Eduardo D’Ávila: “Seria maldade absoluta pensar em alinhamento incondicional com o Governo”

Entrevista

Jozailto Lima

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Eduardo D’Ávila: “Seria maldade absoluta pensar em alinhamento incondicional com o Governo”

Publicado em  24  de novembro de  2018, 20:00h

“A sociedade deve esperar de mim o cumprimento do papel institucional do MPE”

Sem segredos, sem surpresas, sem mudança de rotas, sem alinhamento de qualquer espécie com o Governo do Estado e seguindo a linha de uma prestação de serviço que atenda à chamada atividade-fim da instituição. 

É assim que o novo procurador-geral do Ministério Público do Estado de Sergipe – MPE - Eduardo Barreto D’Ávila Fontes, 56 anos, quer conduzi-lo nos próximos dois anos. Ele assumiu a gestão geral da casa no último dia 12 deste mês.

Eduardo D’Ávila disputou uma eleição interna com o promotor de justiça Manoel Cabral Machado Neto, fico em segundo lugar na votação, compôs a lista dúplice e mesmo assim foi o nomeado pelo governador Belivaldo Chagas, PSD.

Este é um assunto que Eduardo D’Ávila dá por encerrado. Ou, aliás, ele nunca o deu por aberto, mas há insinuações de bastidores de que a gestão dele colocaria o Ministério Público do Estado de Sergipe meio que alinhado do Governo do Estado, em retribuição pela simpatia do governador. 

“Seria maldade absoluta que alguém pensasse assim, em alinhamento incondicional com o Governo, porque nós não teremos esse tipo de alinhamento”, refuta o procurador-geral.

“O alinhamento é o legal e institucional que a própria Constituição determina: o da harmonia entre poderes e órgãos para que você tenha o desenvolvimento do Estado”, fundamenta.

Para Eduardo D’Ávila, não há que se identificar nenhum tipo de subterfúgio na opção legal e constitucional pelo governador Estado pelo seu nome.

“Eu acredito, até porque em conversas com o governador ele chegou a declarar isso, que o que lhe moveu foi uma análise curricular de cada um. Ele inclusive solicitou os currículos para esta análise”, diz.

“Aliás, com ele eu já vinha tendo contatos pessoais institucionalmente durante a gestão de Rony Almeida, na qual eu ocupava o cargo de chefe de gabinete e tinha, por dever de ofício, grande interlocução com o Governo do Estado, com o Legislativo e o próprio Judiciário. Então eu acredito que tenha sido isso”, reforça.

Afora isso, Eduardo D’Ávila tem o Ministério Público na condição de uma instituição vedada, blindada e infensa aos desejos pessoais de quem o comanda. “O Ministério Público desempenha seu papel independentemente da vontade do procurador-geral”, adverte ele.

“As Promotorias têm independência funcional, e um eventual alinhamento do procurador-geral não diz que será o alinhamento total do Ministério Público. Então, esse é um pensamento que não deve passar pela cabeça de ninguém. Asseguro que podem ficar com muita tranquilidade, porque esse fato não existirá”, ressalta.

Mas o que a sociedade deve esperar da sua gestão, então? “A sociedade pode e deve esperar de mim uma pessoa extremamente dedicada ao cumprimento do papel institucional do Ministério Público. Nesses 28 anos em que estou no MP, tenho visto que todos os avanços sociais têm a presença dessa instituição”, diz ele.

Está nisso o que Eduardo D’Ávila em síntese chama de atividade-fim do Ministério Público. “Na verdade, é você prestigiar ao máximo e que cada unidade do Ministério Público desempenhe o seu papel com a eficiência desejada e ideal para que, efetivamente, ele possa prestar um bom serviço à sociedade. Esse é o foco específico do que chamamos de atividade-fim”, diz.

“Quando você assume uma Procuradoria-Geral, que é um misto de atividade-fim, na qual o procurador funciona perante o Tribunal de Justiça e também no plano administrativo, esse enfoque é o de trabalhar incessantemente para criar essa estrutura que faça a máquina funcionar com perfeição. Então, meu papel aqui é atender às demandas administrativas das Promotorias”, diz.

Nega alinhamento incondicional com o Governo
É casado com a promotora de justiça Gicele Mara Cavalcante Fontes

DA CARÊNCIA POR UM POUCO MAIS DE PROMOTORIAS
“O ideal seria um quadro um pouco maior. Porém, temos limites constitucionais e de responsabilidade fiscal, e não podemos aumentar aleatoriamente. É sempre aquela história de fazer mais com menos”

JLPolítica - Está no seu horizonte pensar em um novo concurso?
ED -
Sim. Nós temos já claro, dentro desse organograma, que precisa ser feito um para cobrir as necessidades. Mas tem que se analisar com muita cautela as questões orçamentária e financeira para ver se teremos condições de efetivamente nomear as pessoas. Mas o concurso já é uma necessidade identificada e, portanto, uma preocupação da administração.

JLPolítica - Para além dos procuradores e promotores, de quanto é o quadro geral do MP de Sergipe?
ED –
Entre membros e servidores, são mais ou menos 700 pessoas.

JLPolítica - Tem regiões e setores mais assistidos e outros menos na distribuição pelas comarcas?
ED -
Não. Efetivamente, não. Porque é bem distribuído por regiões e dá para atender a todas. É a mesma formatação do Judiciário.

JLPolítica - Há uma crise de ciúme entre as Promotorias, ao ponto de uma achar que é mais protegida do que outra?
ED -
Não. Acredito que não. É claro que a carência de pessoal é sempre um assunto corrente dentro do MP, porque nós temos mesmo essa carência. Mas, pelas questões financeiras, eu não tenho condições de duplicar o quadro nem de servidores nem dos demais membros. 

Sucedeu a Rony Almeida na chefia do MPE de Sergipe

O QUE É ATIVIDADE-FIM DO MINISTÉRIO PÚBLICO?
“Na verdade, é você prestigiar ao máximo e que cada unidade do Ministério Público desempenhe o seu papel com a eficiência desejada e ideal para que, efetivamente, ele possa prestar um bom serviço à sociedade”

JLPolítica – Qual é a real tradução do foco na atividade-fim do Ministério Público que a sua gestão promete como horizonte?
Eduardo D’Ávila -
Na verdade, é você prestigiar ao máximo e que cada unidade do Ministério Público desempenhe o seu papel com a eficiência desejada e ideal para que, efetivamente, ele possa prestar um bom serviço à sociedade. Esse é o foco específico do que chamamos de atividade-fim. Quando você assume uma Procuradoria-Geral, que é um misto de atividade-fim, na qual o procurador funciona perante o Tribunal de Justiça e também no plano administrativo, esse enfoque é o de trabalhar incessantemente para criar essa estrutura que faça a máquina funcionar com perfeição. Então, meu papel aqui é atender às demandas administrativas das Promotorias.

JLPolítica - Elas são muitas?
ED –
Elas são 128 Promotorias no Estado, distribuídas entre capital e interior, com duas entrâncias especificamente, a inicial, que são as comarcas mais longínquas e de população mais reduzida, e a dos municípios onde há uma população maior e, portanto, um número de processos também maior. Essas são as de segunda entrância – inclusive as da capital. 

JLPolítica - Essa infraestrutura que o MPE dispõe hoje para cobrir as demandas de quase 2,3 milhões pessoas é a suficiente?
ED
– Não, não são. O ideal seria um quadro um pouco maior. Porém, nós temos limites constitucionais e de responsabilidade fiscal, e não podemos aumentar aleatoriamente. É sempre aquela história de fazer mais com menos. Mas precisaríamos de um incremento um pouco maior. Nós temos que fazer grupos de apoio, como no caso dos centros de apoio, do Gaeco, para poder concentrar esse trabalho braçal em determinados organismos que pulverizem e facilitem o trabalho das Promotorias.

JLPolítica - Quando foi o último concurso da instituição?
ED -
Salvo engano, foi há seis anos, ainda na gestão de Cristina Mendonça. Mas as nomeações só começaram na de Orlando Rochadel.

Com Edvaldo Nogueira, prefeito de Aracaju, que foi prestigiar a sua posse

CAMPANHA PELA SUCESSÃO E SUA ATIPICIDADE
“O fato de ser muito para dentro, é porque é da natureza mesma do processo e da instituição. Ficaria muito ruim ocupar a sociedade e a imprensa para fazer uma campanha que se destina a um eleitorado muito específico e reduzido. Não é uma caixa preta” 

JLPolítica – O que a sociedade pode e deve esperar da sua gestão?
ED -
A sociedade pode e deve esperar de mim uma pessoa extremamente dedicada ao cumprimento do papel institucional do Ministério Público. Nesses 28 anos em que estou no MP, tenho visto que todos os avanços sociais têm a presença dessa instituição. Cito até coisas que podem parecer tolas, mas que não o são, como o fato de em Aracaju já haver um desenvolvimento urbano preocupado com a acessibilidade. Esse é um ganho que teve um papel fundamental do Ministério Público. Não fosse a atuação das nossas Promotorias, nós não estaríamos nesse nível de acessibilidade. É o ideal? Claro que não. Mas estamos trabalhando para que o seja. 

JLPolítica - Quais são as grandes causas onde o senhor vê mais fortemente o DNA do Ministério Público?
ED -
Nós temos a questão dos lixões, por exemplo. Não fosse a atuação do MP nesse sentido, nós talvez tivéssemos ainda com os lixões a céu aberto como regra -  como ainda temos em alguns locais. Mas o Ministério Público está sempre combatendo. Mais recentemente, estamos com uma campanha incessante contra a irregularidade dos matadouros, que é uma questão de higiene, de saúde pública. A sociedade às vezes, por estar acostumada àquele nível de imundície, nem percebe o risco que está correndo em sua saúde pessoal com matadouros irregulares e aí o Ministério Público tem atuado incansavelmente para tentar corrigir esses desvios, por entender que na sociedade moderna não são mais possíveis, permitidos ou cabíveis.

JLPolítica – Mas em algum momento, o senhor entende que o Ministério Público excede?
ED -
Não vejo isso em nossa ação. É claro que a atuação pessoal de cada membro depende, por ser pessoal, de cada qual. Mas vejo sempre, ainda que você tenha uma atuação diferente da minha, um objetivo principal a ser alcançado. Então não vejo como excesso nas formas de agir.

JLPolítica - Quem corrige promotores e procuradores?
ED -
Há uma Corregedoria nossa, e muito atuante aqui no Estado. E nós temos também o Conselho Nacional do Ministério Público – CNMP -, assim como tem o da magistratura. E esses Conselhos têm corrigido rumos às vezes um pouco desviados. Mas não há muitos desvios.

Em Brasília, Eduardo e Gicele na formatura de Victor Bozon Almeida, filho do casal Rony Almeida e Jânua Bozon Almeida

NORMALIDADE NO SISTEMA DE ELEIÇÃO E NOMEAÇÃO
“Hoje é uma campanha já da Associação Nacional dos Membros do Ministério Público Federal que esse processo de formação de lista seja instituído até pelo órgão. Porque é uma coisa extremamente democrática e desejada”

JLPolítica - Como está a relação do senhor com Machado depois da sua nomeação por Belivaldo Chagas?
ED –
Eu considero como extremamente normal. Machado é um colega querido. Não tenho nada a me opor no sentido pessoal a ele. Há pouco tempo, inclusive, integrava a nossa equipe de trabalho na condução do Ministério Público, que era composta por mim, por Rony Almeida e por ele. É um profissional preparado. Habilidoso. Não tenho tido contato com ele, porque está em férias. Mas retornando, teremos sim.  

JLPolítica – O senhor não teme que a sua eleição possa reeditar um tempo que o Ministério Público Estadual vivia em pé de guerra com seus próprios componentes, como bem demonstram os episódios entre José Renato Sampaio e Moacir Soares da Mota?
ED –
O processo eleitoral sempre traz alguns incômodos, e é exatamente por isso mesmo que ele não deve ser publicizado. A maturidade das pessoas leva a um transcurso normal desse processo, para que não se traga traumas institucionais. Hoje, por exemplo, José Renato Sampaio é aposentado, mas sempre temos contato porque ele capitaneia o grupo de aposentados e traz sempre os pleitos. O procurador Moacir Soares da Mota também é uma pessoa totalmente integrada dentro do MP. Saudando os colegas no discurso de minha posse na pessoa dele, eu disse que ele é o decano e que tem muito a nos ensinar. E tem ensinado muito, porque tem uma fantástica ficha de serviços prestados à instituição. Então, Moacir é uma pessoa que a gente tem que buscar os ensinamentos para melhor conduzir a instituição. De modo que não vejo qualquer percalço nesse processo eleitoral como o que já aconteceu no passado. 

JLPolítica - É maldade achar que a sua gestão pode ter um alinhamento com o Governo do Estado apenas por causa da sua nomeação tendo sido o segundo mais votado?
ED -
Sim. Seria maldade absoluta que alguém pensasse assim, em alinhamento incondicional com o Governo, porque nós não teremos esse tipo de alinhamento. O alinhamento é o legal e institucional que a própria Constituição determina: o da harmonia entre poderes e órgãos para que você tenha o desenvolvimento do Estado.

JLPolítica – Nada de âmbito pessoal?
ED –
Não. É a reverência à administração em si. O Estado é que é o enfoque. Claro que nós temos, pessoalmente, uma relação institucional excelente com o governador Belivaldo Chagas, e isso nós vamos manter. Sem qualquer problema. O Ministério Público desempenha seu papel independentemente da vontade do procurador-geral. As Promotorias têm independência funcional, e um eventual alinhamento do procurador-geral não diz que será o alinhamento total do Ministério Público. Então, esse é um pensamento que não deve passar pela cabeça de ninguém. Asseguro que podem ficar com muita tranquilidade, porque esse fato não existirá.

Com o velho Flamarion, que foi secretário de segurança pública de Sergipe na segunda gestão de João Alves

DA NECESSIDADE DE PENSAR UM NOVO CONCURSO
“Nós temos já claro, dentro desse organograma, que precisa ser feito um para cobrir as necessidades. Mas tem que se analisar com muita cautela as questões orçamentária e financeira para ver se teremos condições de efetivamente nomear as pessoas”

JLPolítica - O senhor acha que a instituição sai dividida a partir da eleição em que Manoel Cabral Machado Neto foi o mais votado para procurador-chefe?
ED -
Não. Absolutamente, não. Até porque esse é um processo que já está extremamente sedimentado dentro do Ministério Público, tanto é verdade que o próprio Ministério Público Federal, não tem sequer essa formação de lista - a escolha do procurador-geral da República é de livre iniciativa do presidente. Ele não precisa de lista nem de eleição. Ele escolhe dentro dos membros do Ministério Público. Mas hoje é uma campanha já da Associação Nacional dos Membros do Ministério Público Federal que esse processo de formação de lista seja instituído até pelo órgão. Porque é uma coisa extremamente democrática e desejada.  

JLPolítica – A própria Raquel Dodge passou pela mesma situação...
ED –
Sim, ela foi a segunda mais votada. E essa votação é informal, não é uma exigência constitucional. No caso do Ministério Público Estadual, é uma exigência constitucional.

JLPolítica – O senhor teme que a turma ligada ao promotor Machado Neto possa dificultar o seu trabalho de procurador-geral?
ED –
Não. E por um fator muito simples: eu tinha dito inclusive na campanha que nosso eleitorado é diferenciado, porque após o voto ele continua sendo colega. Então, estamos todos num barco só. Eu tenho certeza de que nenhum colega quer que o Ministério Público naufrague. A partir do momento da eleição, com a escolha feita pelo governador Belivaldo Chagas, zera tudo e todos estamos no mesmo barco de que falo. Tenho sentido isso com as visitas constantes dos colegas, dizendo do apoio, do interesse de que o Ministério Público vá adiante, da forma que já vimos atuando há algum tempo.

JLPolítica - Diferentemente da eleição para o governador, senador, da OAB, os senhores fizeram uma eleição eticamente para dentro. Silenciosa. Como o senhor traduz o processo eleitoral daqui?
ED –
Foi de uma extrema normalidade. Não vejo nada que discrepasse. O fato de ser muito para dentro, é porque é da natureza mesma do processo e da instituição. Ficaria muito ruim você ocupar a sociedade e a imprensa para fazer uma campanha que se destina a um eleitorado muito específico e reduzido. Não é uma questão de criar uma caixa preta. É a de você não fazer publicidade pessoal. Porque numa campanha convencional você faz isso, fora do grupo de interesse dessa publicidade. Eu acho que agir assim aqui seria mais expor o Ministério Público do que trazer benefícios para a campanha. As nossas pequenas disputas aqui não interessam à sociedade.

E perante a Rony, prestou seu juramento de posse

“MACHADO É UM COLEGA QUERIDO”
“Não tenho nada a me opor no sentido pessoal a ele. Há pouco tempo, integrava a nossa equipe de trabalho na condução do Ministério Público, que era composta por mim, por Rony e por ele. É um profissional preparado. Habilidoso”

JLPolítica – No seu conceito, além de cumprir a prerrogativa constitucional que lhe era permitida, o que moveu Belivaldo Chagas a optar pelo nome do senhor?
ED -
Eu acredito, até porque em conversas com o governador ele chegou a declarar isso, que o que lhe moveu foi uma análise curricular de cada um. Ele inclusive solicitou os currículos para esta análise. Aliás, com ele eu já vinha tendo contatos pessoais institucionalmente durante a gestão de Rony Almeida, na qual eu ocupava o cargo de chefe de gabinete e tinha, por dever de ofício, grande interlocução com o Governo do Estado, com o Legislativo e o próprio Judiciário. Então eu acredito que tenha sido isso.

JLPolítica - O senhor não foi populista em não querer aparecer como procurador de justiça durante a campanha porque a maioria era composta por promotores?
ED –
Não. Não foi nesse sentido. É porque até hoje eu não me considero procurador ou promotor, e sim um membro do Ministério Público. Eu não vejo, e nunca vi, qualquer diferença entre promotor e procurador. E hoje, como sou procurador, essa visão que eu tinha é mais concreta ainda. Eu cito até uma brincadeira que minha esposa Gicele fez comigo, no momento em que fui promovido a procurador: no dia seguinte, ao acordar, ela olhou para mim e disse: “Oxente, não vi qualquer diferença!” Aí eu disse: “isso é um elogio?”.

JLPolítica - Afinal, o senhor foi promotor por 25 anos...
ED -
Exatamente. Foram 25 anos de atuação em promotorias mesmo. Mesmo quando me afastei para ocupar um cargo de assessoria, eu nunca deixei de estar na atividade-fim. Para resumir isso, posso dizer que sou um procurador com alma de promotor.

JLPolítica - Os R$ 180 milhões anuais do orçamento do MP não são excessivos para a realidade econômica do Estado?
ED –
Não, não são. Nós representamos apenas 2% da Receita Corrente Líquida do Estado. Considero que é um percentual extremamente pequeno, porque não chega a representar algo significativo sobre o todo da receita. E temos feito gestões aqui para, dentro dessa margem extremamente reduzida, prestar um serviço de qualidade para a sociedade. Então, não vejo como excessivo.

Em Juazeiro do Norte, Ceará, em viagem de moto

DA EXPECTATIVA DA SOCIEDADE SOBRE ESTA GESTÃO
“A sociedade pode e deve esperar de mim uma pessoa extremamente dedicada ao cumprimento do papel institucional do Ministério Público. Nesses 28 anos em que estou no MP, tenho visto que todos os avanços sociais têm a presença dessa instituição”

JLPolítica - O senhor espera ter que tipo de relacionamento com o Poder Judiciário de Sergipe? Naturalmente, há cooperação entre o MPE e este Poder?
ED –
Há uma cooperação excelente. Agora, durante a gestão do desembargador Cezário Siqueira, tivemos parcerias fundamentais. Ele fez questão de abrir todas as portas do Judiciário para que tivéssemos essa parceria muito bem consolidada, como já vem sendo há algum tempo, e tenho certeza de que com a gestão do desembargador Osório Ramos isso irá continuar. Aliás, será mais elevado ainda esse grau de parceria, porque o relacionamento sempre foi muito bom sob o ponto de vista institucional.

JLPolítica - Qual é o mecanismo disponível para medir ou aferir a eficácia da ação do Ministério Público de Sergipe?
ED -
Essa é uma coisa que, por mais que você tenha números a apresentar - e nós os temos, já que contamos com sistemas de controle de atuação -, são muito relativos para medir quantitativa e qualitativamente. Mas efetivamente, a certeza da boa prestação do serviço vem da reação da própria sociedade. O relativismo dos números quer dizer o seguinte: estou trabalhando. Mas a qualidade desses números quem me dá a resposta é a sociedade.

JLPolítica – Então o senhor diria que a sociedade sergipana não é órfã do MP?
ED –
Não. Sob hipótese nenhuma. Como eu disse, nos 28 anos que estou aqui, todo o benefício social, toda a questão de relevância, conta com o envolvimento direto do Ministério Público. 

JLPolítica - Qual é o resultado prático do Grupo de Apoio de Combate aos Crimes Organizados – Gaeco?
ED -
Nós nos últimos meses - porque o Gaeco está bem estruturado há cerca de 8 meses -, realizamos cerca de 10 operações. Então, o resultado prático que estamos constatando é justamente esse auxilio na atuação das Promotorias. Porque o Gaeco não é um órgão autônomo. Ele não pode chegar e definir que vai fazer determinada investigação. Há uma solicitação de uma Promotoria e o Gaeco então entra no circuito para prestar o apoio. 

Guri, o menino Eduardo DÁvila com a avó materna e as irmãs

NENHUM ALINHAMENTO INCONDICIONAL COM O GOVERNO DO ESTADO
“Seria maldade absoluta que alguém pensasse assim, em alinhamento incondicional com o Governo, porque nós não teremos esse tipo de alinhamento. O alinhamento é o legal e institucional que a própria Constituição determina”

JLPolítica - Qual foi o maior legado da gestão de quatro anos do promotor Rony Almeida à frente do MPE?
ED –
Foi justamente essa visão que nós tínhamos da atividade-fim. Essa visão que foi trazida por ele com mais ênfase foi o grande legado. Nós estruturamos nesses quatros anos o MPE para que a atividade-fim desempenhasse o seu papel de excelência, como vem fazendo.

JLPolítica - A gestão dele traçou alguma diferença com as anteriores?
ED –
Sim, teve mais foco exatamente nessa atividade-fim. Não que as outras não tenham tido, mas a estruturação plena do Ministério Público aconteceu agora, na gestão de uma pessoa que tinha esse foco especificamente.

JLPolítica – Que papel caberá a Rony Almeida no dia a dia da instituição a partir de agora depois de ter passado pelo comando?
ED -
Por desejo do próprio Rony Almeida, ele retorna à sua Promotoria de origem, que é a da Saúde. Não tem aceitado qualquer convite para assessoria do procurador-geral ou algum outro órgão, porque ele deseja, e eu tenho que respeitar, voltar para a Promotoria e desenvolver o seu papel, como ele sempre fez.

JLPolítica - O senhor tem perspectiva de fazer uma gestão tão fechada do ponto de vista da comunicacional quanto a de Rony Almeida?
ED -
Primeiro, eu não observei que a gestão dele tenha sido fechada do ponto de vista da comunicação. Você pessoalmente conhece a figura de Rony e sabe que ele não gosta de promoção pessoal, além de ser muito discreto. Mas na verdade o Ministério Público como um todo se comunicou, e acredito que muito bem. Admito que eu tenho um perfil um pouco diferenciado do dele, também não gosto da promoção pessoal, mas tenho uma visão de que o procurador-geral tem que capitanear esse processo. Então, acho que a comunicação terá um ingrediente a mais, um servidor a mais, um parceiro a mais, que serei eu. 

Os DÁvila na fazenda: uma geração inteira com direito a muitos bigodes

O MINISTÉRIO PÚBLICO EXCEDE OU NÃO?
“Não vejo isso em nossa ação. É claro que a atuação pessoal de cada membro depende, por ser pessoal, de cada qual. Mas vejo sempre um objetivo principal a ser alcançado. Então não vejo como excesso nas formas de agir”

JLPolítica - O Gaeco é uma instituição hibrida do Ministério Público e da SSP?
ED -
Ele tem policiais e tem membros e servidores do Ministério Público. Então, nesse sentido, é híbrido sim. Ele estabelece sempre uma parceria com a SSP, mas é um grupo do Ministério Público, composto por pessoas das Polícias Civil e Militar. 

JLPolítica - O Laboratório de Análise de Crimes contra o erário já produziu quais resultados concretos?
ED -
O Laboratório está ligado ao Gaeco. As análises das documentações que são apreendidas, coletadas, são feitas nesse laboratório.

JLPolítica - Como um ser social a serviço do parajudiciário, qual a sua visão do grau de corrupção do Brasil?
ED -
Eu vinha até refletindo sobre isso já há algum tempo, e de certa forma, me sinto triste com o Brasil. Mas recentemente estou vendo que o combate à corrupção tem produzido bons efeitos e a isso a sociedade está respondendo muito bem. Dizendo que quer esse combate.

Com companheiros de MPE

SÃO EXCESSIVOS OS CUSTOS DE R$ 180 MI ANUAIS DO MPE?
“Não são. Nós representamos apenas 2% da Receita Corrente Líquida do Estado. Considero que é um percentual extremamente pequeno, porque não chega a representar algo significativo sobre o todo da receita”

JLPolítica - O senhor põe em questionamento o papel do Judiciário nesse combate ou acha que ele está indo certo?
ED –
 Ele está indo certíssimo. O Judiciário tem sido um protagonista muito ajustado nesse processo.

Ao lado de Eduardo e da esposa, são os filhos Felipe e Pedro

DOS CRITÉRIOS QUE MOVERAM BELIVADO A ESCOLHÊ-LO
“Eu acredito que o que lhe moveu foi uma análise curricular de cada um. Ele inclusive solicitou os currículos para esta análise. Aliás, com ele eu já vinha tendo contatos pessoais institucionalmente durante a gestão de Rony Almeida”

JLPolítica - Se Eduardo D’Ávila fosse Sérgio Moro e fosse convidado a ser ministro de Jair Bolsonaro, o senhor largaria sua carreira de magistratura?
ED –
Não. Do Ministério Público, não. Achei uma coisa até, sob o ponto de vista pessoal, ousada. Sob o ponto de vista profissional, não. Porque pelo que tenho notícias, o Moro é um profissional preparado. Mas sob o lado pessoal sim, porque ele teve que pedir demissão para assumir o cargo. Mas não vi qualquer obstáculo de natureza ética para que ele não tivesse adotado essa posição.

Eduardo Barreto D’Ávila Fontes, 56 anos, vai conduzir nos próximos dois anos os destinos do Ministério Público do Estado de Sergipe – MPE
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