Danielle Garcia: “Nossa missão é tornar o Podemos protagonista na política sergipana”

Entrevista

Jozailto Lima

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Danielle Garcia: “Nossa missão é tornar o Podemos protagonista na política sergipana”

24 de julho de 2021
“Temos o objetivo de libertar o povo de Sergipe das mãos do atual grupo político”

No dia 29 de novembro do ano passado, Danielle Garcia, então no Cidadania, 44 anos, saiu da disputa do segundo turno pela Prefeitura de Aracaju montada numa montanha 109.864 votos, ou 42,14% dos válidos, para perder para Edvaldo Nogueira, PDT, o guloso que ia à reeleição e papou 150.823 votos. Ou 57,86% dos válidos.

Depois dali, Danielle Garcia voltou a bater ponto e a carregar pedras pesadas e comuns em seu ofício de delegada da Polícia Judiciária do Estado de Sergipe, da qual é servidora concursada desde 2000.

Mas, apesar de tratar aquela votação toda com uma boa discrição, de não querer ser mãe exclusiva de nada daquilo, Danielle Garcia dá demonstrações clássicas de que não está disposta a varrer para debaixo do tapete aquele espólio todo.

Na última semana, Danielle deu uma passada larga e trocou o Cidadania dela e de Alessandro Vieira pelo Podemos. Pelo Podemos do deputado estadual governista Zezinho Sobral, que se sentiu abruptamente expulso do seu ninho partidário.

“Existe um alinhamento de valores com o Podemos, que é um partido que defende a moralidade e a ética no fazer político. Defende o respeito aos recursos públicos, tem uma estrutura de compliance própria e é um partido disposto a ser protagonista no processo eleitoral de 2022”, justificou a moça.

“A direção nacional me fez o convite de capitanear esse processo em Sergipe, e me sinto muito honrada e empolgada para desenvolver um trabalho que ajude a vida das pessoas”, completou.

Danielle Garcia: estreia pelo teto, disputando logo a Prefeitura de Aracaju, e não fez feio
Danielle Garcia num dos muitos momentos em que concede entrevista como “autoridade policial”

Danielle Garcia Alves nasceu em Aracaju no dia 26 de dezembro de 1976. Ela é filha de Rosival da Silva Alves e de Dilma Maria Garcia Alves, e mãe de Maria Garcia Alves Soares, 20 anos, uma estudante de Direito. É divorciada.

Danielle Garcia concluiu Direito pela Universidade Federal de Sergipe em 1999 e tem especializações em Gestão Estratégica em Segurança Pública e mestrado em Direito Público, ambos pela própria UFS.

Na estrutura da Secretaria de Segurança Pública ela já foi diretora do Sistema de Inteligência - SISP - e do Departamento de Crimes contra a Ordem Tributária e Administração Pública - Deotap -, e presidiu a Comissão de Disciplina da Corregedoria da Polícia Civil.

“Juntos, nós somos oposição e vamos para a eleição contra o grupo de Belivaldo Chagas, Edvaldo Nogueira, Jackson Barreto e André Moura. Precisamos libertar nosso Estado do atraso”, diz ela. O “juntos” aí engloba Alessandro Vieira.

A Entrevista com Danielle Garcia pede para ser lida e de fato justifica a entrega.

Danielle Garcia e Alessandro Vieira: por mais que inventem histórias negativas, ela promete harmonia
DAS RAZÕES DE OPTAR PELO PODEMOS
“Existe um alinhamento de valores com o Podemos, que é um partido que defende a moralidade e a ética no fazer político. Defende o respeito aos recursos públicos, tem uma estrutura de compliance própria e é disposto a ser protagonista no processo eleitoral de 2022”


JLPolítica - Por que esta sua opção pelo Podemos?
Danielle Garcia -
Existe um alinhamento de valores com o Podemos, que é um partido que defende a moralidade e a ética no fazer político. Defende o respeito aos recursos públicos, tem uma estrutura de compliance própria e é um partido disposto a ser protagonista no processo eleitoral de 2022. A direção nacional me fez o convite de capitanear esse processo em Sergipe, e me sinto muito honrada e empolgada para desenvolver um trabalho que ajude a vida das pessoas.

JLPolítica - As tratativas foram feitas mais entre a senhora e a Executiva Nacional deste partido, ou foram mais mediadas pelo senador Alessandro Vieira?
Danielle Garcia -
O senador Alessandro sempre esteve ciente das conversas, mas tudo foi conduzido por mim e pela Executiva Nacional da forma mais transparente e respeitosa possível.

JLPolítica - A senhora estava se sentindo desconfortável no Cidadania?
Danielle Garcia -
De forma alguma. A minha saída não representa nenhum tipo de desgaste ou de rompimento, mas o fortalecimento do grupo que faz oposição a Jackson Barreto, Belivaldo Chagas e Edvaldo Nogueira, significando, ainda, o fortalecimento da participação feminina na política em Sergipe.

Rosival da Silva Alves e Dilma Maria Garcia Alves, os pais no primeiro acalanto
DA MISSÃO QUE SE IMPÕE COM PODEMOS
“Nossa missão é tornar o Podemos protagonista na política sergipana, com quadros qualificados que nos permita ir em busca da eleição majoritária, de deputados federais e de estaduais. Queremos formar um grupo forte e com qualidade para representar o povo de Sergipe”


JLPolítica - Então sai sem queixas do Cidadania?
Danielle Garcia -
Claro. Os integrantes do Cidadania sempre me acolheram de forma brilhante e permaneceremos parceiros na frente de renovação e de luta contra um grupo político que deixou nosso Estado em uma década de atraso.

JLPolítica - Mas o que a senhora pretende fazer do Podemos na esfera de Sergipe?
Danielle Garcia -
Nossa missão é tornar o Podemos protagonista na política sergipana, com quadros qualificados que nos permita ir em busca da eleição majoritária, de deputados federais e de estaduais. Queremos formar um grupo forte e com qualidade para representar o povo de Sergipe.

JLPolítica - A senhora acha que herdará para a nova realidade do Podemos alguma das infraestruturas geradas por Zezinho Sobral no Estado?
Danielle Garcia -
O deputado Zezinho deu a contribuição dele ao partido, e respeito muito isso. Porém, por determinação da Executiva Nacional, o Podemos passará por um processo de reorientação política dentro do Estado e todos que fazem parte hoje dos quadros do partido estão convidados a participar, a contribuir e a colher os frutos desse trabalho.

Olha aí Rosival Alves e Dilma Garcia num outro tipo acalanto: formatura
ZEZINHO SABIA DOS ENTENDIMENTOS
“O deputado Zezinho sempre esteve em contato com Executiva Nacional e acompanhou passo a passo a movimentação. Esteve pessoalmente com a deputada federal Renata Abreu, presidente do Podemos, em Brasília, de quem soube diretamente de todas as tratativas”


JLPolítica - Mas quem quiser ficar...
Danielle Garcia -
Todos serão bem-vindos, desde que estejamos alinhados, o que não significa que precisaremos ter pressa ou fechar questões, especialmente nesse primeiro momento. Acredito muito na responsabilidade do voto dos parlamentares. Eles devem servir ao povo e não cegamente ao governo, qualquer que seja ele.

JLPolítica - Que história é essa de que Zezinho Sobral fora informado de todas as tratativas entre a sua pessoa e a da presidente Renata Abreu sobre sua filiação?
Danielle Garcia -
É verdadeira. O deputado Zezinho sempre esteve em contato com Executiva Nacional e acompanhou passo a passo a movimentação. Esteve pessoalmente com a deputada federal Renata Abreu, presidente do Podemos, em Brasília, de quem soube diretamente de todas as tratativas.

JLPolítica - Como é que a senhora recebeu a reação dele à sua chegada?
Danielle Garcia -
Com naturalidade. É compreensível que o líder do governo não se sinta confortável com a reorientação política do partido do qual faz parte. Estou focada mesmo é no que vamos construir daqui pra frente.

Sim, antes da dança política e da polícia, Danielle Garcia traçava um outro balé
AINDA VAI DECIDIR O QUE DISPUTARÁ
“Vamos decidir o que é melhor para o Estado de Sergipe junto com a população, sem vaidades ou projetos individuais. Temos o objetivo de libertar o povo de Sergipe das mãos do atual grupo político e, com isso em mente, e obviamente também atentos à legislação eleitoral, vamos decidir qual o melhor caminho a seguir”


JLPolítica - A senhora diria, então, que, diante disso tudo, é incompatível a permanência de Zezinho no Podemos?
Danielle Garcia -
Acredito que seja difícil a permanência dele no partido com esse novo realinhamento político em Sergipe, notadamente por ser ele o líder do governo Belivaldo na Assembleia. Mas trataremos disso com tranquilidade.

JLPolítica - Pela Executiva Nacional, a senhora já estaria chancelada pré-candidata a deputada federal. Mas a senhora não teria uma pretensão mais acentuada por disputar uma das duas vagas majoritárias de 2022?
Danielle Garcia -
Nós vamos decidir o que é melhor para o Estado de Sergipe junto com a população, sem vaidades ou projetos individuais. Temos o objetivo de libertar o povo de Sergipe das mãos do atual grupo político e, com isso em mente, e obviamente também atentos à legislação eleitoral, vamos decidir qual o melhor caminho a seguir.

JLPolítica - Quando a senhora usa a expressão “cada um trilhar a sua história com independência”, em relação a Alessandro Vieira, está sinalizando para uma relação política sem muito elo entre ambos?
Danielle Garcia -
Não há sinalização alguma, nenhuma mensagem subliminar nisso. Cada pessoa deve trilhar o seu caminho com independência, e isso já era feito antes e agora está ainda mais claro. O senador Alessandro é um amigo e parceiro de atuação política, possui um mandato exemplar e ele e o grupo do Cidadania permanecem sendo parceiros.

Danielle Garcia, na dura rotina de delegada de Polícia Judiciária de Sergipe, onde ela está há 21 anos e adora o que faz
RESPEITO À MISANTROPIA DE ALESSANDRO
“É preciso tratar com muito respeito o jeito de ser de cada pessoa. Eu tenho o meu próprio jeito de ser, a minha própria personalidade, e isso não me faz melhor e nem pior do que ninguém. Apenas diferente. Temos a impressão errada de que bons políticos são os que dão tapinha nas costas e tem sorriso fácil”


JLPolítica - A senhora subscreve ou admira o jeitão misantropo e quase glacial de ser de Alessandro Vieira?
Danielle Garcia -
É preciso tratar com muito respeito o jeito de ser de cada pessoa. Eu tenho o meu próprio jeito de ser, a minha própria personalidade, e isso não me faz melhor e nem pior do que ninguém. Apenas diferente. Temos a impressão errada de que bons políticos são os que dão tapinha nas costas e tem sorriso fácil. Em geral, esse político boa praça tem roubado nosso dinheiro e deixado os mais pobres cada vez mais dependentes das migalhas dadas durante as eleições. Muitas personalidades políticas seguem essa linha que parece ser mais palatável para a imprensa, mas o que temos é um amontoado de processos de improbidade, crimes eleitorais e corrupção, sem falar na incompetência das gestões.

JLPolítica - Afinal, por que os analistas políticos insistem tanto num suposto mal-estar político entre a senhora e esse senador?
Danielle Garcia -
A estratégia é sempre a de fragilizar seu adversário. A política é um universo de muitas vaidades e apostam sempre nessa estratégia contra nós, pensando que somos vaidosos e que isso nos afetará. Tentam por diversas formas nos dividir e enfraquecer. Enquanto isso, seguimos trabalhando arduamente, com as nossas habilidades, com as nossas limitações, mas sempre com a nossa união e a nossa coragem.

JLPolítica - Houve ou não um deliberado afastamento dele da campanha de Aracaju do ano passado?
Danielle Garcia -
Alessandro possui mandato e foi eleito para ser senador, não foi eleito para ser cabo eleitoral de A ou de B. Ele ajudou até onde a dinâmica do mandato dele permitia. Além disso, é preciso deixar claro que mulher nenhuma precisa de algum homem como garantidor de candidatura e liderar processos do qual ele não está efetivamente à frente como candidato.

Mãe e filha: Danielle Garcia e a filhota Maria Garcia Alves Soares, hoje com 20 anos. As duas buscaram os caminhos do Direito
DA AUTONOMIA DOS VOTOS E DO ELEITOR
“Ninguém é dono do voto de ninguém. Talvez as pessoas que mandam e desmandam no Estado hoje se sintam donas de tudo, inclusive do voto da população e a imprensa repercute essa lógica por muitas vezes, mas entendo que voto é algo que se conquista. O voto é da população, não é meu”


JLPolítica - Qual é a compreensão pessoal e política que a senhora tem daqueles 109.864 votos, ou 42,14% dos válidos, obtidos para prefeita de Aracaju em 2020?
Danielle Garcia -
Acredito que saímos muito vitoriosos politicamente, especialmente por ter sido a primeira vez que fui candidata, sem qualquer contato prévio com partidos políticos ou qualquer coisa relacionada. Fomos para uma eleição contra absolutamente todas as forças políticas e econômicas do Estado, e mesmo assim chegamos ao segundo turno e tivemos uma votação expressiva. Temos ali a certeza de que tudo isso é só o começo.

JLPolítica - A senhora não atribui parte desses votos à caudalosa votação de Alessandro Vieira em 2018 e outra parte a Valadares Filho, que vinha de um segundo turno no mesmo ano?
Danielle Garcia -
Ninguém é dono do voto de ninguém. Talvez as pessoas que mandam e desmandam no Estado hoje se sintam donas de tudo, inclusive do voto da população e a imprensa repercute essa lógica por muitas vezes, mas entendo que voto é algo que se conquista. O voto é da população, não é meu. Não é de Alessandro ou de Valadares Filho, e é assim que deveria e que tem que ser.

JLPolítica - A senhora poderá ir à disputa eleitoral de 2022 apartada de Alessandro Vieira?
Danielle Garcia -
Juntos, nós somos oposição e vamos para a eleição contra o grupo de Belivaldo Chagas, Edvaldo Nogueira, Jackson Barreto e André Moura. Precisamos libertar nosso Estado do atraso.

Com os pais e um dos irmãos, Rosival da Silva Alves Filho, no dia da primeira comunhão
DA SUPOSTA AGRESSIVIDADE EM 2020
“Se eu escondesse que sou uma mulher forte e corajosa, eu estaria cometendo um estelionato eleitoral. Entretanto, o marketing adversário criou uma distorcida imagem da realidade. Quando você não tem qualidade para mostrar de si, você transforma as qualidades do seu adversário em defeitos e nivela tudo por baixo”


JLPolítica - A senhora entrou na campanha de 2020, sobretudo na propaganda da televisão, com os dois pés nos peitos, com um temperamento que muitos rotularam de agressivo. A senhora faria um mea culpa daquilo hoje e agiria diferentemente?
Danielle Garcia -
Se eu escondesse que sou uma mulher forte e corajosa, eu estaria cometendo um estelionato eleitoral. Entretanto, o marketing adversário criou uma distorcida imagem da realidade. Quando você não tem qualidade para mostrar de si, você transforma as qualidades do seu adversário em defeitos e nivela tudo por baixo. Mas uma coisa eles jamais vão poder imputar a mim: que sou corrupta, que participei de desvios de dinheiro público, que prevariquei. A minha indignação é legítima, pois não tenho sangue de barata em ver meia dúzia de políticos se abastando em cima da população sem emprego, sem saúde e sem educação. Jamais serei passiva ou conivente em relação a isso pois, na minha opinião, ser passivo é ser cúmplice.

JLPolítica - Qual é o conceito que a senhora tem da gestão de Edvaldo Nogueira em Aracaju?
Danielle Garcia -
Vejam: a eleição passou e, pasmem, o gestor Edvaldo já sumiu. As ruas continuam esburacadas, as enchentes continuam dificultando a vida do aracajuano, temos uma saúde envolta com indícios de desvios de verba, o Nestor Piva pega fogo e pessoas estão morrendo por incompetência de gestão. Essa é a Aracaju real. Aquela Aracaju do conto de fadas ficou na eleição.

JLPolítica - E da de Belivaldo Chagas, sobre Sergipe?
Danielle Garcia -
Belivaldo governa o Estado como se dono dele fosse, sem responsabilidade com quem mais precisa e agindo conforme a conveniência política. Nosso Estado não gera emprego, penaliza o empreendedor e permite que pessoas morram em filas de espera por UTI.

Danielle Garcia e o gato de estimação Alfredo. A felina que abraça nasceu no dia 26 de dezembro de 1976
NÃO SUBSCREVE O BOLSONARISMO
“Nunca fui bolsonarista ou qualquer ista. Não sou adepta de rótulos. Eu sou Danielle Garcia, e tenho meus princípios e meus valores, que foram passados pelos meus pais, e é por eles que baseio a minha vida. Seja dentro ou fora da política”


JLPolítica - Pelas voltas do destino e da “santa política”, a senhora não se veria fazendo política num grupo onde estivessem os dois?
Danielle Garcia -
Onde estivessem Belivaldo Chagas e Edvaldo Nogueira? Nunca.

JLPolítica - Como ficou a sua vida de funcionária pública como delegada da Polícia Judiciária de Sergipe no pós- eleição de 2020?
Danielle Garcia -
Voltei a trabalhar na Polícia logo após as eleições. Fui designada a atuar como delegada plantonista na Central de Flagrantes.

JLPolítica - A senhora continua uma bolsonarista?
Danielle Garcia -
Nunca fui bolsonarista ou qualquer ista. Não sou adepta de rótulos. Eu sou Danielle Garcia, e tenho meus princípios e meus valores, que foram passados pelos meus pais, e é por eles que baseio a minha vida. Seja dentro ou fora da política.

Zezinho Sobral, comandante do Podemos até a semana passada, se viu ejetado do partido
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