Alessandro Vieira: “Bolsonaro e Haddad representam riscos à democracia”

Entrevista

Jozailto Lima

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Alessandro Vieira: “Bolsonaro e Haddad representam riscos à democracia”

Publicado em 13  de outubro de  2018, 20:00h

“Sergipano tinha carência de representação honesta e nova”

Alessandro Vieira: anotem aí. Esse nome vai dar o que falar na eleição de Sergipe deste ano. Ele tem 42 anos, é um bacharel em Direito e delegado da Polícia Civil em Sergipe há 16 anos, com atuação em áreas como proteção a minorias, combate à corrupção e à lavagem de dinheiro e homicídios”.

Não, estes 289 caracteres aí acima, negritados, não pertencem a esta entrevista. São da abertura de uma outra, com o mesmo Alessandro Vieira, publicada aqui neste mesmo espaço por este Portal JLPolítica no dia 18.02.2018.

Passados exatos sete meses e 20 dias, o “anotem aí” e “esse nome vai dar o que falar na eleição de Sergipe deste ano” viraram uma legenda e uma confirmação brutal. Se confirmaram de uma assertividade assombrosa.

Uma assertividade que deixou milhares de sergipanos de queixo caído, incrédulos, outros febris e depressivos por terem visto suas carreiras e projetos abolidos por um caminhão de 474.449 votos dados para senador a esse rapaz neófito na política que não havia disputado antes nem o mandato de vereador de Pedra Mole.

O jornalismo, por vezes, acerta. Alessandro só não tem mais 42 anos de vida e nem 16 de polícia. Acresça-se aí mais um em ambos os casos. O tempo passa. Este cidadão de aparência sisuda, poucas palavras, riso escasso e ar misantropo nasceu no dia 3 de abril de 1975 em Passo Fundo, no Rio Grande Sul, e chegou em Sergipe ainda criança, aos oito anos, em 1984.

A política é que, às vezes, não acerta. Os assertivos 474.449 votos que Alessandro Vieira recebeu no domingo, sete de outubro, surpreenderam até ao próprio Alessandro Vieira. “A gente trabalhava com uma meta de 300 mil votos”, diz. Portanto, na política, ninguém previa o que surpreendentemente aconteceu.

A um breve exercício de comparações: os 474.449 votos Alessandro Vieira cobriram as votações de Jackson Barreto e de Antonio Carlos Valadares ao Senado. Esses dois titãs da política de Sergipe, juntos, tiveram 94.617 a menos que Alessandro.

Para ficarem em quarta e quinta posição, JB e Valadares obtiveram 204.677 e 175.155, respectivamente. Alessandro teve 174.247 votos à frente de Rogério Carvalho, o segundo eleito. E 223.236 votos à frente de André Moura, o terceiro colocado. A estupenda votação de Alessandro Vieira, portanto, surpreendeu, mas ele próprio não a deixa sem justificativa ou explicação.

“São vários fatores que se associam. A fragilidade, a exaustão das lideranças que estavam se colocando como candidatos - seja porque tinham uma vida pública longa demais, seja porque tinham uma ficha criminal longa demais -, e essa exaustão era muito latente para o eleitor”, diz ele.

“Conta também o fato de eu ter um perfil que casa hoje com a demanda da sociedade, de gente honesta, independente, que quer realmente mudar as coisas. Além de uma campanha bem executada, apesar de muito barata”, reforça Alessandro, que se define de centro, apesar de uma propostas que beiram ao bolsonarismo.

É natural que com esse patrimônio eleitoral todo o Delegado virasse um caso de política. Uma moeda de alta cobiça num Estado que vai ter eleição de segundo turno para o Governo do Estado. Belivaldo Chagas e Valadares Filho, os dois disputadores, fizeram romaria a ele.

Neste sábado, 13, Alessandro desatou sua opção e se atracou com Valadares Filho.

É delegado da Polícia Civil há 16 anos, com atuação em áreas como proteção a minorias, combate à corrupção e à lavagem de dinheiro e homicídios
Nasceu no dia 3 de abril de 1975 em Passo Fundo, no Rio Grande Sul. Chegou a Sergipe em 1984

PENSAVA NUM TETO DE 300 MIL VOTOS
“Nunca fiz a conta de quantidade final de votos. A gente trabalhava com uma meta de 300 mil votos, baseado na estratégia que a gente fez, porque ao longo da campanha percebia que tudo estava funcionando bem e que teríamos uma votação expressiva”

JLPolítica – O senhor se imaginava destinatário dos votos de 474.449 sergipanos?
Alessandro Vieira -
Nunca fiz a conta de quantidade final de votos. A gente trabalhava com uma meta de 300 mil votos, baseado na estratégia que a gente fez, porque ao longo da campanha, especialmente nos últimos 35 dias, percebia que tudo estava funcionando bem e que teríamos uma votação expressiva. Mas o tamanho total, não tinha como saber. 

JLPolítica - Qual é a explicação razoável para essa sua explosão de votos?
AV -
São vários fatores que se associam. A fragilidade, a exaustão das lideranças que estavam se colocando como candidatos - seja porque tinham uma vida pública longa demais, seja porque tinham uma ficha criminal longa demais -, e essa exaustão era muito latente para o eleitor. Conta também o fato de eu ter um perfil que casa hoje com a demanda da sociedade, de gente honesta, independente, que quer realmente mudar as coisas. Além de uma campanha bem executada, apesar de muito barata. 

JLPolítica – O senhor classificaria sua votação como uma jabuticaba sergipana? Ou seja, uma ocorrência única na política local?
AV -
O Senado teve uma renovação imensa em todo o Brasil. Mas aqui em Sergipe, pelo levantamento histórico que fiz, foi realmente o único caso dessa natureza. Porque mesmo nas vitórias de candidatos com poucos recursos, como GiIvan Rocha e Zé Eduardo Dutra, eles tinham um agrupamento político sólido ao lado. Eu não tinha. Era apenas o Rede. O que me fortaleceu muito foi um mar de voluntários. 

Chegou à delegado geral da Polícia Civil e ganhou projeção com a Operação Torre de Babel, que investigou a licitação do lixo na PMA e a relação dela com à reeleição de Edvaldo Nogueira

EXPLICAÇÃO RAZOÁVEL PARA A EXPLOSÃO DE VOTOS
“A fragilidade, a exaustão das lideranças que estavam se colocando como candidatos - seja por uma vida pública longa demais, seja por uma ficha criminal longa demais -, e essa exaustão era muito latente para o eleitor. Além de uma campanha bem executada, apesar de muito barata”
 

JLPolítica - A partir de quando o senhor começou a perceber que a eleição lhe era favorável?
AV –
Desde quando a gente decidiu ser candidato, lá atrás. Eu sabia que era uma eleição viável. Que havia um espaço para fazer uma boa campanha e ter uma boa participação no cenário. 

JLPolítica - E quando o senhor começou a imaginar lideraria a votação?
AV -
Eu não cheguei a imaginar que seria. Eu achava que seria possível atingir os 300 mil votos de que falei há pouco, podendo ficar em primeiro ou segundo, a depender do desempenho dos demais. 

JLPolítica – Quem é o Fernando Carvalho, seu primeiro-suplente?
AV -
Ele é o fundador do Rede aqui. É um jovem técnico ambiental, uma pessoa de total confiança nossa. 

Mas o Governo JB logo substituiu ele e toda cúpula dirigente da SSP

VOTAÇÃO FOI UMA JABUTICABA SERGIPANA
“Aqui em Sergipe, pelo levantamento histórico que fiz, foi realmente o único caso dessa natureza. Mesmo nas vitórias de candidatos com poucos recursos, como GiIvan Rocha e Zé Eduardo Dutra, eles tinham um agrupamento político sólido ao lado. Eu não tinha. Era apenas o Rede. O que me fortaleceu muito foi um mar de voluntários”
 

JLPolítica – Até que ponto a sua imagem local colou com na de Jair Bolsonaro no plano nacional?
AV -
Os eleitores de Bolsonaro encontraram na minha figura uma representação daquilo que eles querem de verdade, que são coisas que não necessariamente eles vão encontrar em Bolsonaro. O Bolsonaro não é um especialista em segurança pública nem em combate à corrupção. É um homem de opiniões fortes, até onde se sabe, nunca teve nenhum envolvimento em falcatrua, embora tenha uma vida política longa, e ocupou esse espaço sozinho. 

JLPolítica - O senhor acha essa bom, engraçado, razoável, ou contesta lado intempestivo?
AV -
O lado intempestivo dele é negativo. Os dois projetos que temos para a Presidência da República são muito perigosos. 

JLPolítica – Por serem dois homens da esfera da polícia, em que o senhor e Bolsonaro convergem?
AV -
Ele é do Exército, ele era um sindicalista no Exército. Ou seja, nem no Exército ele tinha uma atividade tão notória. Não tem ponto de ligação em relação à carreira nem a estrutura. O que tem talvez é o fato de ele verbalizar uma preocupação com a segurança pública, assim como eu. 

Façanha x Fiasco: alcançado pela operação Torre de Babel, enquanto presidente da Emsurb, à época, Mendonça Prado o acusou de uso politico do cargo de chefe da PC. As urnas deram ganho de causa ao delegado

IMAGEM LINCADA COM A DE JAIR BOLSONARO
“Os eleitores de Bolsonaro encontraram na minha figura uma representação daquilo que eles querem de verdade, que são coisas que não necessariamente vão encontrar em Bolsonaro. O Bolsonaro não é um especialista em segurança pública nem em combate à corrupção”

JLPolítica – Na problemática das classificações ideológicas, o senhor se define de esquerda, de centro ou de direita?
AV -
De centro, muito claramente. Mas eu dialogo muito bem com bandeiras de esquerda e de direita. 

JLPolitica - O seu programa de candidatura ao Senado defende que se torne “mais fácil, barato e objetivo o processo de aquisição e porte de arma de fogo pelo cidadão que atenda aos requisitos de bons antecedentes, aptidão técnica e psicológica e necessidade, com uma atenção diferenciada para o residente na área rural”. Com isso não se corre o risco de tornar país excessivamente armado e se aproximar de ideias de direita?
AV -
Não. Bom, é possível entender que trata-se de uma pauta mais ligada à direita clássica, mas a legislação atual já é nesse sentido. O problema é que se criou uma série de entraves, tornando o processo altamente demorado. Hoje, a lei é assim: se você atende aos requisitos, você pode comprar a arma. Se você aponta a necessidade, você pode portá-la. O que quero é tornar isso mais rápido, mais simples, e em alguns casos, mais objetivo. O cidadão que transporta dinheiro para pagar funcionário em zona rural, por exemplo, e se ele quiser, poderá ter esse direito. 

JLPolítica - Não seria mais justo armar melhor a polícia e menos a sociedade?
AV -
A polícia sergipana é bem remunerada e não tem problema de armamento. A questão é o tamanho do país, da área a ser coberta pela polícia. É impossível. Em nenhum lugar do mundo existe uma quantidade suficiente para patrulhar, por exemplo, porteiras de fazenda, estradas vicinais. E você não vai achar nenhuma estatística que aponte que gente de bem armada aumente a letalidade. O que aumenta a letalidade é gente que não é de bem armada. E isso a gente já tem muito. 

A sempre candidata à presidente Marina Silva, da Rede, ficou num distante oitava lugar, com apenas 1% dos votos válidos

ARMAR MELHOR A POLÍCIA E MENOS A SOCIEDADE?
“A polícia sergipana é bem remunerada e não tem problema de armamento. A questão é o tamanho do país, da área a ser coberta pela polícia. É impossível. Em nenhum lugar do mundo existe uma quantidade suficiente para patrulhar, por exemplo, porteiras de fazenda, estradas vicinais”

JLPolítica - Como distinguir quem é do bem ou não? Como armar só o de bem?
AV -
Na minha proposta, a gente visa isso em linhas paralelas: aumentar a pena para quem porta ilegalmente e tornar mais simples e menos burocrático o porte legal. Uma pessoa de bem vai ter todas as condições de fazer aquela compra, sem abrir mão de nenhum requisito, só tomando o processo menos burocracia. Porque o brasileiro decidiu uma coisa no plebiscito sobre o desarmamento e a implementação da lei foi em outro sentido. No sentido de dificultar, quando não era esse o objetivo. 

JLPolítica – Quais as justificativas para o descompasso entre a sua votação e a desidratada votação de 69.407 mil do dr Emerson?
AV -
Foram campanhas absolutamente diferentes. Eu corria num páreo com duas vagas, o que permitia uma soma entre primeiro e segundo voto. A minha estratégia de comunicação funcionou de forma mais eficiente e meu perfil está mais próximo daquilo que o eleitor quer hoje. Eu tive muitos voluntários na minha comunicação, mas a gente conseguia conteúdo muito bom. Uma pessoa que conseguia se comunicar adequadamente e num formato que se consome hoje, com pequenos vídeos, caseiros. Os mais assistidos eram gravados dentro de casa, com meu celular. 

JLPolítica - A campanha lhe fez conhecer melhor Sergipe? 
AV -
Sem dúvida. Me fez conversar mais de perto com as pessoas, compreender o tamanho da necessidade de representação que nós temos, e o reflexo é a explosão na reta final e depois a popularidade, o carinho. Foi difícil caminhar na Treze de Julho no dia do resultado, e em todo lugar que vou as pessoas querem tirar foto. Querem me abraçar. O sergipano tinha uma carência muito grande de uma representação honesta e nova. Engana-se quem pensa que o eleitor é ignorante, que ele não sabe que está votando numa pessoa que não tem qualidade. Ele vota porque não tem alternativa. Se você colocar para ele uma alternativa real acontece o que aconteceu nesta eleição. 

No Estado, com Emerson Ferreira, a Rede ficou num periférico quarto lugar, com 7,03% dos votos válidos para governador

ENGANA-SE QUEM PENSA QUE O ELEITOR É IGNORANTE
“O sergipano tinha uma carência muito grande de uma representação honesta e nova
. Engana-se quem pensa que o eleitor é ignorante, que não sabe que está votando numa pessoa que não tem qualidade. Ele vota porque não tem alternativa. Se você colocar para ele uma alternativa real acontece o que aconteceu nesta eleição” 

JLPolítica - O senhor saiu de Passo Fundo ainda criança, aos oito anos, mas a notícia repercutiu lá? 
AV -
Sim, minha eleição foi notícia em jornal local, em rádio, no jornal de maior circulação do Sul também. Os familiares de lá mandaram-me tudo. Chama a atenção, porque o Senado da República é uma representação muito importante. Seis senadores de origem no Rio Grande do Sul foram eleitos: um aqui em Sergipe, um no Mato Grosso do Sul, os dois de lá e em outros Estados.

JLPolítica - Na campanha deu para ler as necessidades reais dos sergipanos? Qual a mais grave delas? 
AV -
Deu. O sergipano tem pelo menos três grandes necessidades: saúde, segurança pública e emprego. O desemprego é muito marcante, porque há uma dependência total das pessoas em relação ao Estado - governos estadual e municipal - e é preciso encontrar soluções, incentivar a parte de serviços para criar mais oportunidades de emprego. 

JLPolítica – Entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, com quem mais o senhor se afeiçoa programaticamente?
AV -
Não me afeiçoo a nenhum deles. Farei uma escolha entre um deles, mas os dois projetos representam riscos à democracia. Mesmo assim, vou fazer uma escolha. Eu não me sinto confortável votando nulo ou branco. É uma questão pessoal, não é do partido. Eu prefiro me responsabilizar por uma das escolhas. 

Mas foi bem na briga pelas vagas na Alese. Kitty Lima, vereadora de Aracaju, conquistou uma das 24 cadeiras

REPERCUSSÃO DA ELEIÇÃO NA CIDADE NATAL, PASSO FUNDO
“Minha eleição foi notícia em jornal local, em rádio, no jornal de maior circulação do Sul também. Os familiares mandaram-me tudo. Chama a atenção, porque o Senado é uma representação muito importante. Seis senadores de origem no Rio Grande do Sul foram eleitos: um aqui em Sergipe, um no Mato Grosso do Sul, os dois de lá e em outros Estados”
 

JLPolítica – O senhor não acha rigorosa demais sua proposta do fim das reeleições para cargos majoritários, no que lhe atingiria?
AV -
Acho importante e não rigorosa demais. Inclusive, tem que reduzir o tamanho do mandato de senador para cinco anos, unificando os mandatos de todas as esferas. Defendo isso e apenas uma reeleição para os cargos proporcionais. Isso daria outra dinâmica à democracia brasileira. Faríamos uma eleição única a cada cinco anos, reduzindo custos, tendo uma velocidade maior de renovação democrática, uma ocupação qualificada dos espaços, já que você não poderia mais se preocupar em permanecer eternamente no poder. Enfim, uma democracia mais viva. 

JLPolítica - Então a sua eleição não inauguraria uma carreira política?
AV -
Não tenho pretensão de carreira política. Eu entrei porque percebi uma necessidade. Existia uma lacuna. Eu não encontrei ninguém que preenchesse essa lacuna da forma como eu entendia que fosse necessária, me coloquei à disposição e o sergipano confiou em mim. Daqui a um tempo, pode acontecer de ter um cenário similar, com outra necessidade. Existindo essa demanda, eu posso colocar meu nome à disposição. Mas a minha pretensão é fomentar novas lideranças. 

JLPolítica – O senhor não teria projeto de disputar a Prefeitura de Aracaju em 2020 ou o Governo de Sergipe em 2022?
AV -
Não tenho nenhum projeto nesse sentido. 

E Georgeo Passos, recém filiado ao partido, foi reeleito deputado estadual

DAS NECESSIDADES REAIS DOS SERGIPANOS
“O sergipano tem pelo menos três grandes necessidades: saúde, segurança pública e emprego. O desemprego é muito marcante, porque há uma dependência total das pessoas em relação ao Estado - governos estadual e municipal - e é preciso encontrar soluções, incentivar a parte de serviços para criar mais oportunidades de emprego"

JLPolítica – Qual o risco de o senhor pensar o mandato de senador como a extensão da atividade de um policial?
AV -
Nenhum. Não tem como misturar, são coisas muito diferentes. Já estou cuidando da questão do orçamento lá em Brasília. O importante é uma representação para o povo sergipano que busque solucionar os problemas que nós temos no âmbito estadual e federal, apresentando e ajudando a encontrar soluções reais, pois existem grandes reformas que precisam ser feitas. Existe uma necessidade de estabilizar o ambiente político brasileiro, de acabar com essa primazia que temos dos polos antagônicos, que é uma polarização artificial, deliberadamente criada pelo grupo que hoje é ocupado pelo PT e pelo Bolsonaro, através de fake news, ataques recíprocos, desinformação, para gerar um clima de “nós contra eles” e com isso ir ganhando voto. 

JLPolítica - Para além do exercício de legislar de um senador, o senhor acha que esse modelo tão propagado em Sergipe de trazer recurso é exequível ou antigo? 
AV -
É antigo na forma como era feito, com a negociata política, a barganha e, eventualmente, na corrupção. O que a gente colocou no programa é que você traga para a esfera do eleitor diretamente de para onde e como vão ser empregados os recursos. Então vamos ter todo o cuidado de solicitar lá em Brasília. Estamos já encontrando pessoas que tenham experiência nessa parte de execução orçamentária para viabilizar o máximo de recursos do Governo Federal. Os municípios sergipanos precisam muito, e vamos fazer isso já a partir da próxima semana numa conversa com os prefeitos. 

JLPolítica – O senhor premeditou o registro de sua candidatura com o nome de Delegado Alessandro Vieira? Por que o senhor não foi simplesmente Alessandro Vieira?
AV -
Porque por 17 anos as pessoas me conheceram como Delegado Alessandro através das milhares de entrevistas, notícias. Eu sempre fui identificado publicamente dessa forma, então simplesmente ajudou a confrontar essa identidade. 

Mas motivo mesmo comemorar teve Alessandro Viera, elegendo-se senador com 474.449 votos

SEM AFEIÇÃO POR BOLSONARO E NEM POR HADDAD
“Não me afeiçoo a nenhum deles. Farei uma escolha entre um deles, mas os dois projetos representam riscos à democracia. Mesmo assim, vou fazer uma escolha. Não me sinto confortável votando nulo ou branco. É uma questão pessoal, não é do partido. Eu prefiro me responsabilizar por uma das escolhas” 

JLPolítica - Então não foi uma estratégia de marketing? 
AV –
Nessa eleição, nós tivemos alguns militares e oficiais candidatos. Mas a maioria não se elegeu. Então não foi o nome nem o título que elegeria essa turma. 

JLPolítica - Afinal, quanto custou mesmo a sua campanha?
AV -
Cerca de R$ 80 mil. Nos últimos dois dias, foi liberada uma impressão maior de adesivos e santinhos por causa da demanda, que estava enlouquecida. A gente trabalhava com a estimativa de R$ 50 mil a R$ 55 mil, mas acabou ultrapassando. 

JLPolítica - Há perspectiva desse modelo desidratado de custo virar um modelo geral? 
AV -
Se os candidatos forem bons, eles podem trabalhar assim. Candidato ruim precisa de dinheiro para comprar liderança. 

Não lhe afeiçoa Bolsonaro, tampouco Haddad

REDUÇÃO DO TAMANHO DO MANDATO DE SENADOR 
“Tem que reduzir o tamanho do mandato de senador para cinco anos, unificando os mandatos de todas as esferas. Defendo isso e apenas uma reeleição para os cargos proporcionais. Isso daria outra dinâmica à democracia brasileira”

JLPolítica - As candidaturas avulsas que o senhor defende são um enfrentamento à existência dos partidos políticos? É com a intenção de acabá-los?
AV –
Não. Elas seriam numa coexistência com os partidos, embora eles precisem ser reformulados e ter a quantidade reduzida. Partido não pode ser fonte de renda para dirigente. Não pode ser cartório e nem moeda de troca às vésperas das eleições. Então quem tem interesse de se agrupar como partido, com a estrutura e tudo, que se agrupe. Quem tem interesse de liderar e representar um movimento, que possa também. A ideia é oxigenar, garantir mais renovação. Nem todo mundo tem paciência para essa vivência partidária. 

JLPolítica - Com dois estaduais e o seu mandato, há a possibilidade de ter uma ação unificada do partido em Sergipe? 
AV -
Sim. Nós temos um pré-planejamento nesse sentido, juntamente com dr Emerson, que é nosso porta-voz estadual. Existe toda uma intenção de fazer um trabalho, já a partir de agora, com vista a encontrar e valorizar novas lideranças que possam ser candidatas já em 2020. 

JLPolítica - Entre Belivaldo Chagas e Valadares Filho, quem tem mais chances de levar o seu apoio pessoal e do Rede?
AV –
O projeto que eu entendi como o melhor para Sergipe foi a eleição de Dr Emerson e Américo de Deus, mas que não foi validado pelo eleitor. Restaram Belivaldo Chagas e Valadares Filho na disputa. Nesta situação, faço a opção de voto por Valadares Filho. Considero esta escolha mais coerente com a minha bandeira essencial de combate à corrupção e moralização da máquina pública. O grupo que acompanha Belivaldo Chagas, que já contava com Jackson Barreto e sua turma, está inchando ainda mais com uma romaria de políticos derrotados nas urnas. Eles buscam na máquina pública abrigo para seus projetos políticos. Nada pode ser mais incompatível com a ideia de renovação e economia. Na condição de senador da República, estarei integralmente à disposição do futuro governador de Sergipe, independentemente de nomes, sempre pensando no interesse público acima das questões políticas, na mesma medida em que faremos a implacável fiscalização e denúncia de quaisquer situações de abuso ou desvio. Sergipe precisa de um novo tempo, vamos construir juntos este caminho".

No segundo turno sergipano, vai com Valadares Filho para governador

SEM PRETENSÃO DE FAZER CARREIRA POLÍTICA
“Não tenho pretensão de carreira política. Eu entrei porque percebi uma necessidade. Existia uma lacuna. Eu não encontrei ninguém que preenchesse essa lacuna da forma como eu entendia que fosse necessária, me coloquei à disposição e o sergipano confiou em mim”

JLPolítica – Diante da sua queda do posto de Delegado Geral pelo Governo Jackson Barreto, o senhor veria incoerência o senhor ter entrado no projeto de Belivaldo num segundo turno?
AV –
Não vi assim. A atuação que eu tive como delegado de polícia e a exoneração por parte de Jackson Barreto não tiveram interferência nenhuma de Belivaldo. A escolha da minha opção de voto vai se deu no sentido do que é melhor para o povo sergipano. 

JLPolítica - Quais as razões para o senhor ter prorrogado tanto essa decisão?
AV –
As razões vieram da necessidade de ouvir as pessoas. Foi preciso conversar. Eu me elegi oferendo essa alternativa, ao contrário do político velho, coronel, que decide tudo sozinho. Sou uma pessoa que vai conversar com todo mundo e que vou decidir também. Não vou ficar em cima do muro sobre nada. Mas para isso tem todo um processo. Hoje eu sou uma figura que tem, com essa eleição e esse montante de votos, uma importância aqui em Sergipe, mas também há os movimentos que são nacionais, já que o partido tem representação nacional, e eu tive de ouvi-los. 

JLPolítica – Afinal, depois de ouvir tantas esferas, sobro que de opinião pessoal sua nessa decisão?
AV -
A parte mais importante, sem dúvida, é a opinião pessoal, que é formada pelo conjunto de informações que você agrega. Ninguém é dono da verdade. 

Pede o fim da reeleição para presidente, governadores, prefeitos e senadores, apenas uma reeleição para deputados e vereadores

NA DEFESA DAS CANDIDATURAS AVULSAS
“Partido não pode ser fonte de renda para dirigente. Não pode ser cartório e nem moeda de troca às vésperas das eleições. Então quem tem interesse de se agrupar como partido, com a estrutura e tudo, que se agrupe. Quem tem interesse de liderar e representar um movimento, que possa também”

JLPolítica - Qual é o modelo proposto pelo Centro de Cidadania Fiscal para a reforma do sistema tributário brasileiro e por que acha que a proposta é positiva e exequível?
AV -
Ela traz como primeiro ponto de reforma tributária a fusão de cinco tributos que temos hoje: ICMS, ISS, IPI, PIS e Confins. Esses cinco seriam reunidos em um só, num tipo de tributo chamado de valor agregado, e que seria cobrado partindo da base do município, que já ficaria com essa parcela. Depois o Estado e a União. E não como se tem hoje, que é um modelo onde arrecada tudo, manda para Brasília e depois ele volta a conta gotas. A expectação desse centro é o de, apenas com essa mudança, ter um ganho de 10% no PIB ao longo de 10 anos. 

JLPolítica - Quais as vantagens para a justiça e para a segurança do país em que se garanta a execução provisória da pena já a partir da condenação em 1º grau?
AV –
Isso gera o fim da percepção de impunidade que se tem no Brasil. Você não pode ter processos criminais que durem uma década e não cheguem a um fim. Você não pode ter as pessoas praticando crimes e reiterando a prática de crimes enquanto respondem a processo. O José Dirceu, por exemplo, era condenado pelo Mensalão e praticava os crimes do Petrolão simultaneamente. 

JLPolítica – O senhor acha que “aumentar expressivamente o prazo máximo de internação de adolescentes que tenham cometido atos infracionais graves, como homicídio e latrocínio, de 3 para 12 anos” contribui para ressocializar esse tipo de infrator?
AV -
Sim. Você tem que trabalhar com duas esferas: a da proteção da sociedade e a da ressocialização do adolescente. Se você pega um adolescente que comete, por exemplo, um latrocínio, e aponta para ele apenas a internação de três anos e ao final desse processo, a ficha limpa, e você não está contribuindo para a sociedade estar protegida, além de estar gerando uma sensação fortíssima de impunidade. Então, é um intermediário entre a proposta brutal de simplesmente reduzir a maioridade penal, porque ela tem consequências muito negativas, como colocar ele num presídio e ele virar soldado de facção e consequentemente aumentando a violência. O prazo de internação sugerido é de 12 anos, mas a magistratura, o Judiciário sergipanos têm ponderado comigo. A gente vai dialogar, porque, como eu disse, ninguém é dono da verdade. Eles concordam com a majoração, mas não tão expressiva. Eles sugerem algo em torno de 6 a 8 anos. Isso tudo é ponto de discussão. 

É a favor das candidaturas avulsas, onde não há necessidade de filiação partidária

A OPÇÃO DE VOTO POR VALADARES FILHO
“Considero esta escolha mais coerente com a minha bandeira essencial de combate à corrupção e moralização da máquina pública. O grupo que acompanha Belivaldo, que já contava com Jackson e sua turma, está inchando ainda mais com uma romaria de políticos derrotados nas urnas”

JLPolítica - Qual foi o ponto mais negativo da campanha? 
AV -
O que mais incomoda é perceber um uso abusivo do recurso público, seja ele tirado do fundo partidário ou privado através da corrupção. Recursos que originariamente são nossos acabam sendo utilizados para fazer campanha suja. Fake news, distribuição irregular de material, também. Todo o material forte de abusos, aquela quantidade imensa de pessoas. Em uma caminhada que eu fiz, brinquei que com fogos e bandeiras o meu adversário havia gastado mais do que eu na campanha inteira. 

JLPolítica - Algum fake news lhe marcou expressamente?
AV -
Tem uns fake news que são cômicos. Soltaram um dizendo que eu tinha uma ex-mulher que apanhava de mim. Como eu não tenho ex-mulher, era um fake que não ia para lugar nenhum. Mas isso rendeu muito. Era o fake do fake, porque sou casado há 17 anos e tenho um relacionamento com minha esposa há 22 anos. Nunca tive esposa ou noiva anteriormente. E o ataque moral vinculado à questão da família, que foi feito deliberadamente distribuído por uma empresa contratada no Rio de Janeiro e a gente está solicitando que tudo isso seja apurado, porque é prática de crime. Não sabemos ainda de onde veio, mas há indícios de que veio de alguém que buscava votos no público evangélico e tradicional conservador.

Tem apenas 42 anos: é casado, pai de 3 filhos, delegado civil há 16 anos e senador eleito do Estado de Sergipe
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