João Marcelo: “Não vejo nada de positivo na gestão de Nossa Senhora das Dores”

Entrevista

Jozailto Lima

Compartilhar

João Marcelo: “Não vejo nada de positivo na gestão de Nossa Senhora das Dores”

25 de setembro de 2021
“Consegui fazer muito pelos sergipanos nestes oito primeiros meses na Alese”

No próximo dia 5 de outubro deste ano completam-se nove meses que o bacharel em Direito e pecuarista João Marcelo, PTC, 37 anos, assumiu o mandato de deputado estadual de Sergipe.

Era 5 de janeiro deste 2021 e ele herdara a vaga deixada pelo então deputado estadual Dilson de Agripino, que no ano anterior se elegera prefeito de Tobias Barreto, cinco dias antes tomara posse na função executiva e deixara a legislativa aberta.

Quando João Marcelo assumiu o mandato, o Poder Legislativo estadual estava no seu rotineiro recesso de começo de ano. Mal retomara as atividades no início de fevereiro e a pandemia do coronavírus chegou e lacrou tudo, impondo que as sessões passassem a ser virtuais.

João Marcelo sentiu a pancada, mas não perdeu o rumo e nem a vontade de se sentir útil nas dimensões legislativas. Encarou o novo modelo de legislar e foi pra cima.

“Realmente foi um grande desafio assumir o mandato de deputado em um período pandêmico e de tantas incertezas em relação ao coronavírus”, admite ele.

“Tivemos que nos adaptar às sessões virtuais, sem um contato mais direto com os colegas. Mas, pior do que isso foi não poder manter um contato mais próximo com os cidadãos sergipanos, dos quais somos representantes”, reforça.

“Porém, mesmo com as limitações impostas, conseguimos sim fazer um trabalho positivo em prol da população. Com a pandemia, a política ficou ainda mais em evidência e o trabalho dos políticos também”, completa.

João Marcelo, o pai Alberto Romeu Gouveia Leite, a mãe Carmen Lúcia Montarroyos Leite e as irmãs Débora e Renata Montarroyos Leite
João Marcelo e esposa Carla Naiara de Morais

Nesta Entrevista, João Marcelo diz que, por estar no mandato, é natural que trabalhe para renová-lo ano que vem, e reforça a sua intenção de deixar, na hora certa, o PTC.

Afirma, ainda, que vê no senador Rogério Carvalho, PT, um quadro preparado para um projeto de Governo de Estado a ser disputado ano que vem e faz duras críticas à gestão de sua cidade praticamente natal, Nossa Senhora das Dores, da qual foi vice-prefeito e depois prefeito tampão.

“Não vejo nada de positivo na gestão de Nossa Senhora das Dores. Sei de todo o prejuízo que o povo da minha cidade vem tendo por causa das diversas irregularidades encontradas no município”, diz.

João Marcelo Montarroyos Leite nasceu na cidade de São Paulo no dia 11 abril de 1984, mas deu seus primeiros passos em Nossa Senhora das Dores, onde iniciou sua história pessoal e na vida pública.

João Marcelo é filho de Alberto Romeu Gouveia Leite, desembargador do Poder Judiciário de Sergipe aposentado recentemente, e de Carmen Lúcia Montarroyos Leite, médica pediatra.

Ele tem três irmãos: Débora Montarroyos Leite e Renata Montarroyos Leite e Márcio Rollemberg Leite. É sobrinho-neto do ex-governador José Rollemberg Leite, um político marcante na história de Sergipe.

João Marcelo Montarroyos Leite é casado com Carla Naiara de Morais e pai de Carmen Victoria

De 2013 a 2015, ele foi vice-prefeito de Nossa Senhora das Dores, assumindo o cargo de prefeito de 2015 a 2016, oportunidade em que deixou sua marca na história política do município e obteve o reconhecimento dos dorenses.

“Não foi nada fácil, mas depois de muita luta, graças a Deus, me recuperei e estou aqui com a saúde restabelecida. Estou bem, não fiquei com sequelas”, diz ele, a propósito da passagem pela Covid-19 neste ano.

A Entrevista com o deputado João Marcelo Montarroyos Leite vale o tempo da leitura. 

Como deputado, João Marcelo visita reforma da Escola Professor Joaquim Vieira Sobral, na Jabotiana. Obra foi solicitada por ele
DOS DESAFIOS DE LEGISLAR SOB PANDEMIA
“Foi um grande desafio assumir o mandato de deputado em um período pandêmico e de tantas incertezas em relação ao coronavírus. Tivemos que nos adaptar às sessões virtuais, sem um contato mais direto com os colegas. Mas, pior do que isso foi não poder manter um contato mais próximo com os cidadãos sergipanos”


JLPolítica - O senhor chegou na Alese no meio de um período legislativo e no centro de uma histórica pandemia de coronavírus. O que isso impactou de negativo ou de positivo em sua estada como deputado estadual?
João Marcelo -
Realmente foi um grande desafio assumir o mandato de deputado em um período pandêmico e de tantas incertezas em relação ao coronavírus. Tivemos que nos adaptar às sessões virtuais, sem um contato mais direto com os colegas. Mas, pior do que isso foi não poder manter um contato mais próximo com os cidadãos sergipanos, dos quais somos representantes. Porém, mesmo com as limitações impostas, conseguimos sim fazer um trabalho positivo em prol da população. Com a pandemia, a política ficou ainda mais em evidência e o trabalho dos políticos também. Diante disso, acredito que consegui fazer muito pelos sergipanos nestes oito primeiros meses na Alese.

JLPolítica - O senhor não acha que a ação do parlamentar em boa parte do tempo à distância e virtual nesse período limitou ainda mais as prerrogativas de um deputado estadual?
JM -
Como eu disse anteriormente, a pandemia impôs, sim, uma série de limitações. Mas, ao invés de lamentar e ficar criando desculpas, buscamos meios para trabalhar e defender os direitos dos sergipanos.

JLPolítica - E de que forma isso foi feito?
JM -
Protocolamos projetos, indicações e requerimentos voltados às demandas populares, inclusive para o enfrentamento da pandemia. Fomos um dos primeiros parlamentares a solicitar do governo a compra das vacinas. Sugerimos ainda que profissionais da área da saúde fossem contratados para ampliar os trabalhos nos hospitais. Fizemos também algumas visitas na capital e interior, especialmente em Nossa Senhora das Dores, que é minha terra, para verificar in loco os problemas e buscar as soluções. Ainda neste período fui até o Estado de Goiás e visitei uma das maiores indústrias de soja e milho do país para buscar a instalação dela em Sergipe para contribuir com o desenvolvimento do nosso Estado, gerando emprego e renda para nossa gente. Enfim, mesmo em meio às dificuldades não paramos nestes oito meses de mandato.

João Marcelo: “Um deputado é um legítimo representante do povo e precisa trabalhar para garantir melhorias para os cidadãos”
“É PRECISO VONTADE DE ATUAR EM PROL DO CIDADÃO”
“Um deputado é um legítimo representante do povo e precisa trabalhar diariamente para garantir melhorias para os cidadãos. A população precisa entender que pode contar com o Poder Legislativo e nós, deputados, precisamos ter força de vontade para atuar em prol do cidadão”


JLPolítica - Mas, afinal, o que pode um deputado estadual a partir do seu espaço de ação?
JM -
Um deputado é um legítimo representante do povo e precisa trabalhar diariamente para garantir melhorias para os cidadãos. Para isso, é necessário estar aberto ao diálogo, seja de forma presencial ou por meios virtuais, para tomar conhecimento dos problemas e, a partir daí, ir em busca dos meios necessários para atender os anseios e encontrar soluções, seja por meio de parcerias com o Governo do Estado ou com os demais parlamentares. A população precisa entender que pode contar com o Poder Legislativo e nós, deputados, precisamos ter força de vontade para atuar em prol do cidadão.

JLPolítica - O senhor teve tempo de rever sua participação na distribuição das emendas impositivas ao orçamento do Estado para 2021, cuja distribuição já estava pronta desde 2020 quando o senhor ali chegou?
JM -
Não. Como chegamos na Alese para o exercício 2021, não conseguimos fazer indicações para o mesmo ano, já que o parlamentar que me antecedeu já havia feito suas indicações no ano anterior.

JLPolítica - Qual é o seu planejamento com essas emendas de 2021 para 2022?
JM -
Fizemos algumas visitas neste período de mandato, durante as quais nos foram passadas algumas necessidades, entre elas a da ampliação do Hospital e Maternidade Santa Isabel, que presta relevantes serviços aos sergipanos. Também vamos destinar recursos para a promoção de melhorias estruturais e de equipamentos em escolas que atendem Nossa Senhora das Dores e região. Devemos fazer indicações de emendas também para colaborar com o desenvolvimento de outras cidades. Esses são apenas alguns exemplos de como queremos converter esses recursos em benefícios para a nossa gente no ano de 2022.

No Estado de Goiás, João Marcelo visita a Caramuru, beneficiadora de milho e soja, e pensa numa filial pra Sergipe
BUSCANDO CONTRIBUIR COM O ESTADO
“Trouxemos para a Alese pautas importantes, a exemplo da necessidade do Governo do Estado adquirir vacinas, independentemente do planejamento do Ministério da Saúde, quando o ritmo de vacinação não estava a contento. Buscamos contribuir com o desenvolvimento econômico do Estado”


JLPolítica - O senhor chegou à Alese se dizendo preocupado em fazer a diferença. Mas foi possível?
JM -
Apesar do momento atípico, foi possível, sim. Trouxemos para a Alese pautas importantes, a exemplo da necessidade do Governo do Estado adquirir vacinas, independentemente do planejamento do Ministério da Saúde, quando o ritmo de vacinação não estava a contento. Buscamos contribuir com o desenvolvimento econômico do Estado, levando o nosso potencial à Caramuru, uma grande produtora de milho e soja que fica em Goiás para que estudem a viabilidade de instalação de uma filial aqui em Sergipe. Além disso, tenho utilizado do meu mandato para defender as demandas dos municípios, com uma atenção especial a Nossa Senhora das Dores e demais municípios da região que estavam carente de uma liderança que a representasse. Fizemos muito e vamos trabalhar muito mais para seguir fazendo a diferença.

JLPolítica - Está praticamente decidido que o PTC não será a sua casa eleitoral em 2022. Mas qual será o seu destino partidário?
JM -
No momento, temos que observar a questão da fidelidade, pois o partido é o detentor do mandato e sem a janela partidária não podemos mudar. Mas, futuramente, quando abrir a janela, devo sim buscar uma nova sigla. Até porque o PTC não atingiu a cláusula de barreira e talvez não tenha condições de disputar a próxima eleição. Já recebi convites de diversos partidos. Mas até chegar o momento para que essa troca seja possível, seguirei avaliando as possibilidades para tomar uma decisão.

JLPolítica - O que atrai seu interesse no PT é o partido em si ou a ação pública e política do senador Rogério Carvalho?
JM -
Recentemente fiz uma visita ao município de Canindé ao lado de diversas lideranças políticas da região, entre elas o senador Rogério Carvalho. Como eu disse anteriormente, ainda não há nada decidido com relação ao partido a que irei me filiar. Estou conversando com todos e buscando o que for melhor para o grupo e onde eu posso me encaixar diante da legislação eleitoral.

João Marcelo na sala de internação por Covid: “Me recuperei, estou com a saúde restabelecida e não fiquei com sequelas”
ROGÉRIO PREPARADO PARA ADMINISTRAR SERGIPE
“O senador Rogério Carvalho vem fazendo um grande trabalho no Congresso e já demonstrou sua força política. Ele é um político que tem minha admiração e acredito que seja um dos nomes preparados para administrar Sergipe. Mas ainda é cedo para qualquer definição”


JLPolítica - Mas Rogério Carvalho é seu pré-candidato a governador em 2022?
JM -
Tenho acompanhado os diversos nomes especulados, a exemplo do senador Rogério Carvalho, que vem fazendo um grande trabalho no Congresso e já demonstrou sua força política. Ele é um político que tem minha admiração e acredito que seja um dos nomes preparados para administrar Sergipe. Mas ainda é cedo para qualquer definição. Vamos aguardar o desenrolar dos acontecimentos e, no momento oportuno, analisar e tomar uma decisão.

JLPolítica - Afinal, qual é seu projeto eleitoral para 2022? Disputará um novo mandato ou ficará à margem?
JM -
Estando no mandato, é natural que eu seja colocado como um candidato à reeleição. Mas, antes de qualquer coisa é preciso construir diariamente uma possível candidatura à reeleição, o que se faz com muito trabalho. No momento, a minha maior preocupação é seguir atuando na Alese no sentido de ajudar a resolver os problemas do Estado e buscando ações que proporcionem mais qualidade de vida para os sergipanos, em especial para os que mais necessitam do poder público.

JLPolítica - O que o sistema político e econômico pode fazer para que mais pessoas precisem cada vez menos do poder público?
JM -
O fortalecimento das empresas é uma dessas saídas. A geração de emprego e renda na iniciativa privada para nossa gente é primordial para que as pessoas não se tornem tão dependentes do poder público. 

Rogério Carvalho, figura pública a quem João Marcelo vê como “um dos nomes preparados para administrar Sergipe”
GESTÃO DE DORES GERA PREOCUPAÇÕES
“Não vejo nada de positivo na gestão de Dores. Sei de todo o prejuízo que o povo da minha cidade vem tendo por causa das diversas irregularidades encontradas no município. Informações gritantes de contratações milionárias que foram feitas sem licitação pelo prefeito desde que foi decretado sem análise na Câmara e sem discussão política a situação de emergência”


JLPolítica - A nova gestão pública de Nossa Senhora das Dores lhe diz algo positivo?
JM -
Não vejo nada de positivo na gestão de Nossa Senhora das Dores. Sei de todo o prejuízo que o povo da minha cidade vem tendo por causa das diversas irregularidades encontradas no município. Informações gritantes de contratações milionárias que foram feitas sem licitação pelo prefeito desde que foi decretado sem análise na Câmara e sem discussão política a situação de emergência. O povo de Dores está sendo colocado em segundo plano pelo prefeito. Fazendo contratos sem licitação. Cheguei a fazer discurso na Alese sobre isso, expondo para conhecimento de todos as informações colhidas no Portal da Transparência. Por isso, registrei, à época, o meu voto contrário ao Decreto de Calamidade e a minha insatisfação de como estão sendo tratados os dorenses.

JLPolítica - E como estão sendo tratados os dorenses?
JM -
Não podemos concordar com a desmoralização com que Dores tem sido tratada. Por exemplo, com contrato milionário com a clínica particular do prefeito. Que negócio é esse? Alguns podem argumentar que houve licitação, o que é verdade, mas é preciso lembrar que abriu-se o prazo para recurso de 15 minutos, a empresa que ganhou sumiu e apareceu a empresa do prefeito. O cunhado do prefeito de Dores fornece combustível em três meses por R$ 3 milhões. Contratos milionários com pessoas próximas à gestão. O cunhado do prefeito, o candidato a deputado do prefeito e o secretário de Finanças com contratos milionários. A população dali não merece esse desrespeito.

|JLPolítica - Qual foi o pior momento de tensão em sua passagem pela Covid-19?
JM -
Foi quando recebi o diagnóstico de que estava com os pulmões bastante comprometidos e fui internado, ficando isolado das pessoas que amo. Não foi nada fácil, mas depois de muita luta, graças a Deus, me recuperei e estou aqui com a saúde restabelecida. Estou bem, não fiquei com sequelas. 

Num clássico corpo a corpo durante a campanha de 2018
DESASTRADA ATUAÇÃO DO GOVERNO FEDERAL PERANTE A COVID
“O Governo Federal deixou a desejar, atuando de forma desastrada e desorganizada. A gente não entende porque o Governo Federal não quis comprar a vacina quando deveria, o que nos levou a uma corrida contra o tempo. Enquanto isso, tivemos milhares de infectados pelo coronavírus que estiveram entre a vida e a morte, além de mais de 594 mil mortos”


JLPolítica - Qual é a sua visão do modo como os poderes públicos do Estado de Sergipe e o Brasil enfrentaram e enfrentam a Pandemia nesses quase dois anos?
JM -
Acredito que o governador Belivaldo Chagas tomou as medidas necessárias para o enfrentamento da Covid-19. Podem ter ocorrido equívocos, mas jamais omissão. Já o Governo Federal deixou a desejar, atuando de forma desastrada e desorganizada. A gente não entende porque o Governo Federal não quis comprar a vacina quando deveria, o que nos levou a uma corrida contra o tempo. Enquanto isso, tivemos milhares de infectados pelo coronavírus que estiveram entre a vida e a morte, além de mais de 594 mil mortos.

JLPolítica - O que é que o senhor espera que saia de positivo da CPI da Covid do Senado?
JM -
Neste momento político que estamos vivendo, a sociedade aguarda ansiosa uma resposta para tudo isso que estamos presenciando. A atuação dos senadores tem sido importante para que tudo que se falava seja esclarecido e fique evidente a atuação de todos os agentes públicos. Se ficarem comprovadas as irregularidades, que os responsáveis sejam punidos. Quem errou, que pague pelo erro.

JLPolítica - Por que não foi adiante o projeto da CPI que Georgeo Passos defendida na Alese?
JM -
Não sou contra qualquer tipo de investigação. Estávamos no pico da pandemia e deveríamos focar em alternativas que viabilizassem o estudo, a prevenção, a busca de uma saúde de qualidade. Precisávamos ser agentes contribuintes de algo que mudasse o momento que estávamos passando, e ainda passamos. Naquele momento, era importante que cuidássemos das pessoas, buscando meios que amenizassem o sofrimento dos sergipanos. Perdemos familiares e amigos que amamos. Por isso, foi importante utilizarmos as nossas possibilidades, alternativas e forças para criarmos projetos que ajudassem a superar os efeitos da pandemia na saúde, economia e demais áreas afetadas. O momento político propriamente dito do combate a pandemia irá chegar e a discussão sobre como tudo foi conduzido, aí sim, se tornará oportuna.

Em ação política em Monte Alegre, ao lado da prefeita Nena de Luciano e o esposo dela, Luciano de Nena
Deixe seu Comentário

*Campos obrigatórios.