Sales Neto: “A crise amplia as demandas da Comunicação”

Entrevista

Jozailto Lima

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Sales Neto: “A crise amplia as demandas da Comunicação”

Publicado em  4  NOV 2017, 20h00

“A Comunicação reflete a ética e o cuidado com as pessoas, que  são a essência do governo”

Um momento de crise, como este que o Estado e o País vivem, “implica o pior” e “afeta todos os setores”. “No caso do Governo do Estado, ela afeta a saúde, a segurança pública, a educação, e em todos esses casos a Comunicação tem que estar presente”. Estas opiniões são de José Sales Neto, secretário de Estado da Comunicação Social de Sergipe desde 2014, quando Jackson Barreto sucedeu Marcelo Déda pela fatalidade da morte.
 
“Então, a Comunicação tem que estar preparada para enfrentar os desafios que a crise traz. A crise amplia as demandas da Comunicação. A crise exige que a Comunicação esteja o tempo todo operando, porque a crise gera muitos ruídos perante a sociedade”, diz ele.
 
E ela, a Comunicação, tem de cuidar das demandas do Governo, da sociedade, e dela mesma, num tempo de transformações profundas e avassaladoras nos meios e metodologias da informação. Para Sales Neto, na medida do possível, a Secretaria vai tocando em frente e cumprindo a sua missão nesse terreno arenoso.
 
Para tanto, admite o secretário, o Governo, assim como o governador, em suas premissas e programas, ajudam. “A comunicação reflete a ética e o cuidado com as pessoas, que são a essência do governo”, diz ele. E tudo deve ser feito num orçamento geral que não passa de R$ 17 milhões por ano.
 
“Nossa missão é tornar Sergipe um lugar melhor do que encontramos, e nossa visão de futuro é buscar um desenvolvimento sustentável. Então, de posse desses elementos, valores e missão, fica mais fácil ter um direcionamento da Comunicação, porque esse olhar é o de buscar o elemento humano. Seja de uma obra, seja de uma ação”, diz o secretário.
 
Para tocar o itinerário da Comunicação Social do Governo de Sergipe, o Estado conta com um time razoável de profissionais. Segundo Sales Neto, chega perto dos 100. Mas, por uma tradição anterior à gestão dele, Sales não os têm todos, digamos assim, sob sua jurisdição. Cada Secretaria de Estado tem sua comunicação autônoma. Não bate continência para a Secom geral do Estado.
 
De por Sales, esse modelo seria mudado. “Nós procuramos ter uma sintonia, e temos. Mas não acho que esse seja o modelo mais adequado. Acho que ele deve ser repensado. Na minha cabeça, acho que um modelo com mais funcionalidade teria que ser o mais centralizado, onde a Secom pudesse ter um controle maior de todas as pastas”, diz.

“Nossa missão é tornar Sergipe um lugar melhor\", diz

JLPolítica - O senhor sempre defendeu o ponto de vista de que um secretário de Comunicação não é um porta-voz de Governo. Na sua visão, ele não é para bater canela com políticos, com o povo e nem com os comunicadores das diversas mídias. Qual é, enfim, o real papel de um secretário de Comunicação?
Sales Neto -
Eu defendo que o secretário de Comunicação não deve aparecer. O assessor de Comunicação - e o secretário é um assessor -, não deve aparecer mais do que o seu assessorado. Essa é uma convicção. A partir do momento que o assessor começa a desempenhar um papel midiático maior do que o do assessorado, tem alguma coisa errada, equivocada. Mas defendo que o secretário deve estar disposto a esclarecer todas as informações que sejam pertinentes ao trabalho que ele desenvolve. Inclusive, caso necessário, desmentir boatos, ir de encontros a informações que não sejam verdadeiras. O papel de um assessor é o estratégico e o operacional, pois precisa de uma equipe que faça a divulgação dos trabalhos desenvolvidos e também que faça a defesa quando for necessário e pertinente.

JLPolítica - Quem do contrário procede está comentando o quê?
SN
- Acho que está fora dos parâmetros técnicos adequados para a profissão. Agora, quero deixar claro que é um ponto de vista meu e respeito outros profissionais que pensem diferente. Em minha opinião, o secretário deve saber a exata medida de onde deve se inserir.

O SECRETÁRIO DE COMUNICAÇÃO E OS LIMITES
“Eu defendo que o secretário de Comunicação não deve aparecer. Mas defendo que o secretário deve estar disposto a esclarecer todas as informações que sejam pertinentes ao trabalho que ele desenvolve”

JLPolítica – O que é que um tempo de crise, como este em que estamos vivendo, implica sobre alguém que deva conceber a política de comunicação de um Governo de Estado?
SN -
Implica o pior. A crise afeta todos os setores. Então, no caso do Governo do Estado, a ela afeta a saúde, a segurança pública, a educação, e em todos esses casos a comunicação tem que estar presente. A comunicação tem que estar preparada para enfrentar os desafios que a crise traz. A crise amplia as demandas da comunicação. A crise exige que a comunicação esteja o tempo todo operando, porque a crise gera muitos ruídos perante a sociedade.

JLPolítica - Parece que, mais do que qualquer outra hora, na crise é preciso fazer mais com menos na comunicação.
SN -
É verdade, porque a comunicação é vista por aqueles que determinam os volumes de recursos como algo não tão prioritário. Num governo, a prioridade entre educação, saúde, segurança, por exemplo, a comunicação fica em desvantagem.

É secretário desde o segundo governo de Déda

JLPolítica – Mas refrear a aplicação dos recursos da propaganda - ou seja, a propaganda em si mesma - não é uma garantia líquida de um dano deliberado sobre o Governo e a sociedade no aspecto da informação?
SN -
Não digo que é deliberado, mas acho que é um dano sim. Porque você diminui a capacidade de atingimento de todos os setores da sociedade. Comunicação pública tem uma caraterística que precisa ser de 360 graus, porque precisa atingir o público de forma geral. Se você perguntar qual o público específico de uma empresa, por exemplo, terá como definir. Mas no caso do poder público, são todas as pessoas. De A a Z. Em todas as oportunidades.

JLPolítica – O senhor acha que o que a sua Secretaria faz e mostra à sociedade está à altura ou aquém do que o Governo promove e realiza?
SN -
Acho que estamos conseguindo dar conta do recado, mesmo com todas as dificuldades. Obviamente que se tivéssemos mais condições, mais recursos, mais estrutura, poderíamos fazer um trabalho mais ampliado. Mas dentro das nossas possibilidades e da nossa realidade, acredito que estejamos cumprindo o papel constitucional de comunicar à sociedade aquilo que o Governo tem feito em benefício de todos.

A COMUNICAÇÃO E OS DEDOS DA CRISE
“A crise afeta todos os setores. Então, no caso do Governo do Estado, ela afeta a saúde, a segurança pública, a educação, e em todos esses casos a comunicação tem que estar presente. A comunicação tem que estar preparada para enfrentar os desafios que a crise traz”

JLPolítica -Tecnologicamente, como é que está a Secretaria de Comunicação Social do Estado de Sergipe?
SN -
Esse é um tema que tem me feito pensar muito. As inovações tecnológicas estão se desenvolvendo numa velocidade muito alta. Existe uma lei, chamada Lei de Moore, que diz que a cada dois anos se duplica a capacidade de processamento das tecnologias. Ou seja, a cada dois anos se duplica e a cada três, quatro, cinco anos, o que hoje é top de linha passa a obsoleto. A humanidade não está conseguindo acompanhar esse ritmo de crescimento acelerado, o que acaba gerando muitas crises. Hoje temos ferramentas à disposição, mas que o serviço público não acolhe, porque as leis que regem o serviço público são muito antiquadas. E isso tudo faz com que, de alguma forma, fiquemos obsoletos totalmente. Porque a gente tenta, mas nós que trabalhamos no serviço público não conseguimos alcançar todas as ferramentas que uma empresa da iniciativa particular consegue. Mas, na medida do possível, estamos inseridos nas inovações tecnológicas. Poderíamos estar mais avançados não fosse tanta burocracia. 

JLPolítica - De que maneira essas mudanças alteram o modo de operação de quem comanda e executa a comunicação social do Governo? Como essa tecnologia muda a rotina de uma Secretaria de Comunicação?
SN -
A forma hoje como a comunicação pública está estruturada é atrasada. E isso não é só em Sergipe. É no Brasil. As assessorias hoje ainda não estão adequadas aos desafios da modernidade. E vou dar um exemplo: quando iniciei na área de comunicação e frequentava repartições publicidade, as assessorias tinham jornalista e fotógrafo. Depois, chegaram os computadores, os celulares, mas é preciso ter uma equipe multidisciplinar. As assessorias precisam de design gráfico, publicitário, pessoas da área de marketing, de jornalismo, editores de vídeo, porque essas linguagens comunicativas estão acessíveis para que sejam usadas. Mas quando vamos para a prática, pouquíssimas assessorias possuem essa estrutura. Os governos estão em crise e não conseguem colocar em cada órgão uma estrutura que faça frente a essas novas modalidades. Essa é a realidade. Há órgãos que contam apenas com um jornalista e um fotógrafo, que operam à moda antiga. Acho que é preciso que se remodele isso, que se pense e se crie um novo modelo para enfrentar esses novos desafios.

Casado, tem três filhas - uma de 20 e duas gêmeas de 11 anos

JLPolítica - O Núcleo de Cultura Digital montado pela Secom lá atrás, salvo engano sob Marcela Déda, ainda está em operação sob sua gestão?
SN -
Está. Nós temos o NCD, implantado no Governo de Marcelo Déda e que nós mantivemos. Esse Núcleo é extremamente importante, porque faz frente a essas novas tecnologias, a essa nova forma de se comunicar, e leva para o cidadão pelo meio digital as informações do governo. É um Núcleo que estruturamos e mantemos da melhor forma possível, mas que precisamos acompanhar as mudanças. Veja como funciona: lembro que em 2008, há nove anos, o que havia de mais significativo nessa área eram coisas que hoje nem existem mais, como o Orkut, o MSN, o Twitter estava surgindo, o facebook engatinhando. O WhatsApp não existia. De lá para cá, algumas mídias morreram, outras nasceram; então o poder público precisa criar as condições de acompanhar essas novas modalidades. Sabemos que, hoje, temos as redes sociais que têm forte potencial, mas as vezes a gente não consegue usá-las totalmente por causa dos entraves burocráticos.

JLPolítica – O corpo de secretariado do Governo incorporou a linguagem das novas mídias e suas realidades comunicacionais, ou ainda permanece de nervos duros, invertebrados, distantes?
SN -
Todo Governo é multiplural, então temos setores que estão bastante adiantados nesse segmento e outros que ainda estão buscando se adaptar. Depende muito das características de cada gestor. Mas na média estamos conseguindo ter bom desempenho nessas áreas.

SECRETÁRIOS E DOMÍNIO DAS MÍDIAS
“Todo Governo é multiplural, então temos setores que estão bastante adiantados nesse segmento e outros que ainda estão buscando se adaptar. Depende muito das características de cada gestor”

JLPolítica - Numa escala comparativa, o governador Jackson Barreto tem ensino fundamental, médio ou superior em mídias digitais? Ele opera algo?
SN -
O governador Jackson Barreto é um grade curioso nessa área. Ele tem a mente aberta e diria até jovial. Ele sabe da importância das redes sociais, entende essa importância. Inclusive, ele nos desafia e nos estimula a estar sempre buscando fazer o melhor trabalho possível. Por incrível que pareça, Jackson sabe tudo que acontece nas redes sociais. Mas nós temos uma equipe que é orientada, primeiramente, por ele, e também pela Secretaria de Comunicação. Essa equipe é que realmente opera as redes sociais tanto do governo quanto do governador, mas sob a orientação e supervisão dele. Principalmente as redes pessoais, que são todas alimentadas dentro de uma linha de orientação do próprio governador.

JLPolítica – Jackson Barreto é naturalmente bom de comunicação, com toda sua história e destemor de se precipitar sobre oponentes ríspidos. Mas é disciplinado às observações oficiais e pragmáticas da Comunicação, ou rompe muitos paradigmas?
SN -
O governador tem uma sensibilidade muito forte para entender o que está na alma do povo. Ele sabe exatamente que tipo de mensagem vai causar certo tipo de reação na população. Então, ele tem muito feeling com relação a essas questões e sabe bem o que quer. Ele é de ouvir os assessores. Em alguns momentos, acata; em outros, entende que o melhor caminho é seguir o feeling dele.

Secom conta com perto de 100 profissionais

JLPolítica - Os improvisos de rua feitos por ele causam algum problema de comunicação?
SN -
De modo algum. Jackson Barreto sabe se sair dessas situações de maneira muito tranquila. Ele não tem problema nenhum em responder a nenhum tipo de questionamento. Ele enfrenta qualquer discussão e qualquer tipo de pergunta.

JLPolítica - Mas a pergunta é no sentido de que as ações dele causam ou não embaraço para a Comunicação.
SN –
Não causam de jeito nenhum. Ele é muito autêntico. O governador Marcelo Déda dizia que Jackson é um fenômeno da natureza. Algo que você não controla. É espontâneo. Uma pessoa que tem suas próprias convicções e coloca aquilo de maneira muito natural. Então, não vejo nenhum tipo de embaraço naquilo que ele produz. Muito pelo contrário, acho que ele é muito seguro em tudo que faz e fala.

O GOVERNADOR E AS MÍDIAS SOCIAIS
“O governador Jackson Barreto é um grade curioso nessa área. Ele tem a mente aberta e diria até jovial. Ele sabe da importância das redes sociais, entende essa importância. Por incrível que pareça, Jackson sabe tudo que acontece nas redes” sociais”

JLPolítica – O senhor tem noção de quantos jornalistas, em média, estão sob o raio da sua jurisdição a serviços da causa pública?
SN -
Na verdade, nossa autonomia está na Secom, porque o modelo atual, que é antigo e precisa ser repensado, é o de cada órgão/Secretaria possuir a sua própria estrutura de Comunicação, que não fica vinculada ao organograma da Secom. Então, dentro da minha jurisdição, tenho uma equipe de 12 profissionais entre jornalistas e publicitários e quatro fotógrafos.

JLPolítica - Quer dizer que, nesse modelo, as Secretaria de Agricultura, a SSP, a de Saúde, por exemplo, não respondem ao senhor?
SN -
Por esse modelo, não. Porque cada um está organicamente ligado ao seu secretário.

Tem 26 dos 46 anos de vivência em Sergipe

JLPolítica - Isso não provoca ranhuras?
SN -
Nós procuramos ter uma sintonia, e temos. Mas não acho que esse seja o modelo mais adequado. Acho que ele deve ser repensado. Na minha cabeça, acho que um modelo com mais funcionalidade teria que ser o mais centralizado, onde a Secom pudesse ter um controle maior de todas as pastas.

JLPolítica - Mas haverá tempo ainda para fazer isso?
SN -
Penso que poderia ser plantada uma semente nesse sentido, para que a gente possa entregar mais na frente uma coisa já desenhada. Isso vai depender muito de como as coisas vão se encaminhar agora em 2018.

MODELO DE SECOM PRECISA SER REPENSADO
“Na verdade, nossa autonomia está na Secom, porque o modelo atual, que é antigo e precisa ser repensado, é o de cada órgão/Secretaria possuir a sua própria estrutura de Comunicação, que não fica vinculada ao organograma da Secom”

JLPolítica - Mas mesmo que difusamente, não há ideia de quantos jornalistas estão a serviço do Governo?
SN -
Acredito que cheguem a 100 profissionais.

JLPolítica – Diante disso, o senhor consegue emplacar uma cultura uniforme de falares e ações no vasto time de jornalistas que compõem a comunicação do Estado, ou há mini-Babel aí? 
SN -
Trabalhamos de forma muito próxima com as assessorias. Nos reunimos constantemente e sempre procuramos passar para os assessores nossos elementos direcionadores, que são os valores que permeiam esse governo: a ética e o cuidado com as pessoas. Essa é a essência do nosso governo. Nossa missão é tornar Sergipe um lugar melhor do que encontramos, e nossa visão de futuro é buscar um desenvolvimento sustentável. Então, de posse desses elementos, valores e missão, fica mais fácil ter um direcionamento da Comunicação, porque esse olhar é o de buscar o elemento humano. Seja de uma obra, de uma ação. Em todas as reuniões, a gente bate nessa tecla e nossos assessores já têm esse entendimento. Em síntese, a comunicação reflete a ética e o cuidado com as pessoas, que que são a essência do governo.

\"Acho que estamos conseguindo dar conta do recado\", avalia-se

JLPolítica - A partir de 1º de janeiro de 2019, Jackson Barreto terá segurança de que não aparecerá um rastro escândalo do governo dele?
SN -
Sim. Ele é uma pessoa que não tem em sua biografia nada que o coloque numa posição desconfortável com relação às questões éticas. É uma pessoa que não angariou patrimônio durante sua vida pública, foi prefeito de Aracaju duas vezes, deputado federal quatro vezes, vereador, deporão estadual e agora governador e possui o mesmo padrão de vida de sempre. Não tem empresas, não tem fazendas, não tem patrimônio. Então, do ponto de vista do governador e da orientação que dá, ele está com a consciência tranquila. Agora, o Governo é muito grande. Pode aparecer amanhã ou depois um ponto aqui ou ali fora da curva. Não tem como a gente garantir. Mas da parte dele, sim - nada. Ele pode dormir sossegado, com a consciência tranquila, que nada vai manchar sua biografia.

JLPolítica - O Governo e a Secom trabalham com pesquisas - semanais, sazonais - para medir quais as carências das comunidades?
SN -
Sim. A frequência varia um pouco. As pesquisas quantitativas são a cada dois, três meses, e as qualitativas, duas por ano. Entendemos que não precisa mais que isso. E essas pesquisas indicam quais os aspectos da administração que a população está compreendendo mais ou menos, e a gente vai fazendo as correções.

VALORES E MISSÃO DA COMUNICAÇÃO
“Nossa missão é tornar Sergipe um lugar melhor do que encontramos, e nossa visão de futuro é buscar um desenvolvimento sustentável. Então, de posse desses elementos, valores e missão, fica mais fácil ter um direcionamento da Comunicação”

JLPolítica - Com os salários pagos atrasados, ainda que dentro de um contexto nacional e não só de Sergipe, o senhor acha que a imagem do Governo vai bem?
SN -
Nós temos uma imagem que acreditamos, pelo momento econômico que o país e o Estado atravessam, dentro de parâmetros que são adequados. O governador é vítima de dois fatores que ele não controla: primeiro, está governado o Estado no pior momento econômico dos últimos 100 anos e isso vem refletindo nas finanças públicas, mesmo com toda dedicação dele. A crise que se abateu não permite que o Estado encontre o equilíbrio financeiro necessário para fazer frente a todas as despesas que demanda. Essa é uma característica muito negativa do ponto de vista do momento. E o segundo fator é o descrédito da classe política de uma forma geral. Qualquer pesquisa nesse sentido aponta que a população tem um grau de insatisfação com os políticos e coloca todos eles numa vala comum. A população sente dificuldade de separar o joio do trigo. Quando você conversa com pessoas do povo, elas colocam os políticos como se fossem todos iguais e num patamar negativo, o que mostra a crise política. Com essa crise de identidade da população com os políticos, a população ainda coloca esse peso em cima dessa carga que já é pesada. Mas desconheço uma pessoa que trabalhe mais por Sergipe do que Jackson, há mais tempo, com mais dedicação, afinco e amor. Mas essa é uma caraterística do governador: ele ama o Estado, e está sendo vítima de variáveis que ele não controla. Por mais que um governador tenha força e poder, essas questões macroeconômicas e essa imagem negativa que a população tem dificultam e fazem com que a imagem dos governantes sofra um desgaste grande.

JLPolítica - O servidor estadual perde com esse projeto de parcelamento do 13º?
SN –
Não perde. Pelo contrário. Esse projeto veio para permitir que o servidor público receba o 13º na íntegra e sem prejuízo em dezembro, como foi feito em 2015 e em 2016. O governo vai colocar na conta a segunda parcela na íntegra. O pagamento desse recurso que o servidor terá junto à instituição financeira ficará a cargo do Governo com um valor a mais para custear as despesas dessa operação. Esse projeto não é para parcelar. É para que o servidor receba na íntegra. Porque o governo não tem R$ 130 milhões disponíveis para isso. Então encontrou essa modalidade. 

Não se acha um protegido gracioso de políticos

JLPolítica - Na quarta, 8, o governador voltou de Brasília convencido de que virá do Governo Michel Temer o empréstimo de R$ 560 milhões ou há dúvidas ainda?
SN -
O governador está muito esperançoso. Veio de Brasília com a melhor opinião possível das reuniões que teve lá, tanto com os deputados federais Fábio Reis e André Moura, que alinharam as expectativas com relação a esse financiamento, quanto com o presidente Michel Temer, que os recebeu de braços abertos e se comprometeu a fazer de tudo para ajudar Sergipe. Porque, na verdade, o Governo do Estado precisa de um recurso da Caixa que já foi analisado pelo Departamento Técnico do Banco e que constatou que Sergipe tem capacidade de endividamento e de pagamento suficiente para acessar esses recursos. Acontece que todos financiamento que os Estados buscam junto ao sistema financeiro precisam ter autorização da Secretaria do Tesouro Nacional. Ora, se a Caixa Econômica, que é o órgão que vai liberar, já fez a análise e aprovou, a Secretaria vai fazer a mesma análise e chegará à conclusão natural de que o Estado tem condições. Então, Jackson foi apenas pedir celeridade na análise desse processo, porque o governo precisa acessar rapidamente esses recursos principalmente para tocar as obras de reconstrução das estradas. Temos uma malha viária muito velha, que sofreu demais com essas chuvas e que em alguns trechos está muito deteriorada. O governo quer dar mais conforto e mais segurança à quem trafega por essas trajetos.

JLPolítica - Quanto por cento desses R$ 560 milhões deve ir para as estradas?
SN -
Mais da metade. São cerca R$ 320 milhões.

JB, A VÍTIMA DAS VARIÁVEIS INCONTROLÁVEIS
“Desconheço uma pessoa que trabalhe mais por Sergipe do que Jackson, há mais tempo, com mais dedicação, afinco e amor. Mas essa é uma caraterística do governador: ele ama o Estado, e está sendo vítima de variáveis que ele não controla”

JLPolítica - Como é que o senhor lida com este empoderamento do cidadão comum dentro de um contexto de sociedade líquida, de que nos fala Zygmunt Bauman? Um cara com um telefone na mão é ele, o meio, a mensagem e a razão. Tem antídoto contra isso? 
SN -
Não há como deter a alvorada. Não tem como lutar contra os avanços tecnológicos. O antídoto seria retardar o desenvolvimento tecnológico, mas isso não é possível e nem seria producente. Significaria retardar o desenvolvimento da sociedade. Não tem como deter algo que está acontecendo e que vai continuar. Cabe a nós tentar nos adaptar. O ser humano foi feito para andar com as pernas, mas a gente está tendo que andar como quem usa a bicicleta, sempre em movimento e equilibrado. Ou seja: está tendo que fazer algo que vai de encontro à sua natureza. Mas não há outra forma, a não ser continuar andando, se equilibrando e sem parar.

JLPolítica - Como é que a sua Comunicação encara o papel dos tribunais radiofônicos, simbolizados pelos programas de rádio matutinos?
SN -
Acho que esse modelo que existe aqui está impregnado na nossa cultura. É algo que foi construído ao longos dos anos e que não cabe à Secom, ao poder público, julgar ou até mesmo ir de encontro a ele. Precisamos trabalhar e nos adaptar a ele. Como? Divulgando nossas ações e fazendo o contraponto no momento em que sentirmos que a informação colocada não está condizente com a realidade. Mas respeitamos esse modelo, que é uma característica muito própria do Estado, onde existe um protagonismo opinativo muito forte dos radialistas e uma participação muito ativa dos ouvintes.

Nasceu em Lorena, São Paulo, em 31 de dezembro de 1971

JLPolítica - Chega-lhe de que maneira a avalanche de sites, blog, vlogs e afins? E esse quantitativo lhe asfixia?
SN -
Na verdade, é mais um desafio para esse momento, porque eles estão cada vez mais democratizados. São instrumentos de fácil acesso ao cidadão, e a gente tem de buscar se adaptar. Não me asfixia. Eu acho que a gente tem que criar as condições de produzir conteúdo pata todos esses modelos e plataformas que se impõem. E não adianta brigar contra isso. A gente tem que dançar conforme a música.

JLPolítica – O senhor se incomoda com a avalanche do ódio que viceja na Comunicação ultimamente?
SN -
Acho que isso é um problema do ser humano. As redes sociais e as mídias digitais amplificam aquilo que está dentro da sociedade. Quando uma mídia social se transforma numa rede social? Quando tem o elemento humano. Então tudo que acontece na rede social é proveniente de quem a alimenta. É a exacerbação do que está dentro do ser humano e infelizmente ele tem coisas boas, positivas e negativas, que também são colocadas pra fora. Hoje nós temos ferramentas e instrumentos, inclusive estatais, no sentido amplo do termo, que começam já a criar mecanismos de trazer isso para uma convivência equilibrada, como as delegacias de crimes cibernéticos, que aqui funcionam muito bem; algumas pessoas ainda não se atentaram para a melhor forma de usar as redes sociais. Eu costumo dizer que algumas pessoas ainda utilizam as redes como se estivessem numa conversa de mesa de bar. E não é. Algumas pessoas aprendem isso de forma tranquila, outras não.

SERVIDOR NÃO PERDE NADA COM O 13º
“Esse projeto veio para permitir que o servidor público receba o 13º na íntegra e sem prejuízo em dezembro, como foi feito em 2015 e em 2016. O governo vai colocar na conta a segunda parcela na íntegra”

JLPolítica - Como o Governo do Estado encarou as declarações apócrifas contra o secretário de Saúde, Almeida Lima, de suposto abuso sexual?
SN -
O secretário tem dado as explicações, em notas e vídeos, e nesse momento acho que ele precisa fazer o que ele está fazendo: vindo a público contestar os fatos. Eu prefiro observar o desenrolar dessas questões para que a gente consiga apurar minimamente o que está acontecendo. 

JLPolítica - Qual o seu conceito para o modelo de divulgação disso? Está correto?
SN -
A denúncia apócrifa é covarde. Porque a pessoa se vale do anonimato para atingir alguém. Isso vale não apenas para esse caso, mas para outros. Vemos diariamente pessoas sendo vítimas desse tipo de denúncias e as redes sociais são um campo muito propenso a isso, onde pessoas com interesses escusos se valem desse anonimato para atacar outras pessoas. Eu acho que no caso das redes sociais, as delegacias têm um papel fundamental em fazer esse trabalho de ajudar a esclarecer essas questões. Porque é muito fácil a pessoa se esconder atrás do anonimato e sair atacando. Mas as vítimas desse processo precisam realmente ter algo que lhes defendam.

É graduado em Comunicação e Propaganda pela Unit

JLPolítica – Qual foi orçamento final com o qual a Secom trabalhou ano passado?
SN -
Para a publicidade, foram R$ 11 milhões. Em 2017, ficou basicamente isso também, e em 2018 teremos um corte de quase R$ 2 milhões no orçamento da Secretaria como um todo. Porque temos a parte de despesa com pessoal, com a pasta, com eventos. O orçamento total chega a R$ 17 milhões.

JLPolítica - Não é muito pouco?
SN -
Sou suspeito para falar, mas acho pouco sim.

JACKSON BARRETO X MICHEL TEMER
“Ora, se a Caixa Econômica, que é o órgão que vai liberar, já fez a análise e aprovou, a Secretaria (do Tesouro) vai fazer a mesma análise e chegará à conclusão natural de que o Estado tem condições. Então, Jackson foi apenas pedir celeridade na análise desse processo”

JLPolítica - Em algum momento, o senhor sentiu algum tipo de preconceito por ter chegado ao topo da Comunicação Social do Estado sem ter sido um desses medalhões da mídia estadual?
SN -
Na verdade, muita gente não entende como eu cheguei até aqui. Mas eu chequei à custa de muito trabalho, não foi de paraquedas. Eu comecei na comunicação em 1992, passei por agências de propaganda, por empresas de assessoria. Passei 10 anos trabalhando numa dessas empresas que atendia a diversos clientes na iniciativa privada e também a órgãos públicos. Então, começando a trabalhar tão cedo, adquiri uma experiência muito grande. E sempre trabalhei muito. Nunca me importei em trabalhar aos sábados, domingos e feriados. Eu estou no Governo de Sergipe há dez anos, entrei como assessor na Secretaria de Estado do Turismo, de lá fui convidado por Carlos Cauê para ir para a Secom, onde entrei como diretor de Projetos, depois de Jornalismo. Fui secretário-adjunto e depois assumi a Secom, em 2014, com o afastamento do secretário Carlos Cauê. Então tenho uma trajetória, por mais que muita gente não a conheça. Não cheguei aqui por simpatia política nem por “quem indica”. Cheguei porque sempre trabalhei muito e porque esse trabalho foi reconhecido pelo governador, a quem sou muito grato. Não detectei nenhum preconceito mais destacável. Se houve, ficou guardado por quem sentiu essa emoção.

Para ele, a Secretaria vai tocando em frente e cumprindo a sua missão nesse terreno arenoso
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