Valdevan Noventa: “Quem ligou meu nome ao PCC deu um tiro no peito e se matou”

Entrevista

Jozailto Lima

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Valdevan Noventa: “Quem ligou meu nome ao PCC deu um tiro no peito e se matou”

Meu lugar político é Sergipe, que é onde eu já tinha um trabalho
8 de março - 8h

Para alguns observadores sergipanos mais avexados e reativos, o deputado federal Valdevan Noventa, PSC, é uma espécie de Tenório Cavalcanti, o Homem da Capa Preta, deputado federal e prefeito de Duque de Caxias de fama violenta no Rio de Janeiro dos anos 1950 e 1960, um alagoano que tinha como símbolo uma azeitada metralhadora chamada Lurdinha, que cuspia fogo e com a qual resolvia os conflitos políticos.

É óbvio que José Valdevan de Jesus Santos, 51 anos, o Valdevan Noventa, se vê no extremo oposto disso tudo - apesar da forma como foi recebido em sua própria terra natal, Sergipe, em 2018, por onde tentou realizar, e conseguiu, o velho sonho de ser deputado federal tentado por duas vezes em São Paulo, onde passou a morar desde que arribou de Sergipe como um retirante no dia 7 de outubro de 1987, aos 18 anos e quatro meses.

Apesar dos 45.472 votos que recebeu, que lhe fez o sétimo entre os oito eleitos para a Câmara Federal, Valdevan Noventa foi rotulado como um forasteiro, comportamento tão comum entre os sergipanos que às vezes arrasta para o centro dessa rejeição até quem é também sergipano, como esse Noventa em questão.

Metido a transigente e com verniz religioso - ele é um membro das Assembleia de Deus -, Valdevan Noventa tira a rejeição por menos e dá dicas de que o lugar dele é, mais do que de fato, aqui. “A gente lamenta muito. Mas me conforta saber que, na verdade, não foram os eleitores ou as pessoas que nos conheceram que agiram assim”, diz ele.

“Foram uma parte da imprensa, até porque não nos conhecia, e os adversários políticos, que acabaram chamando assim (forasteiro) para tentar nos prejudicar, sendo que sou um nascido e criado em Sergipe. Em meus documentos não consta outro Estado. Sou sergipano, nascido em Estância. Me criei entre Estância e Arauá, trabalhando na roça, levando gado de um lado pra outro, sendo chamador de boi, vaqueiro, tirador de leite, sendo motorista - o que você pensar”, diz ele.

Valdevan Noventa dá sinais de que não é apenas um nascido e criado aqui. “Meu lugar político é Sergipe, que é onde eu já tinha um trabalho. Mas, eu só vinha passear aqui. Só que, em 2018, comecei a sofrer com os pedidos, os convites, pela minha liderança e pela vacância de lideranças na Zona Sul do Estado. A novidade era eu”, diz.

Usando a religião como uma bandeira meio mística e de vidências, Valdevan diz que a opção política por “seu Sergipe” lhe apareceu como uma “revelação” num grupo de orações da igreja. “Dentro dessas revelações, os irmãos diziam que o meu projeto político não seria em São Paulo e sim num lugar distante, carente, e eu sabia que esse lugar seria Sergipe”, diz.

É claro que Valdevan Noventa não é portador e nem usuário de nenhuma azeitada metralhadora chamada Lurdinha. Mas a ficha corrida dele nestes 33 anos de São Paulo não é das mais aprazíveis. É pontuada por uma carrada de processos - ele inclusive já esteve preso antes -, mas tudo em decorrência da luta sindical, uma vez que passou a ser o mandachuva do Sindicato dos Trabalhadores de Passageiros de São Paulo, uma das maiores autarquias sindicais do país, da qual é ainda hoje presidente. E, claro, ali a vida não é regada a arroz doce.

De si, esse Valdevan Noventa tem a mais lindinha e fofa das visões - aí, sim, um puro arroz doce. “Sou esse ser humano amigo, irmão. De um coração bondoso, que talvez possa ter alguém para, no Brasil e no mundo, empatar comigo, mas melhor do que eu para ajudar as pessoas, é difícil”, gaba-se.

E é nessa condição que Valdevan acha que, apesar de tudo, fez um bom ano de mandato federal em 2019, onde não caiu como um desavisado neófito, um calouro de peito aberto. Antes disso, ele teve dois mandatos de vereador em Taboão da Serra, na Grande São Paulo, e tentou, por duas vezes, se eleger federal pelo estado paulista. Mas não sucedeu-se bem.

Nesta Entrevista Domingueira, a primeira bem-ancorada que ele concede à mídia de Sergipe de quem esteve sempre distante, descortina-se um Valdevan Noventa bom falante, sem pregas nas ideias e nem na língua. Ele comenta, por exemplo, aberta e longamente, a associação que lhe fazem ao PCC de São Paulo.

Valdevan Noventa conta, na Entrevista, uma intrincada história na qual um chefe de polícia chamado Ivan Jerônimo da Silva, de Taboão, fez de um tudo para lhe atrelar, injustamente, ao PCC de Paraisópolis, em São Paulo, através de um líder chamado Francisco - vale um roteiro de cinema. 

Do processo sucessório de 2018, Valdevan revela que guarda mágoas de figuras que estiveram ao seu lado só na aparência, como o ex-deputado federal André Moura e o prefeito de Estância, Gilson Andrade, em quem ele aponta indícios de traição.

Apesar de ter sido preso 37 dias - ou 888 horas, como ele mesmo contabiliza - pela justiça no pós-eleição, acusado de coi$a$ erradas na prestação de contas da campanha, Valdevan diz que não fraudou nada para obter a eleição.

“Não comprei voto. Quando eu cheguei a ser eleito, no dia 7 de outubro de 2018, foi uma surpresa para muitos que não apostavam em mim. Principalmente para a classe política, aqueles que se achavam os donos do Estado de Sergipe e que pouco me conheciam e que eu também não os conhecia assim dessa forma”, diz.

Valdevan admite que aqueles 37 dias no cárcere lhe foram dolorosos, mas deixaram lições profundas. “Eu aprendi muito e estou aprendendo. Primeiro a gente pensa na família, nos filhos, porque sou muito apegado a eles, e na época tinha duas crianças, minhas filhas gêmeas, e Maria Eduarda, de 6 anos, muito novinhas. Todos os meus filhos vieram para cá - meus irmãos, minha mãe, que foi me visitar na prisão com 70 anos. Dói, porque atinge toda a família, que sabe de fato quem é a pessoa de Valdevan Noventa. A minha família me conhece, sabe quem sou eu, e os de fora não. Então, quem sofre, além de mim, é a família”, diz ele.

José Valdevan de Jesus Santos nasceu no dia 20 de junho de 1969, na cidade Estância. Ele é filho de José Laurindo dos Santos e de Josefa Lourença de Jesus - ela é viva e nunca deixou a cidade de Estância.

Valdevan Noventa: de cobrador de ônibus a líder máximo de um dos maiores sindicatos de trabalhadores de transportes de massas do país
José Valdevan de Jesus Santos nasceu no dia 20 de junho de 1969, na cidade Estância

DAS DIFICULDADES DO COMEÇO DO MANDATO
“Restou talvez a necessidade de mais participação. Porque nós estamos iniciando um mandato e então falta experiência, o que só aos poucos fomos adquirindo. Portanto achamos que precisamos de uma assessoria direta para podermos de fato evoluir no mandato, principalmente com o partido e um link com o Estado”

JLPolítica - O que restou do seu primeiro ano de mandato na Câmara Federal?
Valdevan Noventa -
Restou talvez a necessidade de mais participação. Porque, nós estamos iniciando um mandato e então falta experiência, o que só aos poucos fomos adquirindo. Portanto achamos que precisamos de uma assessoria direta para podermos de fato evoluir no mandato, principalmente com o partido e um link com o Estado.

JLPolítica - O senhor não teve esse assessoramento do PSC?
VN -
Não. Hoje, Valdevan Noventa está isolado dentro do PSC. Acho que faltou isso - a gente ser mais assessorado. Não só aqui em Sergipe, mas também em Brasília.

JLPolítica - Mas o que restou de positivo?
VN -
De positivo, ficaram as amizades que a gente construiu na Câmara, o que facilitou que eu pudesse dar passos importantes. Amigos de outros partidos nos abraçaram. O que eles dizem na Câmara é que eu não faço política e sim amizade lá. Através dessas amizades, a gente conseguiu evoluir e o saldo é positivo.

JLPolítica - O senhor se sente uma pessoa camaradeira, que faz amizade rapidamente?
VN -
Eu acho que não tenha outra não além de mim. Amizade é o que eu mais faço.

JLPolítica – Mas quais foram os passos mais difíceis de serem dados no Congresso na primeira hora?
VN -
Foi exatamente essa falta de uma assessoria do próprio partido, de enxergar que eu sou deputado pelo PSC. Hoje, não tenho um espaço aqui no Estado construído pelo partido. Estou isolado, esquecido. Não sou convidado a participar de nada pelo partido. Não sei nem se realizam reunião ou não. Mesmo o presidente estadual não se encontrando mais no Estado.

Desconfia da traição do ex-deputado federal André Moura e do prefeito de Estância, Gilson Andrade. Ao seu lado na imagem

DO ABANDONO TOTAL DA PARTE DO PSC
“Hoje, não tenho um espaço aqui no Estado construído pelo partido. Estou isolado, esquecido. Não sou convidado a participar de nada pelo partido. Não sei nem se realizam reunião ou não. Mesmo o presidente estadual não se encontrando mais no Estado”

JLPolítica – O senhor admite que na primeira janela o senhor pula fora?
VN -
Não tenha dúvida. Não precisa nem abrir janela. Basta uma pequena fresta.

JLPolítica - Se o senhor tiver que trocar o PSC, será por qual partido?
VN -
Com certeza, pelo PL, o 22.

JLPolítica - O senhor se apega em que para achar que vai ao final do quarto ano como dono efetivo do mandato?
VN -
Eu me apego, primeiramente, à confiança em Deus e, depois, ao meu trabalho. Agora, Deus tem me mostrado as oportunidades. Tem me orientado sabiamente em que caminho devo pisar. Porque você precisa saber de fato onde está pisando, conhecer as figuras que estão ao seu lado. E é isso que vai me alicerçar para chegar ao final do mandato.

JLPolítica – O senhor fez alguma coisa de errado para obter esse mandato?
VN -
Não. Não comprei voto. Quando eu cheguei a ser eleito, no dia 7 de outubro de 2018, foi uma surpresa para muitos que não apostavam em mim. Principalmente para a classe política, aqueles que se achavam os donos do Estado de Sergipe e que pouco me conheciam e que eu também não os conhecia assim dessa forma.

JLPolítica - E se surpreendeu com seus conterrâneos?
VN -
Quando eu vinha passear aqui - e eu sempre vinha -, via aquelas pessoas pacatas, mas não sabia do real sentimento delas. Quando nos convidaram para fazer parte de um partido A ou B, sabiam apenas que eu era uma liderança em militância da Região Sul. Mas talvez apostando que não tínhamos condições de chegar lá. Porque esse quadro político não conhecia de fato meu trabalho de formiguinha, porque nunca fui à imprensa divulgar o que eu fazia.

Na luta pelo comando do Sindicato dos Trabalhadores de Passageiros de São Paulo

EM QUEM SE APEGA PARA ACHAR QUE FICA DEPUTADO
“Eu me apego, primeiramente, à confiança em Deus e, depois, ao meu trabalho. Agora, Deus tem me mostrado as oportunidades. Tem me orientado sabiamente em que caminho devo pisar. Porque você precisa saber de fato onde está pisando, conhecer as figuras que estão ao seu lado”

JLPoltica - Como era, até então, a sua relação com Sergipe até o senhor se estabelecer de fato em Arauá?
VN -
Eu vinha constantemente a Sergipe. Estou há 32 anos em São Paulo e há mais de 20 anos eu passo o Natal, o Ano Novo e a maioria dos feriados prolongados em Sergipe. Hoje, com todos os meus filhos, que são 10, e minha esposa - isso sempre na região de Estância e de Arauá. Esse ano de 2020 foi que eu fiquei uma semana em Aracaju. Então, minha vida é essa, e só quem não me conhece pode até achar que eu sou um forasteiro, mas quem me conhece sabe a realidade e a verdade.

JLPolítica - Foi ingenuidade, trapaça ou mau orientação do senhor fazer tantos depósitos, ainda que de recursos mínimos, na conta de pessoas próximas da sua candidatura?
VN -
Na verdade, quando toquei a minha campanha, não administrei de perto o que estava se fazendo ou deixando de se fazer, porque a minha preocupação era a de buscar o voto. O que mais importava para me eleger. Então, essa retaguarda a gente jogou, talvez, nas mãos de pessoas inexperientes ou despreparadas, e se foi cometido algum ato ilícito, foi por isso. Mas com ordem minha, nada de errado existiu.

JLPolítica - O senhor já havia sido privado da liberdade antes daquela detenção em Sergipe?
VN -
Sim, em 2003, quando houve uma prisão política dos diretores do Sindicato lá em São Paulo - foram 18 diretores e um assessor presos. Eu fui um deles. Eu não tinha sido preso, mas me entreguei à Polícia Federal para responder aos processos que existiam. Fiquei 47 dias detido. Mas não se comprovou nada contra mim e não respondo a nenhum processo nesse sentido.

JLPolítica - Quais as reflexões que o senhor faz para sua vida pessoal daqueles dias no cárcere em Sergipe?
VN -
A maior lição da vida é a de que lá você tem mais tempo para raciocinar sobre as injustiças cometidas com você. O ser humano é medido, às vezes, sem que se acompanhe o esforço, a vida da pessoa, e aí qualquer notícia vira um estardalhaço e acabam te condenando por antecipação sem saber a verdade.

JLPolítica – E qual era verdade neste caso?
VN -
Eu aprendi muito e estou aprendendo. Dessa vez, fiquei 37 dias detido. Foram 888 horas que me doeram muito. Primeiro a gente pensa na família, nos filhos, porque sou muito apegado a eles, e na época tinha duas crianças, minhas filhas gêmeas, e Maria Eduarda, de 6 anos, muito novinhas. Todos os meus filhos vieram para cá - meus irmãos, minha mãe, que foi me visitar na prisão com 70 anos. Dói, porque atinge toda a família, que sabe de fato quem é a pessoa de Valdevan Noventa. A minha família me conhece, sabe quem sou eu, e os de fora não. Então, quem sofre, além de mim, é a família.

Em Brasília, com a bancada sergipana no Congresso Nacional e politicos do Estado

UMA VIDA DIVIDA ENTRE SÃO PAULO E SERGIPE
“Estou há 32 anos em São Paulo e há mais de 20 anos eu passo o Natal, o Ano Novo e a maioria dos feriados prolongados em Sergipe. Hoje, com todos os meus filhos, que são 10, e minha esposa - isso sempre na região de Estância e de Arauá”

JLPolítica - E segundo Valdevan Noventa, quem é Valdevan Noventa?
VN -
Sou esse ser humano amigo, irmão. De um coração bondoso, que talvez possa ter alguém para, no Brasil e no mundo, empatar comigo, mas melhor do que eu para ajudar as pessoas, é difícil.

JLPolítica - Mas o seu mandato é considerado subjudice ainda hoje.
VN -
Sim, ainda está subjudice. Mas eu acredito que até pelo Código Penal vamos conseguir sair dessa questão que estamos respondendo. Ao final, com certeza, seremos inocentados.

JLPolítica - Apesar de ter obtido 45.472 votos, o senhor acha que houve reação inadequada e uma certa aspereza dos sergipanos em relação a sua pessoas política em 2018?
VN -
 Não foi inadequada, porque as pessoas estavam passando a me conhecer. Numa eleição, todo mundo tem o direito de disputar. Eu não sou dono daquela cidade ou daquele povoado, e todo mundo tem o direito de apresentar suas propostas e tentar obter sua vitória. Eu louvo a Deus por essa oportunidade, e através desse povo carente, humilde que se identificou com meus projetos, mesmo sem me conhecer, votou em mim - teve gente que votou sem me conhecer. Algumas pessoas se surpreenderam, porque achavam que eu não seria eleito.

JLPolítica - Por que Sergipe e não São Paulo para a busca de uma mandato a deputados federal?
VN -
Eu disputei duas eleições para deputado federal por São Paulo. Em 2006, eu já era vereador em Taboão da Serra, saí candidato e tive 24.644 votos. Em 2010, tive 25.246 votos. E em 2014 eu não disputei. Fui convidado por diversos partidos, até pelo número de votos, mas me faltou uma condição financeira. Claro que em 2010, eu tinha toda a oportunidade de ser eleito, mas os parceiros com quem eu contava, disseram em 22 de setembro daquele ano que não tinham como ajudar, e eu novamente não fui eleito. Descansei em 2014 e intensifiquei o trabalho aqui em Sergipe, não pensando politicamente. E em 2016, quando veio a eleição municipal e eu tinha um trabalho na região Sul, os prefeitos começaram a pedir o meu apoio. Houve, inclusive, uma disputa por apoio do meu nome na região. E eu acabei contribuindo com a vitória de muitos prefeitos por lá. Montei uma chapa em Arauá, onde o prefeito não tinha a condição de ganhar a eleição, coloquei um sobrinho meu e obtivemos a vitória. Em Estância não foi diferente, assim como em Umbaúba, Itabaianinha, Cristinápolis, Indiaroba.

JLPolítica - Nasce aí a ideia do mandato de deputados federal?
VN -
Isso fez com que eu me enturmasse mais no meio político, porque as pessoas ficavam perguntando se eu me candidataria. Eu faço culto na minha casa na madrugada de sexta para sábado, onde vão uns 20 pastores e umas 50 a 60 pessoas. O culto demora umas 3 a 4 horas e tem as revelações.

Ao centro da imagem, o ministro Dias Tofolli, presidente do STF

A LIÇÃO TIRADA DOS DIAS PRESO
“A maior lição da vida é a de que lá você tem mais tempo para raciocinar sobre as injustiças cometidas com você. O ser humano é medido, às vezes, sem que se acompanhe o esforço, a vida da pessoa, e aí qualquer notícia vira um estardalhaço e acabam te condenando por antecipação sem saber a verdade”

JLPolítica - E que revelações he foram feitas?
VN -
Dentro dessas revelações, os irmãos diziam que o meu projeto político não seria em São Paulo e sim num lugar distante, carente, e eu sabia que esse lugar seria Sergipe. Meu lugar político é Sergipe, que é onde eu já tinha um trabalho. Mas, eu só vinha passear aqui. Só que, em 2018, comecei a sofrer com os pedidos, os convites, pela minha liderança e pela vacância de lideranças na Zona Sul do Estado. A novidade era eu. Então não pensei duas vezes, porque já tinha a revelação dos irmãos de que meu caminho político não seria em São Paulo, tinha o povo me perguntando se eu seria candidato e eu, enxergando essa vacância e minha contribuição com as Prefeituras, pensei que haveria uma chance aqui. Já vim confiante por tudo isso. E eu sempre plantei a semente do bem, sempre fiz um trabalho ligado à igreja, às comunidades carentes. Eu sou da Assembleia de Deus. 

JLPolítica - Como é que os demais dez sergipanos do Congresso Nacional lhe tratam?
VN -
Eu não tenho muita afinidade com dona Maria do Carmo, mas me dou bem com Alessandro Vieira, com Rogério Carvalho. E os deputados federais são todos meus amigos - claro que você tem uma proximidade maior com uns, como tenho com Fábio Henrique, Bosco Costa e Fábio Mitidieri.

JLPolítica - Não foi possível evitar um rompimento político com André Moura?
VN -
Eu nem tentei, porque quem rompeu comigo foi ele. Você é presidente estadual de um partido e nos convida para estar nesse partido, tem toda aquela promessa, todo aquele assédio - e olhe que Geraldo Alckmin me ligou na época para que eu fosse do PSDB, Eduardo Amorim me ligou dizendo que estava na minha fazenda para abonar a ficha a mando dele, mas a gente resolveu abraçar o projeto do PSC. Fiz isso porque via, pelos estudos que havia feito, que André não indo à reeleição nos daria uma condição de ganhar. Eu fui assediado pelo PDT, PT, pelo MDB, mas entendi que o PSC me dava uma condição melhor.

JLPolítica – E não deu?
VN -
Infelizmente, após o prazo de filiação, quando eu não podia ir para outro partido, foi que André revelou que o candidato dele não era eu nem o Pastor Antônio, e sim Gustinho Ribeiro. Ora, o Gustinho era totalmente de outro partido - e isso nos surpreendeu.

JLPolítica - E André então não pede votos para o senhor?
VN -
André começou a apertar os amigos parceiros dele, para quem ele tinha enviado emendas, e sobre quem ele tinha poderes e começou a exigir que os prefeitos caminhassem com Gustinho. Eu tenho prefeitos que se identificavam comigo e que hoje vão ao meu gabinete e admitem que André não os deixou livres.

Em visita ao prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira

MAS, AFINAL, QUEM É VALDEVAN NOVENTA
“Sou esse ser humano amigo, irmão. De um coração bondoso, que talvez possa ter alguém para, no Brasil e no mundo, empatar comigo, mas melhor do que eu para ajudar as pessoas, é difícil”

JLPolítica - O senhor considerou isso uma traição?
VN -
Claro. Uma grande traição. Porque se você é presidente de um partido, é natural que queira eleger alguém do seu partido, até para ter a verba do Fundo Partidário. Na minha frente, falava-se que a coligação elegeria quatro e eu estava entre o terceiro e o quarto, mas quando eu dava as costas, ele dizia que eu seria o sétimo.

JLPolítica - No que terminou acertando...
VN -
Sim, ele acertou. Mas a nossa coligação só elegeu três, e o sétimo se tornou o terceiro.

JLPolítica - Por que o senhor tem Estância como domicílio eleitoral morando em Arauá?
VN -
 Eu, na verdade, fico na Praia das Dunas, em Estância, mas vou pra Arauá, onde tenho uma fazenda e animais. Fico em Estância, em Arauá, depois descanso na casa da praia. Eu tenho três domicílios: Aracaju, Estância e Arauá.

JLPolítica - Quais os reais motivos da sua ruptura política com o prefeito Gilson Andrade, de Estância?
VN -
Não vou dizer que já é ruptura. Mas, felizmente, quando você se elege a deputado federal, você tem lideranças que te apoiam. E Estância foi a cidade em que obtive mais votos - foram 8.225. E você sabe quem de fato veste a camisa, quem caminha, quem está dentro do projeto. E Gilson Andrade não estava. Porque ele dividiu a administração e nenhum secretário dele vestiu a minha camisa. E a gente sabe que quem comanda é o prefeito. Eu consegui conquistar lá cinco vereadores, e Gilson me apoiou apenas pelo que diziam as pesquisas, porque não valeria a pena apoiar alguém que não fosse eleito. Ele tramou com André Moura para se fazer que estava me apoiando. Depois de eleito, não tenho espaço nenhum lá.

JLPolítica – Qual vai ser a sua atuação política na sucessão municipal de Sergipe este ano?
VN -
Estamos trabalhando em diversas cidades, alicerçando realmente nosso mandato e os projetos futuros. Estamos fortalecendo o partido, montando chapas para vereador, encabeçando com prefeito ou vice.

Ao seu lado, Davi Alcolumbre, presidente do Senado

REVELAÇÃO NUM CULTO DE QUE MANDATO ESTAVA AQUI
“Disputei duas eleições para deputado federal por São Paulo. Em 2016, quando veio a eleição municipal e eu tinha um trabalho na região Sul (de Sergipe), prefeitos começaram a pedir o meu apoio. Dentro dessas revelações (num culto), os irmãos diziam que o meu projeto político não seria em São Paulo e sim num lugar distante, carente, e eu sabia que esse lugar seria Sergipe”

JLPolítica - Quais nomes o senhor gostaria de apoiar, sendo do partido ou aliados?
VN -
Em Estância, estamos conversando com Ivan Leite; Gilson ainda quer conversar e Márcio Sousa já conversou com a gente duas ou três vezes. Estamos tentando encontrar um caminho que de fato abrace o nosso projeto no futuro e que amanhã ou depois não esteja somando conosco. Em Umbaúba, tem Humberto Maravilha; Danilo em Itabaianinha; Wagner Silva em Arauá; Rogério Almeida em Pedrinhas; Eraldo em Boquim; Simone em Riachão; Nêga em Cristinápolis; Adinaldo em Indiaroba. Hoje, fechado, temos Adauto Amor em Santa Luzia. Temos participação em todo o Estado, com Dodge em Monte Alegre, Chico em Glória, Marinho em Canindé, Thiago em Dores. Estamos conversando em Carira e em alguns municípios no baixo São Francisco.

JLPolítica - Como é a composição do seu gabinete em Brasília e o senhor teve dificuldade de montá-lo no formato em que se encontra?
VN -
A composição é ótima e não tive dificuldade. Tenho dois sergipanos, Humberto e Isabel. Ambos capacitados. Bruna é a menos experiente, mas é filha de Rita, que hoje trabalha com Maria do Carmo, e ela faz um trabalho brilhantemente. Eu agradeço a Deus por ter colocado essas pessoas no meu caminho.

JLPolítica - Qual tem sido o alcance das suas em emendas ao orçamento da União aprovadas e pagas para os municípios sergipanos.
VN -
Hoje já tem 80% delas realizadas, o que corresponde a praticamente R$ 49 milhões. Fomos beneficiados pelo trânsito que temos lá, porque não sou de falar na tribuna, mas sou articulador. O PL, com quem estou trabalhando em Sergipe, nos ajudou muito e foi a partir dele que conseguimos liberar mais de R$ 15 milhões em emendas, principalmente para a área da saúde. Se eu fosse depender do PSC, não teria chegado nada aqui.

JLPolítica - O que o senhor diria aos que lhe têm, ou lhe tiveram, como a uma forasteiro?
VN -
A gente lamenta muito. Mas me conforta saber que, na verdade, não foram os eleitores ou as pessoas que nos conheceram que agiram assim. Foram uma parte da imprensa, até porque não nos conhecia, e os adversários políticos, que acabaram chamando assim para tentar nos prejudicar, sendo que sou um nascido e criado em Sergipe. Em meus documentos não consta outro Estado. Sou sergipano, nascido em Estância. Me criei entre Estância e Arauá, trabalhando na roça, levando gado de um lado pra outro, sendo chamador de boi, vaqueiro, tirador de leite, sendo motorista - o que você pensar.

JLPolítica - O senhor sai cedo de Sergipe?
VN -
Quando eu completei 18 anos, eu já tinha saído da casa do meu pai, porque comecei a trabalhar aos sete anos. Aos 16 já estava com a coluna cervical sem aguentar e fui trabalhar num supermercado de uma tia na Piçarreira, povoado de Santa Luzia do Itanhy, quase chegando em Umbaúba. Trabalhei dois anos ali, comprei uma passagem e resolvi ir embora para a cidade grande com dois amigos que estavam de passeio aqui e disseram que eu ia arrumar um emprego de servente de pedreiro, porque eu sempre fui bom trabalhador. Fui com esse intuito. Fui de ônibus. Saí daqui no dia 7 de outubro de 1987 e cheguei lá em São Paulo no dia 9, às 11h44. Fui morar em Osasco

Ao seu lado, Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados

DA RELAÇÃO COM OS DEMAIS DEZ DO CONGRESSO
“Eu não tenho muita afinidade com dona Maria do Carmo, mas me dou bem com Alessandro Vieira, com Rogério Carvalho. E os deputados federais são todos meus amigos - claro que você tem uma proximidade maior com uns, como tenho com Fábio Henrique, Bosco Costa e Fábio Mitidieri”

JLPolítica - E encontrou emprego rápido?
VN -
No dia 20 de outubro eu já estava trabalhando no almoxarifado do Banco Bamerindus, ali no Ceasa. Trabalhei seis meses lá. Saí e entrei no Banco Mercantil, também lá no Ceasa, onde trabalhei 11 meses e saí. Foi quando eu trabalhei em algumas empresas como carregador de carreta de andaime, depois numa metalúrgica e depois fui fiscal de loja, na Preçolândia por cerca de 5 meses.

JLPolítica – Quando começa sua atividade no transporte de massas?
VN -
Saí da Preçolândia e no dia 16 de janeiro de 1989 iniciei minha carreira no transporte coletivo da cidade de São Paulo, como cobrador de ônibus, e estou nessa categoria até hoje. No dia 1º de abril deste ano vai fazer 27 anos que estou na mesma empresa, a Campo Belo, onde fui cobrador e logo ganhei a comissão de garagem, passei três anos nessa função e fui eleito secretário-geral do Sindicato.

JLPolítica - A luta sindical lhe garantiu a manutenção de contrato até hoje?
VN -
Sim, até hoje tenho carteira assinada, registrada. Estou apenas afastado. A empresa Campo Belo é uma das maiores de São Paulo.

JLPolítica - Que lógica o senhor vê nos que dizem que o senhor tem ligação com o PCC de São Paulo?
VN -
Não vejo lógica nenhuma e as pessoas precisam é saber o de fato que ocorreu. Saber o que há de verdade nisso. Porque até hoje nunca foi comprovado nada contra mim.

JLPolítica - E o que ocorreu?
VN -
A história é a seguinte: em 2006, quando eu saí candidato a deputado federal por São Paulo, como já contei, na minha cidade tinha dois candidatos a estadual - a mulher do prefeito, que hoje é deputada, Analice Fernandes, e um apoiado pelo investigador de polícia seccional de Taboão da Serra, Ivan Jerônimo da Silva, que mandava mais do que o delegado - eu o conhecia desde que ele era garçom. Ele me chamou na época da campanha e convidou para fazer uma dobradinha com o candidato dele, Caruzo, do MDB. Eu concordei. E toquei a campanha, fiz toda a região. Houve um episódio em que Ivan foi no bairro Macedônia distante de Paraisópolis, e viu a minha campanha lá dentro do Paraisópolis.

No gabinete do governador Belivaldo Chagas. Ele fala em quase R$ 50 milhões de emendas federais em favor de Sergipe carreados por seu mandato

“GILSON TRAMOU COM ANDRÉ PRA FAZER DE CONTA QUE ME APOIAVA”
“Eu consegui conquistar lá cinco vereadores, e Gilson me apoiou apenas pelo que diziam as pesquisas, porque não valeria a pena apoiar alguém que não fosse eleito. Ele tramou com André Moura para fazer de conta que estava me apoiando. Depois de eleito, não tenho espaço nenhum lá”

JLPolítica – E o que eles queriam?VN - Me falaram que eu tinha que ir encontrá-lo para conversar e falei que só podia mais tarde. Então, marcamos para às 19h, na avenida Giovanni Gronchi, em São Paulo. Eu vi Ivan, os dois policiais e o ex-concunhado meu. Ele disse que eu tinha que amarrar o voto. Falei que não voltava atrás na minha palavra. Aí ele disse que até o Comando me faria votar a favor. Ele disse que entraríamos em Paraisópolis, que era ali na esquina, e que conversaríamos com o Francisco, que me pediria para votar a favor. Eu falei-lhe que no meu voto de vereador só mandavam Deus e eu, e que não iria entrar em Paraisópolis coisa alguma. Ele mandou os policiais comigo e o presidente da Câmara os viu e disse que denunciaria ele, e botou os policiais para correr.

JLPolítica - O senhor acha que o seu suposto elo com o PCC é obra e arte de Ivan Jerônimo?
VN -
Sim. Esse cara me perseguiu todo esse tempo, tanto que na minha reeleição eu nem fui pra rua pedir voto, mas pelo trabalho que eu tinha, fui reeleito. No dia da eleição, eu estava dormindo quando uma pessoa chegou comemorando. Ele continuou me perseguindo, até que em 2011 estourou a fraude do IPTU em Taboão da Serra - esse depoimento que estou te dando hoje está nos anais da Assembleia Legislativa de São Paulo, da mesma forma, e está nas sessões da Câmara do município.

JLPolítica - Mas qual é o link entre Ivan e o IPTU?
VN -
Em 2011, tive que tomar uma atitude. E tomei dentro da igreja, no dia 8 de agosto daquele ano. Ou eu enfrentava Ivan, que já vinha me perseguindo há muito tempo, ou eu deixava o meu mandato. Eu fui na igreja e lá o pastor revelou que era para eu tomar uma decisão e disse: “Deus manda te dizer que Ele é contigo nessa guerra e que você não está só”. Eu já estava apetitoso para enfrentá-lo, e com a determinação de Deus e a revelação do pastor, que nem me conhecia, pois era do Rio de Janeiro, me encorajou. Eu acreditei e confiei. Em seguida, cheguei na Câmara lá pelo dia 11 ou 12 de agosto, e tinha um projeto da OAB de São Paulo e um projeto de Taboão estavam que atrasando os demais. Na época, três vereadores haviam sido presos e outras cerca de 20 pessoas por causa do IPTU. E o Ivan dizia que queria prender era a mim, que a sede dele era por mim. Eu subi na tribuna e me pronunciei, falando que eu estava sendo injustiçado por um ditador de nome Ivan. Eu tenho certeza de que ele estava me assistindo e eu o denunciei. Fui depois na Ouvidoria, na Corregedoria, na Casa Civil em Brasília.

JLPolítica - E o que sucedeu com Ivan, enfim?
VN -
O Ivan foi investigado na máfia do IPTU. Eu preenchi as investigações, porque comprovei o que denunciei - eu estava na CPI, enfrentei os vereadores, quando ele articulava para me coagir na Câmara. No fim do ano, Ivan lançou o nome dele a prefeito da cidade, e dizia que queria o PDT, um partido já montado. E começou a pegar o pessoal dele para me procurar e buscar um acordo. Eu sempre falava que não tinha acordo com ele. Em janeiro de 2012, uma nova conversa. Dessa vez, trouxeram uma mala, dizendo que era para ajudar o partido, praticamente comprando meu silêncio. Eu perguntei quanto era ali. Disseram que eram R$ 2 milhões. Aí eu falei que nem se fossem R$ 10 milhões eu não iria me vender, porque a minha dignidade e a minha palavra não têm preço. Pronto: pouco tempo depois, o Ivan teve o sigilo bancário quebrado e se confirmou que ele tinha patrimônio na Flórida, lojas de rolex com produtos roubados e uma casa de mais de R$ 5 milhões. No dia 13 de fevereiro, eu vim para Sergipe, porque dia 15 é o aniversário do meu pai.

JLPolítica – Que história é essa de que num culto preveem a morte de Ivan?
VN -
Nesse dia, eu acordei, minha irmã mais velha falou que as irmãs da igreja queriam ir orar por mim. Nos trancamos no quarto, oramos, e uma das irmãs disse: “É hoje, e não é amanhã, que Deus vai concretizar a sua vitória”. Depois de um tempo, saí do quarto, todo suado - o fogão estava ligado ao lado, aumentando o calor -, e meu telefone tocou. Era o secretário de Planejamento de Taboão da Serra, Marcos Vinicius, chamando para me comunicar que Ivan estava na Livraria Saraiva, na Avenida Faria Lima, onde entrou no banheiro, abriu o botão da camisa e deu um tiro no coração. Ainda foi socorrido, mas morreu. Eu voltei e revelei para as irmãs, que ainda estavam lá, e aí o culto começou novamente, em agradecimento a Deus.

JLPolítica - Então o senhor ficou feliz com o suicídio de Ivan?VN - Eu não. Não tenho felicidade com a tragédia dos outros. Mas aquilo foi a concretização de que Deus existe, porque foi em agosto de 2011 que Ele concretizou minha vitória, porque eu estava sozinho contra Ivan. Enfim, quem ligou meu nome ao PCC deu um tiro no peito e se matou.

Com mãe, dona Josefa Lourença de Jesus, uma moradora de Estância, a atual esposa Lindinalva Marileia de Santana e três da renca de seus 10 filhos

DA “TRAIÇÃO” DE ANDRÉ MOURA AINDA NA CAMPANHA
“André começou a apertar os amigos parceiros dele, para quem ele tinha enviado emendas, e sobre quem ele tinha poderes e começou a exigir que os prefeitos caminhassem com Gustinho. Eu tenho prefeitos que se identificavam comigo e que hoje vão ao meu gabinete e admitem que André não os deixou livres”

JLPolítica – Qual o problema disso?
VN -
Ivan Jerônimo da Silva estranhou e me chamou pruma conversa. Aí ele me perguntou como eu tinha conseguido entrar em Paraisópolis, que é um lugar onde para entrar é preciso consentimento. Eu expliquei que era jogador de futebol de um time de um prefeito da região, que jogava no estádio da cidade sempre com um time convidado. Dentro desse time, me apresentaram um atacante novato chamado Francisco. Ele era o Piauí, o chefe do PCC em Paraisópolis.

JLPolítica - O senhor acertou com ele entrada na grande favela?
VN -
Aconselharam-me a falar com ele para que eu entrasse lá e fizesse campanha - e assim eu fiz. Num dia em que o Ivan teve problema no bairro Macedônia, botaram ele para correr. Aí eu pedi a Francisco a liberação dele. Passou a época da eleição, o Caruzo foi eleito e eu fiquei na suplência. Em 2007, houve a guerra do Comando com as polícias. Os ônibus pararam automaticamente. Não foi uma greve. Foi a empresa que decidiu não botar os ônibus nas ruas. O gerente de uma das empresas me chamou e se queixou da falta de veículos, perguntando se eu conhecia alguém para resolver. Aí eu lembrei de Francisco, de Paraisópolis.

JLPolítica - E pediu a ajuda dele?
VN -
Falei com ele, como líder sindical, que tinha trabalhadores sendo incendiados. Tivemos uma reunião em Paraisópolis, e falei que só lá tinham quatro mil trabalhadores, que eles estavam prejudicando a própria comunidade. Fui direto na mente dele. Ele pegou o telefone ali, falou com alguém e disse que podia liberar a entrada dos ônibus. Eu liguei para o gerente e falei isso. Esse gerente não acreditou - aí botei para falar diretamente com o Francisco. O gerente perguntou quem estava falando e ele respondeu: “É a palavra”. Quando deu 5h da tarde daquele dia, todos os ônibus que estavam nas garagens já estavam nas ruas transportando os passageiros. E eu fiquei com a fama de ser do PCC.

JLPolítica - Mas reinou a paz no transporte?
VN -
Os ônibus rodaram e dias depois dois deles foram incendiados. Aí o mesmo gerente me chamou de novo. Falei com Francisco, e novamente ele resolveu. Pronto: nisso a polícia me ouviu falando com ele. No dia seguinte, fui chamado na delegacia de polícia. Tinha lá os 50 agentes. Eu ainda era vereador. E eles disseram: “Nós estamos na maior guerra e pegamos você falando com um cidadão que a gente está atrás, e o pessoal do Deic quer te ouvir”. Isso era o Ivan com toda a arrogância – nessa hora esqueceu a amizade que tinha comigo, a parceria que fizemos para o candidato a estadual.

JLPolítica – E como o senhor reagiu a isso? Foi ao Deic?
VN -
Aí eu falei: “Então, me diga aqui qual foi o crime que eu cometi”. Falei-lhe que eu tinha resolvido um problema de Estado que ninguém resolveu. E resolvi porque eu falei com quem podia resolver. Aí o Ivan conversou comigo e me mandou embora. Já em 2008, esse mesmo cidadão policial me procurou para que eu votasse, como vereador, a favor das contas do ex-prefeito. Mas eu falei que eu era apalavrado com o prefeito atual, que não tinha como votar contas de um mandato de que não participei. Aí Ivan falou que já tinha quatro votos e precisava apenas do meu. Essa conversa foi no Shopping Morumbi. Aí eu falei que eu seria o quinto a votar a favor e mandei ele ir atrás dos quatro. Ele correu atrás, mas eu sabia que só tinham dois a favor. Eu corri atrás de outro dois, que me disseram que não votariam a favor. No domingo, chagaram na minha casa um ex-concunhado meu e dois policiais. Eram os policiais do Ivan.

Valdevan Noventa divide a vida institucional entre ação na política e na atividade sindical sem perder focos
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