrafa e sobrinha dele, Juliana Souto dos Santos.
O lançamento se dará durante a inauguração da Unidade do Sesc Comércio, na Avenida Otoniel Dória, 464, onde o biografado será referendado com um amplo Memorial Raymundo Juliano, em que o histórico da sua vida vai estar exposto e preservado.
A Coluna Aparte, acompanhando de perto os fatos, publica aqui o prefácio do livro, assinado pelo cardiologista sergipano Antônio Carlos Sobral Sousa, que era amigo pessoal e médico particular do biografado. É todo o texto que vai a seguir.
“Tenho a súbita honra de prefaciar a obra de Juliana Souto Santos, “Raymundo Juliano: 80 anos negociando e fazendo amigos”, que versa sobre a trajetória de vida de um dos mais bem-sucedidos empresários sergipanos.
A escritora faz, de forma fascinante, a sua primeira incursão literária em uma obra que vai além de um simples estudo biográfico, uma vez que o seu alcance é bem maior. Verifica-se, no cartapácio, uma superposição de abordagens, propiciando ao leitor lições de resiliência, de liderança e de empreendedorismo social.
Foi, provavelmente, mediante as auras da crença e o eflúvio das puras esperanças que Juliana, com o determinismo de uma intimorata nordestina, procurou se qualificar profissionalmente, cursando Licenciatura em História, mestrado em Educação e em Geografia e doutorado, também em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe - UFS. Não obstante, ainda recebeu a láurea do bacharelato em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, pela Universidade Tiradentes - Unit.
Além de atuação no magistério e na pesquisa, sobretudo na coordenação e orientação de trabalhos de conclusão de curso, a escriba tem exercido a função de técnica educacional junto à Secretaria de Estado da Educação. Aos oito anos, em plena “idade da razão”, o jovem Raymundo aprendeu, rapidamente, o conceito fundamental da filosofia existencialista sartreano, o da liberdade.
Munido de uma tosca caixa de engraxate, a fim de custear o seu divertimento, iniciava a sua caminhada de trabalhador incansável nas estreitas ruas de Estância, sua terra natal. Compelido a se inventar, logo passou a vender jornais e revistas nas cidades circunvizinhas ao “Jardim de Sergipe” e, adotando o lema de “lutar para vencer”, abraçou, definitivamente, o desafiador e fascinante mundo dos negócios.
O passo seguinte, ainda pré-adolescente, foi o emprego de balconista nas Lojas Esperança, onde, para a perplexidade de muitos, passou a exercer, habilmente, o dom de comerciante nato, não parando mais de conquistar fregueses e fazer amigos!
Dotado da inquietude dos vencedores e consciente de que são suas escolhas que constroem a sua essência, o jovem Raymundo, na condição de caixeiro-viajante, passa a percorrer os caminhos tortuosos e malcuidados do interior de Sergipe e Bahia, montado no lombo de um burro, levando mercadoria para novos fregueses. A luta extenuante não o desanimava, pelo contrário, servia de incentivo para seguir adiante.
As trilhas de “Raymundo Juliano: 80 anos negociando e fazendo amigos” que outrora percorreu, procurando sempre traçar um circuito otimizado de distância entre as cidades que visitava, servia para aguçar o raciocínio matemático necessário para o sucesso nas “trilhas” do comércio. O esforço, a coragem e a perseverança criaram as energias propulsoras para que ele montasse o seu próprio negócio.
O sonho se concretizou em 1957, com a aquisição do Bar Central de Estância, constituindo, assim, em um marco de sua vida empresarial e da economia do nosso Estado. A localização privilegiada do estabelecimento e as suas ações inovadoras na distribuição de bebidas, utilizando, inclusive, veículos de tração animal, fizeram-no prosperar.
O reconhecido sucesso de Raymundo, despertou, em 1960, o interesse de empresários da Antártica para a formalização de uma aliança, que o tornaria representante da marca, passando, assim, a erguer a maior distribuidora de bebidas de Sergipe. A autora apresenta, com linguagem escorreita, que as contribuições de Raymundo Juliano para a economia de nosso Estado não se restringiram aos fatos acima relatados.
Em 1970, ele se transfere para Aracaju e funda a Distribuidora de Bebidas Raymundo Juliano - Disberj - e, uma década após, cria o Grupo Raymundo Juliano, diversificando os negócios, passando a atuar, também, nos ramos atacadista, concessionária de automóveis, iluminação, hotelaria, construções, posto de combustível e agronegócio.
No gerenciamento deste conglomerado de empresas, que gera empregos para centenas de sergipanos, ele conta com o apoio incondicional dos filhos Ana Suely, Cynthia e Juliano César, além dos genros, nora e netos. Nenhum império se constrói sozinho! Conforme relata Juliana, a sua primeira esposa Suéle, compreensiva, teve participação decisiva na sua estruturação financeira e na construção do seu sonho.
Todavia, uma doença fatídica roubou-lhe, prematuramente, a companheira, deixando Raymundo à deriva, apesar de contar com o aconchego de seus familiares. Mas, como todo homem de sucesso precisa também ser aquinhoado com sorte, ele encontra mais um porto-seguro, Ana Maria, com quem se casa, passando a desfrutar da companhia na convivência cotidiana, do estímulo em todas as dificuldades e do apoio em todas as horas.
Tenho o privilégio de ser médico de Raymundo Juliano por mais de duas décadas. Durante este convívio foi possível testemunhar as suas qualidades morais, espírito agregador familiar, intensa capacidade de trabalho e liderança, que lhe fez credor da admiração do povo sergipano. Ao término da leitura desta obra, será possível compreender o sentido de uma longa jornada, mediante a amplitude do universo aqui descrito”.
[*] É membro das Academias Sergipanas de Medicina e de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe – IHGSE - e da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Sobrames. Professor titular do Departamento de Medicina e do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal de Sergipe – UFS.
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